quinta-feira, 27 de outubro de 2022

Porque podes

Tudo o que ele quer é ser. Ser amigo, ser colega, ser aluno, ser filho, ser parte. De alguma coisa. Ser da turma, ser da escola, ser da equipa, ser da família. Sem filtros, sem rodeios, sem fingimentos.
Tudo o que lhe pedimos é que seja igual aos outros quando nós, os outros, queremos todos ser diferentes. Tudo o que lhe pedimos é que se submeta às regras bacocas e hipócritas duma sociedade pouco consciente e perversa, que, no entanto, sabemos estar a descambar e mesmo assim pedimos.
Que não tenha discursos disparatados, "ninguém percebe onde queres chegar...".
Que não sacuda as mãos, "parece que vais voar…"
Que não se isole, "assim não vais ter amigos…"
Que não se pendure "estás a ser aborrecido…"
Que não conte coisas "falas demais…"
Que não se feche "tens de dizer o que sentes…"
Vivemos de causas inúteis com a função única de conquistar audiências mas esse não é o mundo dele como não deveria ser o de ninguém. Se tudo o que ele quer é fazer parte, porque não preservar esse querer, de ser de toda a gente, igual a toda a gente mesmo igual aos que só querem ser diferentes. 
Se tudo o que ele quer é SER, deixem-no ser, o que é, como é! Livre, imperfeito e genuíno.


terça-feira, 25 de outubro de 2022

Este palerma que até o lanche me pede...

Ligam-se da escola de música para tratar de uns procedimentos administrativos, depois de tudo tratado:
-Tenho de te dizer isto, o teu filho é o máximo! 
-Então? O que é que ele inventou desta vez? - pergunto.
-Passou aqui a correr e a disse-me: "Bem, vou ali buscar as minhas coisas depressa. Tenho de ir para casa adiantar o jantar!"


sexta-feira, 14 de outubro de 2022

15 anos a arrancar suspiros... e olhos!

 

Hoje celebramos cada palavra, as que tardaste a dizer e as tantas que já te escrevi, nenhuma, por mais valiosa, te fará justiça.
Hoje celebramos a imensidão de tudo o que és e ainda mais, o quanto me fizeste crescer, o tanto que aprendi contigo.
Hoje celebramos todas as cicatrizes, celebramos cada uma delas porque cada uma delas tem uma história, um momento de aprendizagem, um abraço mais prolongado.
Hoje celebramos todos os meus medos, as minhas inseguranças, os suores que me encharcam as noites até que me despertas com respostas audazes ou aos tropeções mas sempre caminhando num sentido qualquer. 
Hoje celebramos a esperança, de poderes ser qualquer coisa, de te permitires ser esquisito, dos que te negam qualquer simpatia poderem ter a lucidez de um dia serem um bocadinho como tu.
Hoje celebramos todas as pessoas a quem pertences, que fizeram da tua história parte da história delas e sustentam a minha esperança na verdadeira inclusão.
Hoje celebramos todas as dúvidas e incertezas e a tua obstinada determinação em fazer tudo o que te vaticinaram ser negado.
Hoje celebramos 15 anos de ti, do dia em que o meu coração ficou tão grande que deixou de me servir, deixou de ser meu, passou a ser nosso. Desde então, sei que cumpriste à regra o teu propósito, o de fazer do mundo um sítio incrivelmente mais divertido e feliz.





quinta-feira, 13 de outubro de 2022

Quando tudo se perdoa

Ao almoço, macaquito senta-se numa mesa de quatro onde estão apenas  três miúdas. A fedelha mais nova, 12 anos, muda de mesa e chama as colegas que acabam por ir perante a insistência. Macaquita assiste a isto da mesa ao lado e vai chamar uma das responsáveis do refeitório que dá um sermão à fedelha. Esta desmente tudo mas, sobejamente conhecida pelas atitudes de merda, não engana ninguém... Porque tudo lhe é perdoado, porque é da casa, porque é uma miúda e porque "eu também era assim"! 

Não são imprevistos, não são acidentes, são atitudes deliberadas de miúdos a quem todos os erros se desculpabilizam e se escusam consequências. E não quero ser juíza da educação alheia, muito menos parecer que sou melhor do que os outros mas porra, já não é de ânimo muito leve que engulo a mesma sopa todo o santo dia. 

sexta-feira, 7 de outubro de 2022

Sempre refinado...

 Enquanto brincava com o meu cabelo:
-Olha mãe, tens um cabelo branco! - diz-me abismado.
-Só um?! - respondo eu.
-Só um? - repete macaquita. -A mãe tem uma madeixa de cabelos brancos mesmo à frente.
-Não é uma madeixa, é cabelo de velha mesmo!