Ao telefone:
-Olá macaquito, como foi o teu dia?
-Mamã, a avó não está. Teve de ir salvar um senhor que está morto.
-O quê? A avó foi onde?
-Foi ali acima salvar um senhor que está morto.
Tentei não me rir mas ele percebeu.
-A sério mãe, o senhor morreu!
Em conversa com o avô, fico a saber que a minha mãe foi assistir um velório e que na realidade não havia muito a fazer pelo senhor Rijo.
quinta-feira, 30 de julho de 2015
O suspeito do costume
A caminho de casa ao final do dia, conversávamos animadamente sobre o dia de cada um deles. Macaquita contava-me que tinha estado a fazer desenhos nas camisolas de uns senhores e senhoras que por lá apareceram (putos da colónia de férias de uma conhecida empresa outrora portuguesa) e de repente atravessa-se à minha frente uma espécie de auto-caravana azul cueca, matrícula estrangeira, velha que doía. O cheiro a gasóleo queimado era insuportável, apesar dos vidros fechados.
-Uhhhh, cheira mal! - diz macaquita.
-Não fui eu! - responde macaquito aflito.
terça-feira, 28 de julho de 2015
Tão bom
Macaquito tirou dois dias de férias das férias nos avós, voltou cheio de beijos e mimos para todos. Acho que cresci dois palmos, assim que me correu porta dentro. Abraçou-me, beijou a irmã (ele não é muito de beijos a ninguém, exceptuando a mim) mas fez-me logo saber que na quinta voltava para os avós e retornaria na sexta para passar o fim-de-semana connosco. Acho importante que faça os seus próprios planos e desde que não interfira com as questões médicas, deixo-o à vontade.
Vinha muito entusiasmado porque o pai trocou de carrinha na empresa, fez questão de me explicar tudo:
-Sabes mamã, o pai trouxe uma carrinha com três lugares à frente. Assim também podes ir.
-Ir onde?
-Ao café!
-Mas não cabemos todos...
-Tu levas a carrinha nova e eu vou contigo e o pai leva o teu carro com a mana.
-Eu também quero ir com a mamã. - refila macaquita.
-Pronto, vou eu, a macaquita e a mamã na carrinha e o papá vai no carro da mãe.
-Eu não acho muito bem, vamos todos num carro. - respondi-lhe.
-Não mãe, vamos na carrinha nova, por favor.
-Eu vou sozinho? - diz-lhe o pai em tom de gozo - Assim vou chorar.
-Respira fundo!
-Porquê? Nem me zanguei contigo... ainda.
-Para te acalmares e não chorares, tens de respirar fundo, pai!
Não contive o riso.
-Não sei porque te estás a rir, estou a ajudar o papá. Não o quero ver a chorar.
Ahhhhh que saudades que eu tinha destas parvoíces.
sexta-feira, 24 de julho de 2015
Ponham protector.
Não vejo macaquito desde domingo, sentado no lado do condutor, abraçou-me e disse-me:
-Mamã, eu gosto muito de ti mas deixa-me ficar na avó.
E eu deixei, claro, apesar de já terem passado os dezoito dias que inicialmente me pediu. Macaquita zarpou na terça, finalmente percebeu que para não ir à escola teria de abandonar os braços da mãe e zarpou feliz.
Ao telefone, diz-me que não posso fazer barulho que a mana dorme a sesta e ontem era um Pteranodonte, explicou-me tudo sobre a forma como se move o Pteranodonte como se eu o observasse pelo telefone, não percebi quase nada.
Rumam à praia, macaquita observa que não posso usar as suas cuecas de bikini novas porque posso parti-las, suponho que me esteja a tentar dizer qualquer coisa. A única preocupação dele é o saco da praia que o avô perdeu, deve ser uma história antiga que não recordo, ele fará com que nos recordemos todos os anos.
Durmo mais mas como menos, preciso de um abraço de dinossauro.
terça-feira, 21 de julho de 2015
Quando for grande
Sou um bocado apreensiva em relação ao futuro de macaquito, não sei o que nos reserva, suponho que daqui por uns anitos ele seja completamente funcional mas o mas existe. Não estou a ficar mais nova, apesar de macaquita achar que vou viver até aos mil anos porque "mil é mais que cem" e ela gostava de ter cem. Não quero também que macaquita viva a vida dela com um sentimento de obrigação de cuidar do irmão, tenho a certeza que estará sempre lá para ele mas não quero que o sinta como um encargo ou necessidade moral.
Preocupo-me com o futuro dele, não vivo pregada ao chão e ele já me deu provas que provavelmente serão receios infundados, aqui vai mais uma história a comprovar.
Um dia destes, dos poucos em que o tenho comigo deste que começaram as malditas férias de verão, vou buscá-los à academia, estaciono mesmo em frente, nesse dia conduzia o carro da minha mãe. Já estávamos a sair e volto atrás para dar um recado, dois minutos de conversa e começo a ouvir um alarme, espreito para a rua e vejo dois macaquitos dentro do carro. Corro com a chave para desligar o alarme, ralho com os dois e mando-os sentar nas cadeiras, cintos colocados e assim que ponho o carro a trabalhar, sinto-me como se estivesse num carrossel. Piscas ligados, escovas limpa vidros a trabalhar, tecto de abrir a abrir sozinho, palas de sol para baixo, uma tampa arrancada. Coloco tudo no lugar e arranco para casa, a ralhar claro!
-Mas mamã, eu só queria abrir a capota. - diz-me ele com muita naturalidade. Entretanto percebo que as escovas do vidro de trás também estão ligadas, tento pará-las durante todo o caminho até casa e tudo o que consigo é pôr as da frente a funcionar e ligar os "mijas" da frente e de trás, com os vidros cheios de pó já nem via nada. Páro o carro, lá descubro a muito custo como é que aquela porcaria funciona e de repente tenho um pensamento. "O carro estava trancado, como é que ele entrou?"
Comecei a rir sozinha, se ele consegue arrombar carros, o futuro dele está salvaguardado!
quinta-feira, 16 de julho de 2015
1826 dias depois...
Imaginar que ia gostar de meninas, é impossível de imaginar. Que o cor de rosa me ofusca, mais que brilhantes e purpurinas.
Pensar que teria de comprar bonecas e vestidos, é impossível de pensar. Nunca gostei de bonecas, confesso que continuo a preferir os carros e os livros.
E tu também mas gostas tanto de cor de rosa e de purpurinas e agora de azul "porque é a tua cor preferida, mamã." dizes-me ao ouvido.
Que nem vestido de seda que nunca vesti. És o vestido de seda que nunca vesti.
E para ti alargo os meus braços, multiplico os meus beijos, recebo-te com todos os defeitos porque em ti parecem perfeitos.
Cinco anos de ti, parece que foi ontem que te desejei rapaz e agora tenho o coração cheio de amor por uma menina!
Pensar que teria de comprar bonecas e vestidos, é impossível de pensar. Nunca gostei de bonecas, confesso que continuo a preferir os carros e os livros.
E tu também mas gostas tanto de cor de rosa e de purpurinas e agora de azul "porque é a tua cor preferida, mamã." dizes-me ao ouvido.
Que nem vestido de seda que nunca vesti. És o vestido de seda que nunca vesti.
E para ti alargo os meus braços, multiplico os meus beijos, recebo-te com todos os defeitos porque em ti parecem perfeitos.
Cinco anos de ti, parece que foi ontem que te desejei rapaz e agora tenho o coração cheio de amor por uma menina!
quarta-feira, 15 de julho de 2015
Já devia saber e agradeço a preocupação.
Macaquito fez a sua incursão semanal a território inimigo, que é como quem diz, a casa. Tento convencê-lo a ficar mais um dia que o costume para comemorar os anos da irmã, negociações frustradas.
-Gosto muito da mana mas não gosto de cantar os parabéns, tu sabes mamã. Olha, compro-lhe uma boneca das Winx, ela fica contente e assim volto para o meu avô que ele precisa de mim. Eu é que sou o ajudante!
-Sabes a mana quer um bolo do Frozen com cinco velas, cinco velas já é difícil para ela soprar sozinha, se calhar ficavas para seres o ajudante dela.- continuo na tentativa de o convencer.
-Não é preciso mamã, ela consegue. Macaquita, o bolo vais ser da Elsa ou da Hanna?-percebo aqui a sua intenção de desviar o assunto.
-Da Elsa, da Hanna e do Olaf mas eu é que vou comer a Elsa!
-Mas tu gostas tanto dela?! - não se comem os personagens favoritos, onde é que já se viu?!
-Mamã, o bolo da mana é sem glúten?
-Não mas vou fazer o bolo de cenoura que tu adoras, para poderes comer na festa.- tinha a certeza que o ia conquistar pela barriga.
-Não te preocupes, eu vou para casa do avô e não precisas de ter trabalho comigo, deves ter muitas coisas para fazer!
sexta-feira, 10 de julho de 2015
Ver mais longe
Os meus pais sempre moraram na mesma rua, a vizinhança é antiga, conheço a maioria deles desde muito pequena apesar de não me recordar dos seus nomes. Há uma senhora que mora na mesma pequenina casa desde sempre e desde sempre que me lembro de a ver à janela, sempre na mesma janela e sempre com o mesmo sorriso. Todas as pessoas que passam lhe dizem sempre bom dia e ela agradece sempre com as mesmas palavras. Não a vejo diferente daquilo que era há trinta anos atrás, tirando a alvura no cabelo que usa com o mesmo penteado e as rugas mais profundas, dela nada sei a não ser o nome, não lhe conheço marido ou filhos, apenas o seu rosto emoldurado naquela janela.
Macaquito vai todos os dias de manhã com o avô buscar o pão e passa sempre naquela janela e sempre que lá passa conversa com a Dona Palmira. Não lhe diz apenas bom dia, conversa com ela, faz-lhe perguntas e sabe com certeza mais sobre a Dona Palmira que qualquer outra pessoa que more naquela rua, mais que do que eu ou mais do que os avós que sempre ali moraram.
Numa altura em que ainda havia aulas e macaquito esteve algum tempo sem lá ir, passou-se uma história bonita. Macaquito passa de manhã com o avô e apressa-se a chegar à janela da Dona Palmira.
-Bom dia Dona Palmira, como está? Tem uns óculos novos!
-Olá macaquito, tenho estes óculos há mais de um mês, foste o único a reparar... - disse-lhe embevecida e ternurenta.
Fiquei triste quando a minha mãe me contou esta história, estou sempre a pedir a macaquito que me olhe nos olhos quando falo com ele, que olhe para as pessoas quando fala com elas e depois percebo que ele vê muito mais longe do que o olhar, ao contrário de nós que olhamos para as pessoas e não as vemos, mesmo que elas estejam sempre à janela, sempre com o mesmo sorriso. É sorrir de tristeza, é de certeza.
quinta-feira, 9 de julho de 2015
Saio de mansinho...
Os filhos nascem todos com um dom ou poder, vou chamar-lhe antes poder que é uma palavra muito em voga cá por casa. Os filhos têm o poder de nos colocar em situações muito embaraçosas. Macaquito consegue bater a maioria aos pontos porque, tal como a maioria das crianças no espectro, não consegue filtrar o que diz, não distingue muito bem a linguagem não literal como o humor, a provocação, a ironia, o sarcasmo, etc. Não entende também porque não pode ser sincero em determinadas situações.
Eu tenho um problema com fatos de treino e peças do género. Não uso, não visto nos miúdos, excepto em dias de ginástica e apenas a parte de baixo. Conjuntinhos a fazer pandam, não são a minha praia, Calções de algodão, ahhhhhhhhhhhhhh abomino. Portanto, no dia em que alguém ofereceu um conjunto de algodão, calção e t-shirt a macaquito, ainda por cima com gosto e cores duvidosas, eu imediatamente passei aquilo para a gaveta dos pijamas.
E macaquito adorava o horrível pijama amarelo com flores vermelhas.
Uma bela manhã, ao chegarmos à creche, entra um menino vestido com um fatinho igual ao dele, macaquito corre na direcção do pai da criança e pergunta:
-Porque é que o T. traz o meu pijama vestido?
terça-feira, 7 de julho de 2015
É karma, só pode ser.
Fui levar macaquita para passar o dia com uma prima da mesma idade, ia ansiosa, desde ontem que só falava na piscina e nas bonecas do Frozen que a prima tem e dão para vestir e despir. No caminho para lá, uma fila enorme de carros abrandava-nos a viagem numa estrada que é curva e contracurva, no início da fila, claro, um papa-reformas.
-Vá mamã, vai mais depressa, nunca mais chegamos!
-Macaquita não dá ou queres que passe por cima dos outros carros? Não vês que vai ali um papa-reformas muito devagarinho? Tens de ter paciência.
Resmungava sozinha sobre os malditos carros enquanto a fila ia encurtando à minha frente, quando fico na traseira do dito-cujo Macaquita apercebe-se do carro.
-Ó mãe, tu não vês que é um carro bebé, é por isso que vai devagarinho.
segunda-feira, 6 de julho de 2015
Se faz favor...
Acho que já falei aqui de rotinas, fazem parte da vida de macaquito e consequentemente da nossa. Por vezes é cansativo, dado que quando mudamos qualquer coisa já enraizada no dia-a-dia dele é quase uma crise nuclear. Outras vezes é bem divertido, a história que agora conto é apenas embaraçosa.
Fazemos uma vida quase normal, igual a tantas outras pessoas que têm filhos mas gostam de sair e beber um copo com os amigos. Muitas vezes, que é o mesmo que dizer quase sempre, temos de levar macaquitos connosco. Macaquito memoriza tudo ou quase tudo o que lhe interessa, portanto sabe exactamente quem bebe o quê. Fulano A bebe mini, fulano B média mas Superbock, já o C é média Sagres, etc, etc. (não sei porque é que isto lhe desperta a atenção!!)
Um dia qualquer, macaquito devia ter uns 4/5 anos, saí com eles de manhã e tive a infeliz ideia de ir beber café ao sítio onde costumamos ir à noite. Sentei-me na esplanada, 8:30 da manhã e peço-lhe que vá lá dentro pedir um café para mim, "Não te esqueças de pedir por favor". Macaquito chega à porta e grita bem alto para toda a gente ouvir:
-É UMA MINI PARA A MÃE! SAGRES, SE FAZ FAVOR!
sexta-feira, 3 de julho de 2015
Em jeito de agradecimento
Os conselhos da Mais Picante já estão a dar frutos, macaquita chora convulsivamente ao som de Bach, diz que prefere o Festival do Panda mas não, não posso consentir. Até já lhe disse que há meninos da idade dela a escrever a Identidade de Euler.
-Hein?! -responde-me um pouco descrente.
-É verdade, verdadinha. Não me digas que queres acabar como eu a escrever em blogs?
Como tal, ao fim de apenas dois dias, tenho aqui a prova de que as crianças se bem estimuladas conseguem tudo, querem ver? Querem? Querem? Claro que querem!!
Este jogo consiste em escrever as palavras representadas na imagem. |
Garanto-vos que foi macaquita quem completou todas as palavras recusando liminarmente a ajuda do irmão. E ela só tem quatro anos (quase 5 mas isso não interessa nada, se não serve para as vacinas também não servirá para medir QIs, não é NM?).
Cada letra tem uma combinação única, apenas encaixam se estiverem correctamente colocadas. |
Tenho de lhe dar crédito por ter percebido isso sozinha, ou não? |
Com macaquito a luta será mais difícil mas ainda chegará o dia em que conseguirei posts patrocinados (como a Palmier, que enfia latas de tinta na cabeça com umas tretas de que vai acabar com o blog mas no fundo toda a gente sabe que ela está a receber balúrdios em tinta só por causa daquele post!) e que não me fará passar mais vergonhas como aquela que descreverei em breve. Provavelmente no próximo post...
Post escrito em parceria com a avó...... (e o avô, o pai e alguns tios, cá por casa somos todos pouco dotados, por isso, faz-se o que se pode!!)
Subscrever:
Mensagens (Atom)