quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Somewhere over the rainbow...

Tem sido duro combater a falta de produtividade a que macaquito se entregou, chegar da escola com os dois e depois de devidamente alimentados, arrastá-lo para o quarto para que faça os trabalhos, são sempre poucos e demasiado fáceis, no entanto, nunca se passam menos de duas horas até que consiga terminar. De seguida, pego na irmã e em 10/15 minutos despachamos a parte dela. Estamos nisto há quase duas semanas, sinto-me como se estivéssemos no final do ano lectivo. 
Depois há as actividades extra-escola, concedi a macaquita que desistisse da ginástica porque quer aprender a tocar violino, macaquito continua mas ainda não tive vontade de o levar pois é mais um dia de corre-corre e foi-se-me a coragem. De hoje não passa, a motricidade dele assim o exige. Isso e natação. Ahhhhh! A natação... Querem saber o que aconteceu na segunda aula?
Desci para o balneário faltavam 5 minutos para acabar, cheguei à entrada e os torniquetes não abriam, ao fim de algumas tentativas lá passei, sigo em passo de corrida e dou de caras com a professora da escola de macaquita que muito aflita e enervada me explicava uma situação que tinha acontecido nessa manhã com uma mãe. Fui-lhe dizendo que sim, que compreendia mas tinha de seguir que os miúdos estavam sozinhos, continuou muito arreliada com a situação e eu a andar e ela a falar e eu a pedir e ela a explicar e a muito custo lá chego ao balneário onde já se encontrava a professora de natação que me disse que não havia problema nenhum e que eles já estavam a tomar banho. Acabei de os lavar e vestir e aparece-me uma senhora, aparentemente uma daquelas mães perfeitas, que me diz de dedo no ar e aos gritos.
-SE O SEU FILHO NÃO TEM CAPACIDADE PARA TOMAR BANHO SOZINHO, TEM DE VIR MAIS CEDO PARA O BALNEÁRIO!!
A ira tomou-me, não fosse eu uma pessoa ponderada e ter-lhe-ia enfiado um dedo no olho e um pontapé no cu. Olhei para ela com a minha pior cara e respondi-lhe calmamente.
-Se a senhora não tem capacidade para falar comigo com educação pode voltar pelo caminho que a trouxe aqui.
Ela gaguejou e mostrou-me as calças molhadas. Ela estava vestida na zona de chuveiros, é normal que qualquer criança com mais ou menos CAPACIDADE possa molhar quem ali passa visto que estão com os chuveiros na mão. Pedi desculpa pelas calças e voltei ao meu martírio, controlar a vontade obsessiva de macaquito de fechar as 4576 portas dos cacifos e experimentar todos os secadores independentemente de estarem a ser utilizados por outras crianças ou não. Sentia-me tão desesperada que um pai que ali estava veio em meu auxílio e sossegou o meu filho com uma advertência e depois me disse que era apenas para não ser só eu a ralhar que macaquito já nem me estava a ouvir. 
Ontem, à saída da escola, quando chegou ao portão, deu duas cacetadas na cabeça da irmã, porquê? Porque ela chegou primeiro, chamei-lhe a atenção e começou a gritar enraivecido e completamente descompensado. Sabem o que me irrita? Os olhos minha gente, os olhos, fui condenada de imediato por todas as mamãs que ali estavam, excepto as que me conhecem, essas olham-me com pena... Ainda não descobri o que é pior! Peguei-lhe na mão sem dizer nada e segui com o sorriso do senhor Zé da portaria, esse sim, entende-me. Ao entrar no carro disse-lhe sem levantar a voz.
-Estás de castigo, hoje não vês televisão, se a mana quiser ver não poderás entrar na sala. Foi a última vez que gritaste comigo, não te aceito esse comportamento e não quero ouvir qualquer tipo de desculpa porque não tolero má-educação.
Pediu-me desculpa sussurrando que eu bem ouvi e não abriu a boca até casa.
Após o lanche fizemos os trabalhos de casa e pela primeira vez, fez tudo de seguida, sozinho, apenas com supervisão e algumas perguntas para tirar dúvidas, terminámos em 40 minutos. Dei-lhe um abraço e disse-lhe.
-Foste perfeito, maravilhoso, espero que a partir de hoje, fazer os trabalhos de casa seja sempre assim divertido.

terça-feira, 27 de setembro de 2016

Sonhos a pedido

A caminho da escola passamos ao lado da escola de uma amiguita de macaquito, ele prontamente se lamenta.
-Tenho tantas saudades da Leonor, até sonhei com ela esta noite.
-E eu? Também estive no teu sonho?-pergunta a irmã.
-Não, só a Leonor. 
-Sabes? Eu sonhei que fui ao Mac com a mãe.- diz ela meio amuada.
-E eu? Também fui?-pergunta ele.
-Não, tu ficaste em casa com o pai.
-Não fiquei nada, o pai entrou no meu sonho e a mãe também, por isso, não foi contigo a lado nenhum.

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Macaquita a poliglota

Macaquita adora "queijo da vaca que ri", outro dia não havia do normal em caixas grandes, por isso, pai macaco trouxe "light" com o argumento de que é tudo a mesma coisa. Ela olhou para a embalagem e saiu-se com esta:
-Ainda bem que não trouxeste queijo da vaca que ri de noite, gosto mais deste da vaca que ri de dia.
Ela não sabe inglês mas a analogia é maravilhosa.

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Coisas

Após uma semana de aulas, tenho muito para contar, não vos direi a cor das mochilas ou a marca do material escolar, estará obviamente subentendido que para ela "tudo cor-de-rosa" e para ele será sempre azul, tirando o dossier que por motivos lá dele "tinha de ser vermelho".
Primeiro dia dentro das expectativas, macaquita transbordando felicidade por assumir o papel de "crescida", uma maturidade e comportamento na sala de aula pouco habitual nesta idade mas que acaba por não me surpreender, apesar de tudo soltou a lágrima (também esperada) na hora de se despedir. Emocionalmente é um bebé, dizia-me ontem que sempre que a deixo "sente uma coisa na garganta, como quando vamos começar a chorar" e é por isso que me pede que vá embora a correr.
Macaquito preocupa-me, muito. Nunca o vi tão triste como este ano, pede-me todas as noites que não o leve de novo à escola, não trabalha na sala de aula e passamos uma espécie de martírio para fazer os trabalhos de casa. Está demasiado "longe" e não sei como o alcançar mas sei que chegarei lá e depressa recuperará o entusiasmo.
Esta noite, quando deitava a pequenita, ela contou-me os seus problemas com as ventosas dos polvos, diz que lhe metem medo e que seria incapaz de os comer. Disse-lhe que já comeu várias vezes e que apesar de não ser fã do arroz de polvo, que em salada é muito melhor e que tenho a certeza que gosta.
-Podes fazer para ti para eu te ver comer?
-Claro mas tu já comeste e também vais comer e gostar.
-Não me parece.
-Lembras-te das ameijoas? Também dizias que não gostavas e depois zangaste-te com o pai.
-Zanguei-me com o pai?
-O ano passado em Porto Côvo, o pai estava a comer ameijoas e tu não querias provar, provaste apenas no fim e já não havia mais, quando percebeste que gostavas chamaste-lhe guloso!
Largou-se a rir e depois disse-me que não lhe contasse mais nada porque estava a ficar "com aquela coisa na garganta" e não queria chorar. rimo-nos as duas e ouvimos um grande Shhhhhh vindo do quarto de macaquito.
Fui até lá, pediu-me que me deitasse com ele e que lhe explicasse porque me estava a rir com a irmã. Disse-lhe que tinha contado uma parvoíce e daí nos termos rido.
-Posso contar uma piada? -perguntou.
-Só uma, depois dormir.
-Sabes o que o lenhador diz para o pescador?
-Não.
-Tira um bacalhau da cartola!

Ainda me estou a rir...


terça-feira, 13 de setembro de 2016

O jardineiro faz anos



Papá macaco faz anos, macaquita não deixaria passar o dia sem o respectivo bolo, passámos a manhã na cozinha e ela contribui com ajuda que nem gente grande. Quiseram fazer desenhos para oferecer, como sempre pedi que me explicassem.
O de macaquita é a família num coração, amei o facto de não ter desenhado bonecos como habitualmente, de nos ter representado em círculos coloridos. De seguida perguntei a macaquito:
-Então o verde é a relva e no meio o corta-relva!
-Hã?!
Realmente o pai ontem pediu-me uns vasos para pôr salsa e coentros...

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Preto com apontamento em amarelo

A avó pegou nos dois macaquitos e foram para a festa da cidade, que por acaso mas mesmo muito acaso, até é a minha cidade natal. A minha mãe fez questão de frisar que apenas me contou isto porque estavam lá muitos amigos meus e eu iria acabar por saber, isso deixa-me um problema, acho que lhe vou chamar um problema de confiança mas adiante.
Chegaram à festa, a banda tocava animadamente e eles foram para a quermesse tirar rifas, a minha mãe assegura-me que tinha os dois pela mão mas tendo em conta aquele problema de confiança referido acima, sinto-me na obrigação de desconfiar. De repente, vem uma revoada (de pessoas não aves) e macaquito  desaparece no meio da multidão. A avó corre, a avó grita por ele, a avó muito provavelmente chora que eu conheço-a muito bem mas macaquito não se encontra em lado nenhum. A avó explica que primeiro suou e depois ficou gelada, bem feita digo eu, por achar que me pode enganar.
De repente, a música pára e ouve-se isto no recinto da festa:
-Atenção, muita atenção. Está aqui um menino perdido, um menino com uns óculos amarelos.
-É meu! - grita a avó e corre para a zona do palco (este sentido de posse irrita-me um bocadinho "É meu, mãe. Meu!"). Donde está percebe que macaquito pede o microfone ao músico.
-Avó desculpa ter-me perdido, foi sem querer, desculpa. - de seguida vira-se para o público e continua. 
-Meus senhores, peço desculpa por ter parado a música mas era uma emergência. Podem continuar a festa, boa noite!
Deu um abraço ao vocalista da banda que antes de recomeçar a tocar, disse para toda a gente ouvir que aquele era um miúdo muito especial. 
"Que orgulho, meu filho, vou dar-te uma medalha de desenvecilhamento!"
No fim disto tudo, só faço uma pergunta:

Óculos amarelos?