quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

Na minha casa são sempre moedas

A dois dias do Natal o segundo incisivo de macaquita estava prestes a cair, ao contrário de macaquito, todo o processo se tem desenrolado naturalmente, nada de quedas, nada cabeçadas. Cada dente, um milhão de perguntas sobre fadas. De que tamanho será a fada? Não pode ser demasiado pequena ou não aguentará o peso do dente. Será que a fada vem se por acaso dente cair na noite de natal? 
Essa nem eu sei responder e a pergunta dá azo a mais um rol de histórias, invenções e questões pertinentes. Será que o mundo do pai natal se mistura com o mundo das fadas? Ou seja, imaginando que a fada vem ao mesmo tempo que o pai natal será que ambos vão deixar presentes? Afinal é tudo magia, no entanto, não sabemos se eles se conhecem e acima de tudo se se misturam. Cá por casa é uma experiência nova para todos, portanto ninguém arrisca a atar o fio para soltar aquele nico que ainda prende o dente à gengiva. Optamos por esperar pelo dia 25.
Logo pela manhã, a madrinha de macaquito faz as honras e a petiza delira, sorriso de orelha a orelha, ao olhar para ela só me lembro da Fossa das Marianas de tão enorme que está falha. No meio de todo o bulício natalício, quando chega a hora de ir dormir esqueço-me completamente do dente, ela não! Aparece-me de manhã desconsolada com o dente na mão. Lá invento que a fada não fez a troca visto que a tia Maria se foi deitar ao pé dela e as fadas não trocam dentes com adultos presentes. Concordamos que o melhor é levar o dente para casa dos avós e experimentar a colocar de novo debaixo da almofada.
Ligo à noite para falar com os dois, quando chega a vez dela:
-Olha mamã, já sei o nome da fada. - diz-me entusiasmada.
-Fada? Qual fada? - pergunto eu sem me lembrar de toda a confusão anterior.
-A fada dos dentes. Chama-se Moragui. - pronuncia a palavra como sendo aguda, acentuando o "gui".
-Moragui? Como é que sabes?
-A fada escreveu o nome dela.
-Escreveu onde? - pergunto cada vez mais confusa e a pensar que parvoíce teria o meu pai inventado desta vez, visto que ele consegue ser pior que eu no que toca a inventar histórias.
-Na nota que me deixou. Ela levou o dente e deixou uma nota de 5€ mas assinou o nome dela!




segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Querido Pai Natal...

Macaquita resolveu deixar um recado ao Pai Natal antes de partir de férias para casa dos avós, não vá dar-se o caso de ele chegar aqui e dar com o nariz na porta do recuperador (vulgo lareira).
(Não sei se lhe deixe também um copinho de leite e umas bolachinhas pela viagem perdida, se lhe deixe outra missiva a dizer que, caso ainda tenha combustível para as renas, vale bem o esforço da viagem já que na outra casa há azevias de grão.)


A antecedência com que a garota escreveu o recado leva-me a crer que tem muita fé em si própria, talvez lhe refira oportunamente  todas as vezes que se portou mal desde o dia 8 ou então enumero apenas as 5 mais flagrantes do resto do ano...

sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

Ser loira... #post 52361845253365

Macaquita teve a sua estreia na orquestra de cordas, apesar da tenra idade dos músicos, a coisa até correu muito bem. Tirei um montão de fotos e partilhei duas, uma pessoa muito querida dos dois mas especialmente especial de macaquito, comentou "Falta o acordeonista." Enquanto respondia, ria-me dos comentários e macaquita pergunta porque é que me estava a rir e eu mostro-lhe o comentário.
-Falta o quê?
-O acordeonista. -respondo achando que ela não tinha conseguido ler. 
-O quê?
-A sério, macaquita?! Quem é o acordeonista?
-O que acorda as cordas????

quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Eu já tinha dito que ele fala muitas línguas mas e sotaques?!

Nos últimos dias, quando vou buscar macaquitos ao ATL, tenho encontrado uma mãe que não conheço, não sei o nome mas com quem sou sempre "obrigada" a trocar umas palavras de cortesia devido à empatia que macaquito sente por todas as pessoas adultas que lhe dêem dois dedos de conversa. Hoje, mais uma vez, já vinhamos a chegar ao carro quando macaquito se aproxima dela.
-Ah, olá mãe do X, como está tudo a correr na vossa casa?
-Oi, tudo bem? Está tudo bem na nossa casa e na sua casa? - responde-lhe a senhora meio espantada, meio divertida. Fala com o sotaque brasileiro que percebo pela primeira vez.
-Está tudo bem. Sabe? A mãe da Y também é brasileira. - diz ele, talvez achando que o Brasil é uma pequena aldeia e que quem de lá vem tem obrigatoriamente de se conhecer.
-Quem? Não tou vendo quem seja. - responde-lhe a senhora delicadamente mas claramente sem perceber o intuito da conversa que no fundo não tem objectivo nenhum, além da conversa da treta. Eu tento explicar e ela afinal até sabe.
-Ah, já sei de quem você tá falando. Aquela mãe da menina moreninha...
-Sim, sim, é essa. -diz macaquito -Vá até amanhã, uma noite descansada.
Já com uma perna dentro do carro, grita para a senhora com um sotaque brasileiro irrepreensível.
-Mãe do X, você é muito especial! - e de seguida olha para mim - Vês mãe, falei brasileiro.
-Pois foi filho, falaste mesmo... 
Não fosse já de noite e até teria conseguido perceber quem ficou mais ruborizada se eu, se a senhora.


segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

TV vs Realidade

Macaquita filmou um anúncio de publicidade, quando foi gravar não contámos a quase ninguém, incluindo macaquito. Hoje vimos na TV pela primeira vez, macaquito encheu a irmã de elogios. Passado uma meia hora, sozinho comigo puxou o assunto.
-Mas gostaste? A mana esteve bem não achas?
-Sim, sim. Mas porque é que ela foi abraçar aquela senhora? Ela nem a conhece!

quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Mãe de dois

Tenho tanto em mim, tantas coisas para te dar e o tempo escasseia ou talvez passe a correr. Se pudesse, ou soubesse como, mandava prolongar os dias, apenas para te dar mais tempo, tempo que não tenho e que sei que te falta. Dois dias, souberam a pouco, mesmo que por momentos tivéssemos parado o tempo. Obrigo-te a crescer depressa demais, sei que o vou lamentar um dia mas sei que há-de sempre haver um tempo, em que o meu tempo é todo teu. Valha-nos este amor enorme, que pára os ponteiros do relógio, regressamos a um passado que nunca tivemos e somos mãe e filha no singular.


terça-feira, 21 de novembro de 2017

Composição sem título

Era uma vez um urso pardo corajoso que vivia numa casa cheia de ursos medrosos. Um dia ia a passear e viu um rapaz pendurado na varanda.
-Socorro! Os cavalos estão a atacar.- gritou o rapaz.
-Vou já salvar-te. -disse o urso.
O urso repara numa girafa que vai a passar, abanou-a com a pata e ela fica zangada:
-Urso, por que é que fizeste isso?
-Não te queria assustar, depressa, traz-me aquele trampolim. - diz o urso para a girafa.
O urso põe o trampolim debaixo da janela e diz:
-Podes saltar, eu estou aqui.
Ele salta, bate no trampolim e cai nos braços da mãe que vinha a chegar da França.
O urso salvou o dia.
FIM





Como poderão ver pelas imagens, este é um trabalho onde é suposto organizar ideias antes de iniciar a composição. Tendo em conta a confusão que vai naquela cabeça e o facto de ele não ter pensado 10 segundos sequer para cada frase antes de começar a escrever o texto, acho que merece um 20 pela forma como conseguiu interligar todos os personagens e a missão em si.
E o que nos divertimos enquanto o fazia, ele escrevia as falas e depois "obrigava-me" a repeti-las em tom teatral para depois nos rirmos os dois à gargalhada. 
Há trabalhos de casa que são gratificantes mesmo que nos roubem meia tarde de um fim de semana. 


domingo, 12 de novembro de 2017




Às vezes tenho saudades, arranja-se um bocadinho. Outras vezes apetece-me fugir a sete pés, faz-se um esforço. Sou de carne e osso, o que hoje é um salto no escuro, amanhã é uma réstia de luz no fim de um dia de inverno. Ontem apetecia-me estar aí, hoje agradeço estar de volta a casa.

domingo, 5 de novembro de 2017

E vão 3

Entrei na cama de mansinho, sempre que estamos sozinhas muda-se de armas e bagagens para o meu aconchego e na sua bagagem levava o seu terceiro dente e uma pequena fada em papel que desenhou e arrumou meticulosamente debaixo da almofada. No silêncio apenas ouço a sua respiração pesada que me dá a confiança para fazer a troca e perpetuar o ritual de magia que ainda lhe preenche os sonhos.
De manhã sou bombardeada com as perguntas de sempre.
"Viste a fada?"
"Ela levou o desenho, achas que gostou?"
"As fadas levam os dentes para comer ou transformam-nos em estrelas?"
"Os teus dentes ainda estão no céu como os meus ou já desapareceram?"
"As estrelas que são dentes, são como o sol?"
Não tenho a lição bem estudada, invento respostas à medida que as perguntas surgem, por isso nunca dou duas vezes a mesma resposta, não obstante, ela acredita piamente em todas elas, mesmo as mais atabalhoadas  e eu comovo-me com essa ingenuidade.
Vou continuar a povoar os sonhos deles de magia e histórias da carochinha, mesmo que mal contadas e com pormenores dúbios, por aqui vão existir fadas, pais natal e duendes, renas coxas que mudam de nome a cada ano, coelhos falantes e dedos que adivinham os seus disparates até que tenham 20 anos, ou talvez menos... E eu vou continuar a acreditar que eles serão sempre meus até quando me dizem em resposta a um mimo " ahhhhhh, eu já não sou bebé!"


quinta-feira, 2 de novembro de 2017

Ele não come doces

Nem bolos, por causa das intolerâncias alimentares mas cumprindo a tradição lá foi com a irmã pedir os bolinhos pela manhã. A aldeia é grande mas eles vão sozinhos pois não saem da rua onde temos a casa, vizinho sim, vizinho não, um ou outro familiar até que chegaram à casa de uma prima com cerca de 90 anos.
"Bolinhos, bolinhos, à porta dos santinhos"
-Oh, que pena, não tenho bolinhos mas tomem lá um dinheiro.
-Dinheiro? Não é para dar dinheiro, hoje é dia de bolinhos.
E voltaram para casa de bolsos vazios mas com "umas bolachas tontas" na saca como a tia fez questão de nos vir contar. 


sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Eu nem sabia que ele era bombeiro

 Tinha menos de uma hora para uma pequena lista de compras, entre ir buscar macaquito e posteriormente a irmã, tempo mais que suficiente se não me perdesse à procura das prateleiras ou de macaquito, por isso preparei-o ainda no carro.
-Olha, vamos ali fazer umas compras mas não podes fugir de mim, nem fazer disparates.
-Sim mas temos de pagar na caixa número 6, está bem?
-Sim, tudo bem.
Entrámos no supermercado e ele diz-me logo num tom demasiado dramático.
-A caixa 6 está fechada, o que vai ser de nós?
Comecei as compras e ele sempre a reclamar, já estávamos de saída e ouve-se nos altifalantes.
"Estimados clientes, a caixa número 6 vai abrir..."
-Olha mãe, a caixa 6 vai abrir, podemos ir para lá? Podemos?
-Sim, vai andando que eu vou só buscar mais uma coisa.
Entre ir e vir, juro que não demorei mais de 30 segundos
"Estimado clientes a caixa número 6 vai encerrar..."
A cara dele dividia-se entre a estupefacção e o desânimo. Escolho outra fila e encontro a professora dele do primeiro ano, que me dizia que já se vinha a rir porque já o tinha ouvido na outra ponta da loja. Enquanto esperávamos vez, conversámos um pouco e ele aproveitou para se pisgar para o lado de fora das caixas. Dirigi-se à caixa 5 e faz um inquérito ao funcionário sobre o porquê de não estar a caixa 6 aberta, isto claro, recheado de sugestões de funcionamento da própria superfície comercial. O rapaz, cheio de boa vontade e provavelmente farto de o ouvir diz-lhe assim:
-Olha, ficas responsável pela caixa número 6. Vens para aqui trabalhar e a caixa 6 é tua.
Ele corre até ao pé de mim.
-Mãe, ouviste? O senhor disse que eu sou responsável pela caixa 6, por isso, vais buscar a mana e depois vens-me cá buscar.
-Claro que sim, sem problema mas se ficares, tens de fazer o turno completo, por isso, só te venho buscar amanhã de manhã. - com filhos deste calibre tem de se ter destreza mental e argumentos prontos na ponta da língua.
-Ah! Ok...-(e agora o que é que faço??)
Corre de novo para a caixa 5 e diz muito depressa.
-Olhe senhor, eu não posso ficar porque a minha mãe está com um bocadinho de pressa mas amanhã de manhã venho cá assinar contrato!
O silêncio das pessoas que estavam todas atentas à conversa, transformou-se em gargalhada. Ele corre de novo para mim.
-Mãe, mãe, amanhã venho cá assinar contrato mas tens de passar nos bombeiros e dizer que eu já não posso trabalhar mais para eles.


quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Isto não é um blog de culinária

Mas deixo-vos a receita dos "croquetes da avó", um pedido tão querido na caixa de comentários que não podia deixar de satisfazer. Não me responsabilizo pela vossa saúde, posso afirmar que em 40 anos, muito poucas (dá para contar pelos dedos) foram as refeições que desfrutei, feitas pela minha mãe. Já macaquito conseguiu o impossível, fez com que a avó passasse a porta da cozinha sem ser para comer, podem não acreditar mas isso é um feito incrível.

Ingredientes:

200 gr de carne (pode-se aproveitar sobras de uma refeição, porco, galinha, coelho, etc)

3 colheres de sopa de azeite
1 ou 2 dentes de alho grandes
1 folha de louro,
1 cebola muito bem picada,
60 gr de maizena
mais ou menos 2 dl de água
2 ovos
um pouco de tomate pelado
sal q.b,
pimenta q.b, ou um pouco de noz moscada,
farinha de mandioca, para substituir o pão ralado


Preparação:
Refoga-se o azeite, alho, cebola e louro, até a cebola alourar, junta-se o tomate e deixa-se refogar um pouco mais. De seguida junta-se a maizena desfeita na água e mexe-se sempre em lume brando até se descolar do fundo do tacho. Entretanto, junta-se a carne salteada, o sal e a pimenta (ou noz moscada) e mexe-se 2 ou 3 minutos. Retira-se do lume e tritura-se um pouco caso seja necessário, junta-se 1 ovo e mexe-se muito bem. Não vai mais ao lume, deixa-se arrefecer, moldam-se os croquetes, passam-se pelo outro ovo batido e de seguida na farinha de mandioca. Fritam-se em óleo ou azeite bem quente e levam-se para longe de macaquito ou correm o sério risco de não os chegarem a provar.

terça-feira, 17 de outubro de 2017

O melhor da festa? Foram os croquetes!

Como macaquito não gosta de doces, faço sempre uns quantos salgados que ele também possa comer e desta vez a avó, que não gosta de desiludir, experimentou uma receita nova de croquetes com farinha de mandioca que fez as delícias do petiz. Assim que os provou, agarrou-se com unhas e dentes (literalmente) ao prato e comeu uns quantos seguidos. No entanto, a dada altura  decidiu, por sua iniciativa, que tinha de partilhar os seus maravilhosos croquetes com as outras pessoas para que toda a gente soubesse o quanto eram saborosos. Então pegou num e deu a provar a um amigo, à primeira trinca retirou delicadamente o croquete da mão do conviva e comeu o restante. De seguida fez o mesmo com outro convidado e assim continuou até que não restasse nenhum. Podem chamar-lhe ganância ou gula, eu acho que só tenho de lhe explicar melhor o conceito de partilha.

sábado, 14 de outubro de 2017

Olha, uma década!

Dez anos passaram, como que um sopro, dez anos. Duas mãos, todos os dedos, agora contamos todos os dedos. Os mesmos que entrelaças nos meus, quando tens medo ou quando estamos sozinhos, os dedos que me ofereces quando te viras de costas porque queres mesmo dormir. Agora já não tens dedos nas mãos para juntar mas terás sempre as minhas duas mãos para te agarrar. E quando me falharem as mãos, dar-te-ei os braços e se esses alguma vez me falharem, tens o todo um corpo onde te aninhar, por maior que sejas, caberás sempre no meu colo. Estás um crescido, estamos TODOS de parabéns.

quinta-feira, 5 de outubro de 2017

Se o Outono fosse meu *


As árvores erguer-se-iam até ao céu imponentes e rasgariam o azul em tons de verde,


 os cabelos enfeitar-se-iam de folhas numa coreografia dourada e laranja


e as camas seriam feitas de chão de terra morna com restos de Verão.


Se o Outono fosse meu, emoldurava o amor em cortinas de folhas vermelhas



e trocaria galochas por pés despidos que se amansam em folhas secas.


Se o Outono fosse meu trocava TPC's por espadas de pau e partiríamos em busca de castelos perdidos no meio da floresta.






*Movimento outonal começado pela Mia e seguido pelo Impontual, Outro Ente e Flor

Aquele momento...

Em que não sabes se hás de rir ou chorar porque a tua filha te pergunta "Ó mãe, por que é que não és pirosa?" e percebes que não é, de todo, um elogio.

terça-feira, 3 de outubro de 2017

Parental advisory

Quando pensarem em inscrever as vossas crias numa qualquer actividade musical, lembrem-se que posteriormente terão de estudar com eles, pensem que diariamente terão direito a níveis de poluição sonora ao nível do trânsito em hora de ponta. 
-Então mamã, está bom?
-Tu não te ouves?
-Simmmmm!
-E achas que está bom?
-Eu acho que toquei bem...
-É melhor tocares tudo outra vez, se não te enganares podes parar por hoje.
E por muita vontade que tenham de dizer "isso está uma bosta!", vão dizer "por hoje está bom mas amanhã tens de estudar mais um bocadinho". 


O consolo? O consolo é que o outro ainda não trouxe o acordeão para estudar em casa.

domingo, 24 de setembro de 2017

Nunca passarei da cepa torta

Enquanto eu passava a ferro, ele brincava no chão com carrinhos, do nada diz-me isto.
-Sabes mãe, alguém me disse que tu és linda. - pousei imediatamente o ferro, senti o meu ego crescer e não me contive.
-Aí sim? E quem é que te disse isso?
-Olha, um abacate!

sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Valha-me Deus!

-Mãe, posso ser rosada?
-Rosada?
-Sim, se eu for rosada posso ter mais irmãos, não é?
-Mas rosada como? Não estou a perceber.
-Aiiii, aquela coisa de pôr água na cabeça e depois ser irmã de toda a gente. - diz já meio esbaforida e a falar muito depressa.
-Ahahahahha, a confusão que vai nessa cabeça. Não é rosada, é baptizada e diz-se rezar, não rosar.
-Mas posso,mãe? Ser rezada ou baptizada ou lá o que é isso.
-Podes, quando cresceres e conseguires perceber tudo o que isso implica. Mas uma coisa te garanto, ser baptizada não te vai dar direito a ter mais irmãos. 

segunda-feira, 18 de setembro de 2017

9X9

Apesar da ansiedade com que esperava pelo primeiro dia de aulas, o querer rever o amigo F., e matar saudades das professoras, eu já sabia o que estava para vir e claro que assim que chegou a casa, chegou com ele a "dor de barriga". A muito custo lá o convenci que teria de voltar de tarde, que era só mais um bocadinho e que mal daria pelo tempo passar. Andamos nisto desde quarta-feira, de manhã vai relativamente tranquilo mas a hora de almoço é um carrossel de emoções para ele e obviamente para mim. Sei que ainda vai demorar algum tempo a entrar na rotina e que até lá o desafio é diário, encho-me de argumentos bacocos, encho-o de mimos e abraços mas nada do que faço parece suficiente para o acalmar. Hoje ao deitar a derradeira tentativa:
-Mamã, amanhã não me obrigues a ir para a escola.
-Claro que não, eu não obrigo ninguém a ir para a escola.
-Então posso ficar contigo em casa?
-Claro mas temos de arranjar qualquer coisa que possamos fazer os dois.
-Olha, ficamos os dois a trabalhar, eu estudo contigo.
-Tudo bem, então amanhã começamos pelas tabuadas que eu acho que já não te lembras muito bem.
...

...

...

-Afinal acho melhor ir à escola, não quero que a professora sinta a minha falta.

quinta-feira, 14 de setembro de 2017

Continuo com esperança

-Mãeeeeeee?
-Sim?!
-Os animais vão ao veterinário para nascer o pintainho?
-Ahahahahahahahah
-Que é?

quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Ao primeiro olhar, quando trocámos um bom dia e um beijo, detectei-te uma ruga, logo ali, no canto do olho mesmo por cima daquela mais pequenina do ano passado. Devias franzir menos a testa, os amargos que te assolam têm tanto de incoerentes como de injustos, a vida tem-te sido madrasta, filha da puta mesmo, isso não é culpa de nenhum de nós e por isso devias franzir menos a testa. Já não sei ser gentil, já não sei consolar-te, já não consigo ser a tua melhor amiga, nem absorver as tuas dores, quando tudo o que queria era ter-te pequenino e poder embalar-te no colo, soprar-te os arranhões e dar-te outros olhos para poderes ver a vida, mesmo esta, filha da puta, da mesma forma que eu vejo. Conhecia-te gentil e inseguro, meigo e parco de palavras e intensamente divertido, sinto falta disso, sei que a vida, essa, a filha da puta, escondeu o melhor de ti mas também sei que não o levou, consigo vislumbrá-lo nos teus olhos quando brincas com os teus filhos. 
Espero que a solidão nos teus silêncios encontre companheira junto de mim, espero que os dias te sejam mais gentis, espero saber o que fazer e dizer para que te sintas mais feliz, espero tudo de ti que da filha da puta da vida já não espero grande coisa. Espero que franzas menos a testa que daqui a um ano não te quero contar outra ruga.

domingo, 10 de setembro de 2017

Mal não há-de fazer

Enquanto eles brincavam aproveitei para passar a ferro na sala, quilos de roupa acumulada que parecia nunca mais acabar, chegou-se a hora de jantar e obviamente ainda não tinha terminado. Depois do jantar, mudei-me para a cozinha para terminar de ver o Telejornal enquanto eles viam um pouco de desenhos animados. A dada altura apercebo-me que precisava de reabastecer o ferro de água.
-Macaquita, trazes-me esse copo que está ao lado da televisão? Com cuidado para não entornares.
-Entornar o quê? Não tem nada. - diz-me ela com um ar surpreendido da porta da sala, mirando o copo.
-Eu não acredito!!! Macaquito, tu bebeste a água deste copo? - pergunto eu meio incrédula.
-Mas eu tinha taaaaaaaaaaaaaanta sede mamã!

Meio litro de água destilada, senhores!


quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Telecomandar a vida

Não sou muito preocupada em ter a casa toda arrumada, aliás, isso só acontece de muito em muito tempo mas se há alguma coisa que detesto são sapatos fora do sítio. Macaquita é useira e vezeira em deixá-los bem no meio da sala, já ele assim que se descalça vai arrumá-los no sítio certo. As férias foram madrastas em muitas rotinas e alguns (dos bons) hábitos já incutidos ficaram algures perdidos na casa dos avós. Hoje, quando chegámos a casa, eles foram para a sala brincar e quando dou por ela tenho uns ténis e uns chinelos de praia, ambos de macaquito, espalhados pela sala. Percebi pela reacção dele, assim que lhe pedi que fosse arrumar, que iria dar direito a uma birra enorme de tão feliz que estava com o carro telecomandado. Então resolvi improvisar:



Fosse eu tão capaz a gerir as minhas próprias frustrações como sou com as dele e tenho a certeza que seria bem mais feliz!

terça-feira, 29 de agosto de 2017

Derraquê??

Toda uma expressão ganha um novo sentido quando macaquita se sai com esta:
-Não chores sobre o leite do Renato!

sexta-feira, 25 de agosto de 2017

Sisuda

 Encostada no balcão da cozinha, aguardava que a máquina de café ligasse, enquanto ele e o pai terminavam de almoçar.
-Mamã, que é que se passa contigo hoje? Estás com um ar estranho.
-Hoje? Estive a manhã toda na macacada contigo. Porque é que estou estranha?
-Essa cara não está laroca! - desmanchei a cara séria e larguei-me a rir com a resposta dele.
-Vês? Muito melhor, agora já estás laroca outra vez!

terça-feira, 22 de agosto de 2017

De volta à parvoíce

Voltávamos a casa no domingo, eu e macaquito, ali vínhamos nós nas habituais e intermináveis conversas a que se permite meia hora de viagem, de repente e vindo do nada lembrou-se de me perguntar que dia de Agosto era, disse-lhe que era dia 20 e entrou num pranto. O seu amigo D. tinha feito anos no dia 14 e ele não lhe tinha dado os parabéns (ainda fico estupefacta com esta capacidade de decorar números, datas e acontecimentos que passam ao lado da maioria  das pessoas). Tentei acalmá-lo dizendo-lhe que não fazia mal, que quando estivesse com ele apenas teria de lhe dar um abraço e dizer que se tinha lembrado. Fez-me prometer que no dia seguinte iríamos visitar o amigo ao ATL que ambos frequentaram durante muito tempo, assenti mas expliquei que era provável que alguns amigos não estivessem lá por ser Agosto.
Segunda feira de manhã, mal tinha acordado e já perguntava quando íamos, foi isto o dia todo até que lhe fiz a vontade. Pegou na sua pequena guitarra com o intuito de cantar os parabéns ao D. assim que chegasse.
Como tinha previsto os amigos mais velhos não estavam e o D. também não, brincou com os mais pequenos e matou saudades dos triciclos e das educadoras. Voltou a casa feliz e menos preocupado com a sua "falta".
Já à noite, saiu-se com esta.

A capacidade que tem de imitar na perfeição as pessoas na forma de falar, os sotaques, os trejeitos... só para quem conhece mas faz-me rir a bom rir.

quarta-feira, 9 de agosto de 2017

Outra vez...

Enquanto isto passava na televisão, macaquita pergunta:


-Mãe, podemos ver isto no cinema?
-Isto o quê? - pergunto eu que não estava a prestar atenção à televisão.
-Este filme, dos "sem dentes".
-Dos quê?! Ahahahahahhahahahhahahahha




(Antes que me acusem, eu já a levei ao otorrino porque ouve uma altura em que achava que a miúda era surda e ela ouve perfeitamente bem, o problema está mesmo no "cébro".)

terça-feira, 8 de agosto de 2017

Ufa!

Quando vamos ao parque, um dos passatempos preferidos de macaquito é espantar os pombos que por ali andam, e quando digo andam é no sentido mais literal porque ele não dá hipótese que nenhum pombo pouse enquanto ele estiver por ali. Cansada de esperar por ele, que não parava de correr para trás para enxotar cada um dos bichos, fui andando devagar até à ponta da relva. A dada altura e como ele se recusava em acompanhar-me, digo-lhe de longe:
-Se eu fosse pombo mordia-te. - nesse momento, uma senhora que caminhava na minha direcção e se encontrava exactamente a meia distância de cada um de nós, olha para mim com um olhar espantado e um sorriso amarelo. Eu, ao perceber a confusão na cabeça dela, chamo macaquito pelo nome. Ela olha para trás, vê o petiz, o nó desfaz-se no cérebro dela, faz um sorriso alargado e um ar de alívio.

sexta-feira, 4 de agosto de 2017

No seguimento do post anterior

Deixei-os a tomar o pequeno-almoço e fui arrumar os quartos, eles conversavam animados na cozinha e eu ria-me dos disparates que saíam à velocidade da luz da boca de macaquito, macaquita gargalhava até que...
-Eu amo a E. mas ela já tem o R.
-Eu não acredito que tu disseste isso! 
Nem eu, nem eu, pensei cá com os meus botões.

Máquina do tempo

Talvez já vos tenha contado que macaquito gosta muito de loiras, ele tem particular bom gosto com mulheres mas as loiras são e serão sempre as suas preferidas. Esta semana pediu-me para voltar para casa pois tinha muitas saudades da sua cama e quando chegou pediu-me para ir ao café que frequentamos habitualmente pois queria ir ver os amigos que trabalham no café e a E., loira claro e muito muito bonita (e adulta, devo ressalvar).
Contou-me depois uma amiga que macaquito, fixando a E. de longe, lhe disse:
-Sabes B. gostava de ter uma máquina do tempo.
-Para seres mais crescido? - perguntou ela adivinhando-lhe a intenção.
-Para concretizar o meu objectivo!

segunda-feira, 31 de julho de 2017

domingo, 30 de julho de 2017

Algodão doce e palavras

Nunca saio de coração a abanar, os mimos do fim de semana preenchem-me as faltas da semana, as saudades que me consomem os dias, desvanecem-se ao primeiro abraço. Ouço-lhes as gargalhadas e colecciono sorrisos, não descuro mazelas irrelevantes, opto por sará-las com beijos na testa ao invés de Betadine. Volto a casa de barriga cheia, importa saber que por mil motivos que tenha para me sentir infeliz, o cheiro doce dos seus cabelos, os olhos grandes cheios de sorrisos e o aperto dos braços são razões de sobra para descurar  as faltas da vida. Adormeço ao domingo como se tivesse 5 anos e tivesse acabado de receber uma caixa de caramelos, amanhã começam os amargos de boca.

terça-feira, 25 de julho de 2017

Macaquita é um cromo... dos difíceis!

Enquanto lia a capa de um livro.
-Porto Editora... o que é porto Editora mamã?
-É a loja que faz os livros.
-É uma fábrica de livros?
-Não é bem,. É onde decidem o que vai ser feito, os desenhos, os textos, as capas, depois os livros vão para a fábrica para serem impressos.
-Pensava que era um senhor que fazia os bonecos à mão e depois colava as páginas. Eu já vi fazer isso.
-Sim, antigamente os livros eram feitos à mão, hoje em dia são feitos em fábricas que se chamam tipografias.
-E no Inverno?


Hâ?!

segunda-feira, 24 de julho de 2017

Fim de semana de festa, literalmente

Ou quando uma festa de aniversário se converte num acampamento.
Numa casa de 4 quartos, 3 camas de casal e uma de solteiro, ou seja, 7 lugares deitados, consegui  pôr 9 crianças e 3 adultos a dormir confortavelmente. Com planos para 5 a logística foi complicada mas nada que colchões no chão e muita boa vontade não resolvam em 5 minutos. Adormeceram já passava da uma da manhã, após uma tarde de piscina, terra nos pés, bicicletas e muita brincadeira.. 7 e pouco, os primeiros começaram a dar sinal de vida, pelas 9 da manhã reinava a confusão, entre torradas e pães de leite, sumos e leite com chocolate. Roupa por todo o lado, fatos de banho e chinelos, toalhas, protector solar e pelas 10 da manhã a piscina estava lotada. Antes do almoço, chegam os reforços do babysitting, os avós oficiais dos meus que se converteram nos avós emprestados de todos os outros, panela de sopa, tacho de arroz e muita carne grelhada. Os adultos começam finalmente a comer e metade da canalha já está de molho de novo. O fim do domingo chegou com uma piscina preta, um bando de putos sujos, torrados e felizes e ainda a certeza de algo que já sabia, os rapazes só falam connosco quando querem comer, as miúdas são umas chatas, amuam umas com as outras por coisas sem jeito nenhum e fazem muitas queixinhas. Pela primeira vez em anos, não tive de congelar sobras. Começámos a festa de aniversário na sexta, terminámos no domingo, fica o aviso:
Quando se começarem a casar, nem os ciganos nos batem!



segunda-feira, 17 de julho de 2017

Com um dia de atraso, o amor de uma vida

Venho aqui uma vez por ano para te dizer por palavras o quanto te amo, nos outros trezentos e tal digo-te com beijos, abraços e ralhetes. Passaram já sete anos e continuo a amar a tua pirosice, os teus cor-de-rosa com brilhantes, os laivos de diva e até o mau feitio ao acordar. Nada podia ser mais generoso e honesto que o nosso amor pois apesar de todos os arrufos entre nós, ainda o fervedor está quente e já me enrolaste os braços à cintura e eu devolvo-te o consolo no mesmo instante. Aproveitas todas as oportunidades para me fazeres perceber que a atenção que vos dou, nem sempre está bem distribuída e apesar de entenderes que dificilmente ganharás, fazes questão de mostrar que nunca baixarás os braços na tua luta quixoteana pela supremacia do meu tempo.
Sei tudo do teu sorriso, percebo a lágrima que ainda não te assomou o olho ou o disparate escondido debaixo de um tapete, conheço-te cada gesto e cansa-me a tua ingenuidade disparada em mil perguntas seguidas mas tenho a certeza que me estavas destinada porque mesmo quando estás a dez segundos de mim, sinto saudades apenas porque sim.


terça-feira, 11 de julho de 2017

Ele é tão literal

Enquanto matávamos saudades ao telefone, macaquito começa a ralhar comigo.
-Sabes mãe, não sei o que andas a fazer, estou sempre a ligar do telefone do avô e tu tens SEMPRE o telefone desligado.
-Não pode ser, deves ter-te enganado a marcar o número, eu tenho SEMPRE o telemóvel ligado.
-Na na na na na, eu marquei bem o número, aparece aquela senhora e diz "o número que ligou não está atribuído" e desliga-se.
-Vês? Se aparece essa senhora é porque marcaste o número mal. Diz lá o número que marcaste.
-9XX XZD XXX
-Pronto, está explicado, não é ZD, é DZ. Isso nem parece teu.
-Ah, pois é mamã. Desculpa... - diz-me com uma voz muito triste.
-Sabes o que me apetece fazer-te agora? Roer-te as duas  orelhas ao mesmo tempo. - digo em tom de brincadeira.
-Oh mãe, não dá. Tu não vês que tenho uma ocupada com o telefone? Se não como é que podia estar a falar contigo?!

domingo, 9 de julho de 2017

Como os programas de televisão condicionam o nosso dia-a-dia

Brainstorm ao pequeno-almoço.
-Macaquito, o que queres comer?
-Não sei, decide tu.
-Torrada, tosta, papa…
-Vou trancar a resposta papa.

….

….

….

-Papa é a resposta correcta

segunda-feira, 3 de julho de 2017

Armários, portas, cacifos...

Já lá vão uns meses desde a história do "magnifique" depois da adaptação a essa rotina que foi a de se fechar no armário em casa e falar uma espécie de francês, todos os dias antes de se deitar, outras daí advieram, entre as quais a de se fechar nos cacifos da piscina sempre que vamos às aulas de natação. Aproveita sempre o momento em que arrumo a tralha na mochila para se fechar num cacifo sem fechadura e fazer um pequeno teatro comigo em que ele assume o papel de Monsieur Magnifique, génio malvado que me rapta macaquito e o leva para o deserto ou para o espaço,  apenas depois de eu fazer um monólogo zangado com a porta do armário, lá aparece um macaquito feliz por estar de volta. 
Ora numa das aulas de macaquita, em que tive de o levar também, enquanto eu ajudava a irmã a vestir o fato de banho ele ficou sentado num banco a aguardar. No meio da confusão de um balneário infantil cheio de meninas começo a discernir um tum tum tum pouco habitual, levo dez segundos a processar até que resolvo procurar no lado oposto ao que nos encontramos e para espanto de todas as mães que ali se encontram, sai um rapaz muito esbaforido e atrapalhado de um cacifo que tinha uma fechadura funcional. Desta vez não lhe saiu nada em francês tal foi a aflição que passou quando percebeu que estava trancado.
Passado uns tempos, noutro dia de piscina, no curto caminho que separa o estacionamento da porta principal, deixei de o ver. Corri para dentro do complexo e nada, perguntei a todas as pessoas que ali se encontravam e nada, agarrei no cartão dele, passei nos torniquetes na esperança de que estivesse no balneário à minha espera, entrei e nem sinal dele, paniquei. Voltei atrás e nada, volto ao balneário e chamo por ele e nada, até que de dentro do cacifo (o tal sem fechadura) sai um macaquito todo nu, a falar francês. 
-Conseguiste  despir-te sozinho?! Muito bem, para a próxima vamos tentar isso fora do armário, ok? - foi a única coisa que consegui dizer, sem me rir não vá este disparate tornar-se rotina também.


domingo, 2 de julho de 2017

Não era Tony mas teria sido igual

Vou buscá-los a casa dos avós, antes de seguirmos lembro-me de ir ao centro da cidade resolver um assunto. Na praça central grande burburinho com o check sound de uma banda que vai tocar nessa noite, grupo habitual e querido na cidade, uma coisa a roçar "Tony Carreira e os seus muchachos" mas com menos azeite. Macaquito atravessa a praça sem ligar ao que se passa e estranhei, até perceber que seguia concentrado na sua demanda de me ajudar a chegar a horas. De volta ao carro passamos de novo perto do palco onde a banda continuava a ensaiar, desta vez não lhe passou ao lado, arrancou para a frente do palco e chama pelo vocalista.
-Tony Carreira, posso cumprimentar-te? 
-Claro que sim mas dá a volta, sobe ao palco ali nas escadas e anda até aqui. - macaquito assim fez, subiu ao palco deram um grande aperto de mão, trocaram meia dúzia de palavras que não percebi e o pequeno voltou pelas mesmas escadas que tinha subido. Ali ao lado, estava o resto da banda, os seguranças e roadies e macaquito assim que pisa o chão, vira-se para eles e diz seguro de si.
-Sabem, o Tony Carreira é o meu fã nº 1!

segunda-feira, 26 de junho de 2017

Ciúmes

Toca o telemóvel, do outro lado uma voz cheia de mimo.
-Estou mãe, estou sozinho em casa!
-Sozinho? Onde estão os avós? - pergunto preocupada.
-O avô foi levar a mana ali à rua para ela ir andar com a avó.
-Ah! Ok, então não demora nada. Precisas de alguma coisa?
-Não, estava com saudades e aproveitei para ligar, estás sozinha?
-Sim e com muitas saudades também.
-Olha, não precisas de ligar à hora de jantar.
-Então porquê? - não consegui evitar a gargalhada porque já estava a adivinhar o que me ia dizer.
-Já falámos agora e assim tens mais tempo para descansar.
-Eu não estou cansada e não falei com a mana, talvez seja melhor ligar para lhe dar um beijinho de boa noite.
-Não, não precisas ligar, eu dou-lhe os teus cumprimentos e ligas amanhã pela fresquinha. Vá, adeus, gosto muito de ti. Vou desligar....
E desligou!

Outros voos

Pedes que te observe no teu local preferido, a voar. E voas cada vez mais alto. Alguém me disse que vieste ao  mundo com um propósito, descrente que sou das coisas esotéricas, acredito apenas que vieste ao mundo para que eu aprendesse a amar. Cresceste tanto este ano e eu também, os infortúnios também nos trouxeram coisas boas, foi como sair na paragem errada e aproveitar o passeio para ver coisas novas. Crescemos juntos, aprendemos juntos e juntos faremos um novo caminho e que tudo aquilo que agora nos perturba seja o mote para voarmos ainda mais alto.


quinta-feira, 22 de junho de 2017


Os dias em que não queres dizer nada ou que nada tens para dizer, em que se acabam as palavras e se contam os minutos, dias tristes, apáticos que por palavras ditas perdes a vontade de falar. É desistires, é perderes a capacidade de ressuscitar de todas as desilusões, é deambulares sentidos e perceberes que não podes ser salvo porque não te queres salvar, apenas queres ser consertado.
Os dias em que perdes o dom da palavra, em que não proferes nada nem que seja da boca para fora, contra ti ou contra os outros sem pensar em consequências apenas para te sentires dono da verdade. É a abstinência do ser, é o medo de perder, é ficar no meio do nada sem nada para fazer, é segurares as palavras como se de uma bomba se tratasse e esperares que rebentem dentro de ti porque és senhor da tua razão e assim conténs a emoção, assim seguras a lágrima que teima em querer saltar e só por isso, é melhor não falar.

quinta-feira, 15 de junho de 2017

Ser indiferente

Há pessoas que sonham, vivem na utopia de que o mundo pode ser igual para todos, porque seria bonito não teres de falar de inclusão ou teres de lutar todos os dias por direitos iguais. Não interessa nada para quem está de pé que todos os interruptores estejam à altura de uma cadeira de rodas, seria de somenos importante uns pontos em relevo numa embalagem de champô se puderes ler que é adequado ao teu tipo de cabelo, também nada se perderia se além de inglês e francês as crianças pudessem aprender língua gestual na escola. Mas não, há pessoas que fazem questão de te recordar sempre que possível de que tamanho é a tua deficiência, que o facto de teres menos um braço ou apresentares qualquer tipo de distúrbio neurológico é condição preliminar para te apresentar ao lado menos simpático da diversidade.
As boas intenções podem ser perversas se levarem à marginalização do atípico, impor normas que não permitem a convivência em condições de existência já por si desiguais é simplesmente vergonhoso.
Se não queres fazer a diferença, pelo menos mantêm-te indiferente.

quarta-feira, 14 de junho de 2017

Recados

Na caderneta de ambos, o recado, dias 19 e 21 macaquitos não podem ir à escola porque os alunos do 2º ano vão fazer provas de aferição. Pergunta de macaquita:
-Mamã, o que são provas de aflição?

sexta-feira, 9 de junho de 2017

Não me chamem menino

Faltavam dez minutos para a aula de música, sentei-me com eles na esplanada a beber um café. Na mesa do lado um labrador manso e brincalhão, apesar disso, grande o suficiente para deixar macaquito em pânico e mantê-lo sossegado na cadeira. Pediu-me o telefone para jogar e ali ficou imóvel e concentrado. Do outro lado surgiu um bebé, cerca de dois anos, engraçou com macaquito e meteu-se com ele, macaquito sorriu sem desviar os olhos do telefone e o pequeno insistiu, fez-lhe uma festa no cabelo e correu para a mãe, macaquito continuava imóvel. Passado um minuto, o petiz volta à carga e repete a festa no cabelo, mais uma vez nem um piscar de olhos. Ao fim de três ou quatro tentativas, a mãe do pequeno sorri e resolve intervir.
-Lourenço, larga o menino, estás a chatear. 
Sem desviar a atenção do telefone e praticamente estático, macaquito diz pausadamente.
-Bem... na verdade... o meu nome é Macaquito. 

quarta-feira, 7 de junho de 2017

Utopia

Queria poder sentar-me numa roda todos os dias, como hoje, rodeada de miúdos. Felizes, orgulhosos de si mesmos, excitados e contentes com aquilo que fizeram, ansiosos por uma avaliação que nunca lhes darei independentemente do resultado final. O sorriso aberto e o tu consentido será a única nota que receberão. 
Queria um aceno de mais ou menos acompanhado daquele sorriso malandro, quando lhe pergunto como se portou hoje sabendo de antemão a resposta, ele, um dos terríveis "um horror" que tem sempre um olá para mim e que se senta no meu colo, ansiando o abraço sempre que tem a oportunidade.
Queria ter sido outra coisa qualquer que me permitisse enredá-los no meu colo, explicar-lhes que pertencer ao quadro de mérito não é assim tão importante se não soubermos que um lápis castanho também pode ser cor de pele. 
Queria poder dar a todos a oportunidade do papel principal mesmo que tenham dificuldade em decorar e ou de pintarem um quadro mesmo que não saibam a cor do sol.
Queria poder ser para sempre a mãe ET que alguns pais olham com condescendência e outros com inveja porque como diz alguém muito especial "até tenho um filho deficiente e gosto dele!".
Queria ser aquilo que sou e não me sentir tão sozinha.

terça-feira, 6 de junho de 2017

Quando percebes que já não fazes parte do testamento


É muito bom podermos contar com os avós para ficar com os miúdos quando estão doentes e não podem ir à escola. Sabemos que estão bem entregues, que os avós vão cuidar deles da mesma forma que cuidaram de nós ou mesmo melhor. Sabemos que os vão mimar, que nada lhes vai faltar e que os dias de doença, dores e febres acabam sendo dias de brincadeira, jogos e que provavelmente lhes vão contar os disparates que nós fazíamos quando tínhamos a mesma idade. 

E quando voltam para casa, saudáveis e felizes, acabamos por estar mais tempo na cama deles que o suposto, apenas para matar saudades e para ouvirmos tudo o que têm para contar. 
-Vá Macaquita, já chega, agora tens de dormir.
-Olha, só mais uma coisa...
-Ok, diz lá.
-A avó disse que tu és palerma!

domingo, 4 de junho de 2017

Não tem nada a ver mas tenho de partilhar #7

Comentário de uma tia de pai macaco que nem me lembrava de já ter conhecido.
-Ai querida, estás tão magrinha.
-Eu sempre fui magra.
-Da última vez que te vi não estavas assim. - olho para ela sem conseguir disfarçar que não fazia a mais pequena ideia do que falava, ela percebe e adianta.
-No casamento do primo X.
-Ah, sim... isso foi há quase dez anos, estava grávida de 7 meses!

sábado, 3 de junho de 2017

Love will save us

Tudo preparado para sair, desligo a televisão após ser ignorada 10 ou 20 vezes, pego nos sacos, descemos no elevador e assim que coloco tudo no porta bagagens lembro-me que falta o violino e macaquita tem mesmo de estudar Peço que coloquem os cintos e volto a casa. Três minutos e entro de novo na garagem, ouço-a chorar convulsivamente, imagino que se tenha magoado e arrependo-me de os ter deixado sozinhos no carro. Tendo acalmá-la e perceber o que aconteceu, afnal esqueceu-se do estojo com lápis e marcadores no quarto, volto a casa sozinha e de novo ao carro, dou-lhe em mão o estojo e um mimo.
-Obrigado mãe! Por teres trazido as canetas da mana.
-De nada, macaquito.  Mas era ela quem devia agradecer.
-Eu ia dizer, estava à espera que abrisses o portão.
-Não se agradece com o portão fechado, está visto... - respondo com ironia.
Não percebeu. Tenho fé que se torne mais gentil.

-Fiz para ti mamã! Com folhas do chão. Gostas?
-Está lindo, muito original.
Oferece-me todas as suas obras, é mais gentil do que parece.


quinta-feira, 1 de junho de 2017

Selinho blog em bom

Fui nomeada (escolhida, agraciada...) pela NM para este difícil desafio começado aqui que é o de escolher o tal. Como tal, percebo que seria tremendamente injusta com uma catrefada de "blogs em bom" ao escolher apenas um, no entanto, acho que uma das regras é escolher apenas um. Tendo em conta todas estas constatações óbvias, obviamente escolho a Flor. Não apenas porque é muito bom, porque é dos tais, aquele que vou e me sinto muito eu.

Para prosseguir com esta fantástica corrente, escolho e espero que me perdoem a ousadia:

http://tambmqueroumblog.blogspot.pt/

https://a-uva-passa.blogspot.pt/

http://agaffeeasavenidas.blogs.sapo.pt/

https://factosdetreino.wordpress.com/

https://memyshitandi.blogspot.pt/

Tenho quase a certeza que falhei nalguma regra, sou daquelas que nunca lê o livro de instruções até ao fim...






terça-feira, 30 de maio de 2017

Três dias...

Por força de uma valente amigdalite, macaquita ficou uns dias nos avós e macaquito tem estado como prefere, sozinho comigo. Quando chegámos da escola, ele pegou no velho telefone avariado que encontrou no sótão e no qual tem conversas intermináveis com as pessoas de quem sente saudades.
-Estou avô, é só para dizer que a mana fica aí mais três dias... Sim, sim, por causa da febre... Vá, adeus, um beijinho.
-Acho que estás com azar, macaquito, já falei com o avô e a mana está melhor. A avó vem trazê-la hoje. - digo-lhe eu enquanto preparava o lanche.
-A sério, mãeeeeeee? Mas eu não quero que ela venha.
-Pois, eu sei mas a mana não pode faltar mais à escola e eu também tenho saudades dela. Além disso, estiveste dois dias sozinho comigo, com o mimo tooooooodo para ti. 
-Ok, não há problema, ela pode vir. Quando a avó chegar, vou-me embora com ela, vou eu três dias para casa dos avós.


segunda-feira, 29 de maio de 2017

Talvez esteja a ser injusta

Se um dia alguém me dissesse que há um medicamento com cem anos de utilização e efeitos comprovados de cura, que eu pudesse dar ao meu filho para curar qualquer uma das doenças que tem, obviamente não hesitaria em administrá-lo. E depois existem pessoa que deixam morrer os filhos por conta de uma otite. Não faço por norma este tipo de julgamento mas ter de lutar diariamente para que o meu filho possa um dia mais tarde ser autónomo e feliz e de essa luta ser extraordinariamente cansativa (embora recompensadora), tornou-me menos tolerante com este fenómeno que é a estupidez natural.

quinta-feira, 25 de maio de 2017

Pelo menos tem consciência

O alarme do telemóvel toca, passo os dedos para desligar, deixo sempre o telemóvel estrategicamente colocado na mesa de cabeceira para que o possa desligar ao primeiro som. No mesmo momento ouço:
-Bom dia mamã, dormiste bem?
-Estás aqui?! Nem dei por ti mas sim dormi bem. 
Saio da cama e despacho-me no banho, enquanto me vestia, ele diz preocupado.
-Mamã, o teu telemóvel fez aquele som de acordar. - e reproduz o som tal e qual - eu desliguei, duas vezes mamã.
-Fizeste bem, devo ter-me enganado a desligar. Obrigada.
-Desculpa se mexi no telefone sem autorização.
-Não faz mal, fizeste bem em desligar.
-Mas desculpa mamã, eu sei que não devo mexer sem pedir...
-Já disse que não faz mal, não vais ficar a manhã toda a bater na mesma tecla, pois não?
Cala-se e fica pensativo, olha em redor durante alguns segundos e de repente:
-Qual tecla mamã, não vejo aqui nada.
-Ahahaah, desculpa é só maneira de falar, "bater na mesma tecla" é estar sempre a dizer a mesma coisa.
-Ah! Já percebi mas não vejo qual é o mal, isso é o que eu faço sempre.

terça-feira, 16 de maio de 2017

Absurdos

Dou-vos macaquito exactamente como ele é, privilegiando obviamente as histórias divertidas que nos preenchem a maior fatia do nosso dia a dia. Seria redutor falar apenas na sua condição rara ou no seu autismo porque isso é apenas uma pequena parte da criança fantástica que é mas serão com certeza motivos para amá-lo ainda mais. Quão estranho foi sentir que no momento em que saiu de mim e que o olhei pela primeira vez apenas me deleitei com os pormenores, a boca perfeita, o nariz arrebitado e a penugem que lhe cobria a cabeça, não me apaixonei naquele momento, amava o todo há tanto tempo que nem saberia dizer em que ocasião fui tomada por aquele amor e nem os defeitos todos do mundo poderiam quebrar a validade do selo branco que o autentica.
Por tudo isto talvez, em dias como os de hoje, em que faz muitos disparates e recebo queixas poucos habituais à porta da escola, inunda-me uma tristeza e apetece-me castigá-lo e até dar uma palmada mas depois lembro-me que afinal o meu filho não é uma criança como as outras e que precisa de ouvir vinte vezes, ou vinte mil, que não precisa de ser o palhaço da escola para ter atenção das outras crianças. E ao deitar, confesso-lhe mais uma vez o meu amor incondicional, explico-lhe que não precisa de regatear atenção porque a tem de quem importa e formato-o para fazer um pedido de desculpas sincero à professora que tem por ele um amor parecido com o meu.
E depois fico mais uma vez a pensar nas incongruências de ter de formatar uma criança para que ela distinga o certo do errado.  





quarta-feira, 10 de maio de 2017

Gosto de cumprir com as minhas promessas

Como de costume as perguntas difíceis surgem sempre quando a vou deitar, deito-me junto dela e ela enrola-me com pedidos de histórias e perguntas. quando todos os argumentos pareciam esgotados, ela sai-se com esta:
-Mamã, o que é um canguru na mama?
-Um quê?
-Um canguru na mama.  A M. disse que uma senhora tinha um canguru na mama e depois ficou sem cabelo.
Depois de me rir 10 segundos imaginando a confusão naquela cabecinha, optei por lhe explicar de modo ligeiro sobre o cancro em geral, com a promessa final de que nenhum de nós teria de usar uma peruca. Apesar da tranquilidade e ligeireza na explicação, optei por omitir o desfecho menos optimista mas tenho a certeza que esta noite a cama terá mais um inquilino. 

segunda-feira, 8 de maio de 2017

segunda-feira, 1 de maio de 2017

A Senhora dos Papagaios


                                                50 tentativas depois, ainda ficou um olho.

"A melhor corrente blogosférica de sempre" começou aqui. E continua aqui e depois é continuarem a procurar que a Palmier tem os links todos.

domingo, 30 de abril de 2017

Falta-me poder de argumentação

Numa das nossas intermináveis conversas apenas com o intuito de protelar a hora de dormir, macaquita começa a falar da avó e do quanto gostaria que ela morasse mais perto de nós.
-Ainda por cima ela é nossa amiga. - dizia.
-Pois é, a avó gosta muito de nós. - respondo-lhe.
-Mas ela tem um problema, tem medo de cobras.
-É normal, as pessoas têm medos, por vezes nem se consegue explicar bem porquê.
-Sim mãe mas ela tem medo da minha cobra de peluche.
-Ok e tu tens medo do escuro, também me parece pateta ter medo do escuro.
-Daaaahhhh, a sério mãe? Eu não tenho medo do escuro de peluche!  

quinta-feira, 13 de abril de 2017

Suponho que correu mal

Liguei-lhe à noite, atendeu feliz e com o discurso do costume.
-Boa noite mamã, em que posso ajudar?
-Olá macaquito, como estás?
-Estou bem, estou aqui a brincar com os avós aos professores.
-E o que andaste a fazer hoje?
-Olha, estive a trabalhar. - o que quer dizer que esteve a fazer TPC's.
-Então e correu bem? - perguntei sabendo que no dia anterior a coisa não tinha sido muito pacífica.
-Espera! Tenho de ir para trás do cortinado.
-Do cortinado? Não me digas que é para ninguém te ouvir?

...

...
 
-É só para te dar um beijinho e desejar uma noite descansada. - e desligou sem passar o telefone à avó como habitualmente.

quarta-feira, 12 de abril de 2017

terça-feira, 11 de abril de 2017

Fomos ao espaço

Aproveitando o domingo soalheiro, cumpri a promessa e lá fomos ao Planetário, a sessão não foi das melhores para crianças mas macaquito está convencido que foi ao espaço numa nave e só não gostou de não podermos sair da nave e pisar um qualquer planeta, erro meu que assenti quando me perguntou se poderíamos aterrar em Saturno mesmo antes de entrarmos na sala. Antes do regresso a casa, passeámos um pouco, atravessámos o túnel que nos levou do  Mosteiro dos Jerónimos ao Padrão dos Descobrimentos, tudo tranquilo apesar da multidão que atravessava ao mesmo tempo que nós, um som de acordeão ao fundo mistura-se com a confusão de vozes. Tirámos umas fotografias e sentámo-nos um pouco a descansar enquanto os miúdos exploravam.
-Mãe, o que quer dizer este sinal? - diz-nos macaquito do lado oposto ao nosso assento.
-Quer dizer que é proibido sentar aqui. Arrrrrr...  - levantámos num ápice e a rir. Todos... os adultos!
De volta ao túnel, apenas meia dúzia de pessoas e o homem sentado no chão arruma o acordeão. Macaquito repara e claro, vai ter com ele, ainda tento agarrá-lo mas sem hipótese, toda a gente debanda e eu fico ali, a olhar para macaquito.
-Olá senhor, o senhor toca muito bem, pode tocar para mim? - eu faço sinal que não, que não é necessário mas macaquito insiste e o senhor nem me dá hipótese e apronta-se em segundos. Macaquito dança sozinho e bate palmas e eu, lentamente abro a carteira e entrego dinheiro a macaquito que feliz lá vai dar ao senhor que lhe agradece também com um sorriso. Separado de nós por uma genuína ingenuidade, entrega uma moeda como se de uma fortuna se tratasse, talvez o seja, lá para o fim do dia, se todos os que por ali passassem o olhassem com os olhos do meu homenzito, abertos a todas as notas até aquelas fora de tom e ignorando as razões, mais ou menos válidas, que confinam o dia daquele homem a um metro de chão.
Não tivesse sido ele, também eu teria passado indiferente.

sexta-feira, 7 de abril de 2017

Padeço de saudadite

Larguei duas malas, duas mochilas e eles, os dois, ainda lhes oiço as gargalhadas. Tão pouco o tempo que passou, a angústia já me consome. Estou por dentro como a roupa que lhes enviei nas malas, t-shirts e malhas, calções e collants, sol e frio. Sinto no silêncio uma paz difícil de encontrar habitualmente, imploro ao silêncio que me tortura que se faça ouvir. Acordo sem corpo, sem me lembrar que o tenho e que me dói, acordo com um sorriso porque sonhei com anjos, estar só torna os sonhos mais fáceis mas o dia vai entrando em mim e a saudade corrói o sorriso, o tempo não passa e a noite chega devagar. Afundo-me no sofá na pressa de adormecer, à espera que os sonhos me sacudam a saudade.

terça-feira, 4 de abril de 2017

Mesmo sem saber, ele disse MESMO que queria

Macaquito chegou da escola, feliz por ser o último dia e também porque trazia um pato, em cartão amarelo, recheado de ovinhos de chocolate. Como ele não gosta de doces, costumo ser presenteada com este tipo de tesouros e já contava com o ovo no... vocês conhecem o provérbio.
-Que lindo pato.
-Foi a Luisa que me ajudou a fazer, tem ovos de chocolate, não os partas.
-Claro que não, os ovos de chocolate não se partem. São para mim ou para a mana?
-Para o pai, claro!
-Como claro? O pai nem gosta de doces.
-Vá não te importes, o pai disse mesmo que queria mesmo aqueles doces. E eu quero dar ao pai porque eu gosto mesmo dele... também gosto de ti....gosto dos dois mas o pato é para ele. 

...

-E é melhor não falarmos mais disto.

segunda-feira, 3 de abril de 2017

Eu bem digo que ela ouve mal

 Na pressa de sair, enquanto pego em casacos e lancheiras, reparo que macaquita ainda está descalça.
-Macaquita, vai-te calçar, temos de ir embora.
-Mamã, calço o quê?
-As Allstar. - responde macaquito.
-Eu não tenho.
-Tens sim, as cor de rosa. - afirma ele.
-São Rosastar, as tuas é que são Azulstar.