terça-feira, 29 de setembro de 2015

A angústia

Macaquita mudou de escola, a adaptação não tem sido fácil contra todas as expectativas, minhas e dela. Chora copiosamente para ficar, chora às refeições, chora nas brincadeiras, chora logo que acorda só de pensar que tem de ir. Uma manhã destas tinha acabado de a deixar, depois de uma cena dramática ao estilo novela mexicana, percebeu que o portão estava aberto, pediu para ir à casa de banho e fugiu. Percebi-lhe os gritos, antes que conseguisse chegar à rua.
No final do dia que é quando apresenta o seu maior sorriso, perguntei-lhe porque chorava tanto, queria entender o que a deixava tão triste e por que motivo não gostava desta escola, ao que me respondeu prontamente.
-As professoras ralham comigo.
-Eu também ralho contigo e tu não choras.
-Sim mas eu gosto muiiiittttoooooo de ti e delas não!

domingo, 27 de setembro de 2015

O Flip e o Willie

Algumas crianças têm amigos imaginários, a imaginação de macaquito leva-o num sentido um pouco diferente. Fomos passear ao "nosso sítio preferido", um pequeno ancoradouro em madeira à beira rio onde lhes dou a liberdade de se descalçarem, molharem os pés e sujar-se à vontade. Os chorões que antes nos permitiam estar sempre à sombra foram cortados, sentámo-nos no chão e macaquito mergulhou os pés.
-Mamã, apresento-te o Flip, o pé esquerdo e o Willie, o pé direito. Diz olá ao Willie. - disse, emergindo o pé e virando-o na minha direcção.
-Olá Willie, está tudo bem?
-Oh sim! Estou bem e tu como estás Be?- acho engraçado que me trate pelo meu nome próprio, afastando qualquer hipótese de maternidade com um pé.
-Também estou bem.- respondo e ele mergulha o pé de novo e diz com uma voz muito angustiada.
-Estou a afogar-me e agora quem me vem salvar?
-Talvez seja boa ideia pedires ajuda ao Flip.
-Fliiiiiippppppp, ajuda-me, por favor. - põe o pé esquerdo debaixo do direito, empurra-o para fora de água e retomamos as apresentações.
-Olá, eu sou o Flip, como se sente Be?
-Olá Flip, estou com algum calor, o sol hoje está muito quente.
-Pois está mas eu estou fresquinho aqui dentro de água com o meu amigo Willie.
A conversa continuou por mais algum tempo mas sem sombra o calor começou a tornar-se insuportável.
-Macaquito, está muito quente aqui, tira os teus amigos da água e vamos mudar de sítio.
-Ok mãe, vamos para aquele lado que ali não está sol.
Mesmo ao lado tem uma rampa de cimento que permite acesso ao rio aos canoistas, sentei-me no chão e ele na ponta com os pés de novo na água, a dada altura pôs-se de pé, o Flip e o Willie escorregaram no lodo e caiu de rabo dentro de água, não contive o riso, ele atrapalhado não sabia se havia de rir ou chorar. Olhou para mim, um pouco indignado por me estar a rir dele mas depois largou a rir também.
Rimos a bom rir durante cinco minutos. Pedalou de cuecas até ao estacionamento, fresquinho e feliz!

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Já posso falar do Outono?

A Xaxia fez serviço público e eu aproveitei a informação. Como macaquito gosta sempre de saber "hoje é dia de quê?", peguntei-lhe pela manhã:
-Sabes que dia é hoje?
-Não mamã, é dia de quê?
-Hoje começa o Outono.
-Isso quer dizer que agora tenho de ir muito tempo para escola??!
-Sim, quer dizer que estás no início do ano escolar. Tens toda a razão.
Podia ter-lhe dito que é nesta altura do ano que as árvores ficam mais bonitas com todas aquelas cores, que os dias ficam mais pequenos e mais frios, que começamos a vestir roupas quentinhas e os cachecóis que ele tanto adora, podia ter-lhe dito que falta pouco para acendermos a lareira e assarmos castanhas, podia ter-lhe dito tantas outras coisas mas tal como ele, sinto que o ano começa agora e não em Janeiro, sinto também uma estranha dor de barriga...

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Probabilidade muito alta

Ao jantar e vindo do nada, esses nadas que por vezes tenho alguma dificuldade em perceber.
-Papá, tenho pena de ti. - diz macaquito com um ar muito triste.
-Pena de mim? Então porquê?
-Porque quando tu fores velhinho vais morrer.

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Politiquices

Apesar de tentar levar o blog da mesma forma que levo a vida, por vezes tenho de trazer temáticas mais sérias, sim porque a vida de macaco não é só galhofa. Porque os ministros e os seus boys, ou bois o que vos aprouver chamar-lhes, tomam as decisões mas fica para os profissionais a difícil tarefa de as comunicar a quem de direito, fiquei a saber pela terapeuta ocupacional que macaquito vai passar a ter terapia apenas de 15 em 15 dias. Isto porque a outra TO foi embora, não sei se porque se fartou ou porque acabou o contrato e apesar do pedido de outro terapeuta ou estagiários, esse pedido foi recusado, portanto fica um hospital que serve uma enorme população com apenas uma terapeuta. Há demasiadas crianças a precisar e alguém tem de sair prejudicado, neste caso, macaquito é um dos "sorteados". Nas palavras da terapeuta, por quem tenho o maior respeito e admiração, macaquito fez uma grande evolução e vive num contexto familiar que lhe permite apenas dar as orientações necessárias para que ele trabalhe em casa e em contexto escolar, claro que ele precisa de mais e vai sempre precisar mas ela é só uma e mais não pode fazer. E eu também não, a menos que me dedique a assaltar bancos, coisa em que tenho pensado bastante, visto estar na moda e ninguém sair punido.
Que ministérios são estes, que governo é este em que trabalham apenas máquinas calculadoras que não olham a meios para fazer crescer os números?
Depois leio os números da educação especial, apenas meia hora por semana de apoio a crianças com necessidades especiais, as crianças são cada vez mais (43 mil o ano passado para 79 mil este ano), o número de professores não acompanha essa escalada. A falta de seriedade com que Nuno Crato encara esta temática é desmotivadora para quem luta pelo futuro destas crianças, crianças que são apenas problemas administrativos aos olhos deste energúmeno.
Continuarei a correr atrás do futuro dele, pelo menos enquanto as minhas pernas e a minha carteira permitirem, sei que nem todos têm a sorte do meu filho. Custou-me durante muito tempo compreender o porquê de me dizerem que macaquito tinha sorte de ter nascido no seio de uma família como a nossa, que tinha uma mãe que fazia o que poucas eram capazes de fazer, achava que eram palavras da boca, mais tarde percebi que não, que eram palavras do coração, palavras de quem conhece uma realidade que me passava completamente ao lado. Percebi que muitas mães não correm tanto como eu, porque lhes falta a força, o dinheiro, o conhecimento, a formação, sei lá, nestes casos, ninguém se substitui a elas. Estes miúdos também não vão correr, ora se já lhes cortaram as pernas.

Ordens são para cumprir

A terapeuta ocupacional tirou a sessão para uma reavaliação, reavaliação essa que exige a apreciação de vários parâmetros,  cognitivos e motores. Eu estava fora da sala, visto que ele trabalha melhor sem a minha presença quando tem de estar mais concentrado. A dada altura, a terapeuta pedia-lhe que imitasse situações do dia-a-dia para avaliar a praxia ou planeamento motor. Consiste na habilidade de imaginar e conseguir reproduzir situações sem ter objectos que o assistam na tarefa. No caso dele é complicado, é ainda bastante imaturo devido à dificuldade na integração sensorial. Assim, começou por pedir-lhe que lavasse os dentes, que se penteasse, calçasse os sapatos, fizesse uma chamada com o telemóvel, isto tudo reitero, sem qualquer objecto nas mãos. Fui ouvindo tudo o que se passava e conseguia perceber pelas reacções da terapeuta como se estava a sair.
-Agora penteia-te. Muito bem! Agora estás a lavar os dentes. Ok! Agora faz de conta que estás a cortar o pão com uma faca.
-Aaaaahhhhh não! Não e não! Isso não! A minha mãe não me deixa mexer em facas!




Pontos de vista

Chegámos à terapia e, para gáudio de macaquito, não havia sítio para estacionar. Assim tivemos de subir ao parque de cima que fica muito mais longe mas que dá para fazermos corridas até cá abaixo. Azar dos azares também não havia lugar e tive de dar a volta num local um bocado estreito, enquanto fazia a manobra reparo que umas senhoras saíam e aguardei para ver se arranjava lugar, elas ficaram um pouco à conversa.
-Estás à espera de quê?
-Estou a ver se aquelas senhoras têm carro e se arranjo lugar para o nosso.
-Apita, mãe!
-Não posso apitar, sabes bem que não posso.
-Claro que podes apitar, é uma situação de perigo.
-Perigo? Então explica lá onde está o perigo.
-Perigo para as senhoras, se não saírem dali depressa!

terça-feira, 15 de setembro de 2015

Manel, o eremita

Férias significam, para alguns, não ter horários, nomeadamente, não ter horários para acordar. Com dois macaquitos em casa, isso torna-se missão quase impossível. Macaquita ainda dá umas tréguas, já macaquito tem fome, tem sempre fome, não lhe consigo matar a lombriga que lhe consome os quilos de comida que enfarda por dia, por isso, no máximo por essas 8 horas da matina oiço a sua voz:
-Mamã, vais arranjar-me papinha? Estou cheeeeiiiiiiiooooo de fome!
Sempre do meu lado da cama, entra, finge que dorme durante 5 segundos, dá-me umas quantas patadas, uns beijinhos, mexe e remexe no meu cabelo e lá arranja coragem para angariar comida com a frase sempre precedida da palavra mãe.
Uma dessas manhãs de férias e já de barriga cheia, depois da rotina que impunha a si próprio de abrir todas as portadas e a porta para a rua, macaquito vai até  à piscina e volta agitado.
-Mamã,  está ali um caranguejo eremita.
-Onde?
-Ali, ao pé da piscina. Anda ver.
Entretanto, macaquita já acordara e lá fomos todos investigar o caranguejo.
-Podemos pô-lo na piscina? - pergunta ele.
-Claro que não. É de água salgada, se puseres na piscina acaba por morrer.
-Então o que fazemos? Podemos ficar com ele? - pergunta macaquita.
-Eu acho que é melhor guardá-lo ali no balde e depois deixá-lo na praia. Assim ele pode voltar para casa.
Como tínhamos decidido ir passear (e procurar a gelataria dos gelados sem lactose) a Vila Nova de Mil Fontes ficou decidido que o caranguejo "eremita", que não era Pylopagurus mas um qualquer caranguejo comum, se chamaria Manel e ficaria ao largo da ilha do Pessegueiro que nos ficava em caminho.
Lá fomos nós, parámos ali juntinho à praia, mãe e rebentos desceram as rochas que me valeram um furo num dedo do pé graças às vertigens de macaquito e ao escândalo que fez para descer sozinho de um metro de altura. Calcorreámos a areia de baldinho na mão, sob o olhar incrédulo de pai macaco que acha que eu sou mais tonta que os dois putos juntos, molhamos os pés na ondas e soltámos o Manel em direcção ao horizonte.
Fizemos o nosso passeio, tirámos fotografias junto ao rio que cruza ali mesmo com o mar, comemos gelado de manga sem lactose que "foi o melhor gelado que comi em toda a vida" e voltámos a Porto Côvo.
Quase a chegarmos, macaquito pergunta:
-Mamã, achas que o Manel já chegou a casa?
-Sim, claro. Já deve ter chegado.
-Esta noite já vai jantar com a sua família!
E ficaram felizes porque salvámos a vida ao Manel e o Manel era só um caranguejo...

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Ceia??

Obrigatório nas férias é passar no "Café do Zangado" (é assim que macaquito lhe chama, até hoje não percebemos porquê) e comer uns belos caracóis. Confesso que vou sempre na expectativa de que me reconheçam depois da história da "Xebeja" mas é ali que os caracóis são de comer e chorar por mais. 
Aproveitámos um dia em que o vento não nos deixou gozar praia. Conversámos imenso, demos umas gargalhadas em família e a dada altura macaquito perguntou:
-Mamã, isto é jantar?
-Não, claro que não. Então se ainda é de tarde, é lanche.
-Então e quando bebemos o leite à noite, chama-se quê? Reabastecer??!

terça-feira, 8 de setembro de 2015

Quem muito fala...

Macaquito fala, fala muito, que é como dizer, não se cala um minuto, fala sozinho enquanto brinca, fala ininterruptamente durante qualquer viagem de carro, fala durante as refeições, até a dormir fala. Os silêncios dele são apenas quando entra no mundo dele, se estiver distraído com alguma coisa  ou na presença de muitas crianças pois prefere isolar-se a ter grande interacção social mas esses momentos são sempre breves.
Enquanto brincava na piscina, debitava todos os seus pensamentos e perguntava tudo o que achava que tinha de ser perguntado.
-Mãe, vais ler esse livro todo? Faltam quantas páginas? 300??? Isso são muitas páginas! Vou dar um mergulho. A água está boa. Onde é que eu estava? Neste quadrado? Agora vou saltar deste.
Mergulha e assim que põe a cabeça fora de água, continua.
-Senhor, a sua filha não vai à piscina? Ela está com frio. Quantos anos tem? A minha mana tem cinco. Já sabe nadar. Eu também sei nadar mas tenho de usar o colete porque a minha mãe quer. 
-Macaquito, sossega, não sejas aborrecido.
-Mas mãe, eu tenho de dizer. Vais ler o livro todo? Porque é que gostas de ler? Agora vou mergulhar deste quadrado. Viste mãe, foi um mergulho espectacular. Vamos jogar um jogo?
-Sim, está bem. Que jogo queres jogar?
-Não sei, mamã, escolhe tu.
-Vamos jogar o jogo do silêncio, o primeiro a falar perde.- disse-lhe antecipando a reacção, o casal que se encontrava na piscina, olhou-me e sorriu. Colocou as duas mãos na boca, torcia-se e retorcia-se, apertava os lábios com força, sem nunca parar de rir, um riso nervoso. Ao fim de cerca de 30 segundos, tirou as mãos da boca.
-Desculpa mãe mas não consigo jogar esse jogo!

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

De volta


Após alguns dias de descanso, praia e muita brincadeira longe de casa, das internetes e afins, estamos de volta. Temos histórias novas para contar...

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

As pedras

Sentada na toalha Macaquita encontra uma pedra preta, faz força e parte-a ao meio.
-Mamã, está pedra não tem água.
-Claro que não, as pedras não têm água.
-Ai não? Então como é que os senhores fazem Água das Pedras, daah.