Eu preciso de ajuda, por vezes precisava que alguém me ajudasse com os banhos nos dias que o pai não está em casa. Ou de ter alguém que os fosse buscar à escola certos dias, por certas razões. Uma mão convinha tanto naqueles dias em que o cansaço mental se sobrepõe ao do corpo.
As únicas mãos disponíveis estão à distância de demasiado tempo, então fico-me sem amparo mas com genuíno entusiasmo no meu trabalho de mãe, trabalho esse que acredito fazer muito bem sem conselhos de especialistas e sem leituras de psicólogos e psiquiatras do escaparate da livraria.
Li por aí que os miúdos hoje em dia são mal educados e que há pais que lhes absolvem os comportamentos com gotas de Ritalina, quando se podem resolver comportamentos desviantes com um bom par de palmadas na opinião de uns ou com boas leituras a ver de outros. Eu, não sendo especialista de nada, venho desmistificar. A hiperactividade não pode ser diagnosticada pelos pais e a medicação, aplicada em casos de hiperactividade, não se compra como se de Benuron se tratasse, logo, se a criança que é apenas mal-educada está medicada, ter-se-ia de aplicar um açoite ao médico que a diagnosticou. Quem acha que um livro é a solução é porque vive numa realidade paralela à dos pais com crianças problemáticas, leia-se por problemática criança com problemas, os problemas podem ser tantos e de tantos foros que me escuso a relatá-los todos, falarei apenas da minha experiência pessoal.
Houve uma altura que macaquito, sempre que saia de casa e cruzava uma qualquer porta, largava a chorar, pedia insistentemente para ir embora, gritava e fazia disparates até sairmos de novo. Foi de repente, o autismo não estava ainda diagnosticado, não havia motivo aparente para se comportar daquela maneira e eu não conseguia lidar com aquilo. Nunca lhe dei a bela da palmada, nem berrei com ele no meio da rua porque "a emenda seria pior que o soneto". Normalmente um colo ajudava mas não resolvia. Vi muito revirar de olhos e muito abanar de cabeça mas de todas as vezes que aconteceu, muitas estava com a mais nova de 2 anos ao colo, tinha de pegar nele para que sossegasse e ficar com os dois ao colo e NUNCA ninguém me ofereceu ajuda.
Marquei consulta numa psicóloga que me deu algumas estratégias que ajudaram, nenhuma delas passava por castigá-lo, bater-lhe ou berrar com ele, nem por medicação de género nenhum, nunca foi sequer sugerido. Durante as várias consultas que teve com ela, nenhuma razão foi encontrada para aqueles comportamentos, também nunca me falou em autismo. Apesar da ajuda nas estratégias, aprendi a gerir as birras sozinha, a conviver com elas e com aquilo que os outros pensavam de mim e da educação que dou aos meus filhos. Com tudo isto quero apenas dizer que os médicos são falíveis, os pais também e não há verdades absolutas, pelo menos no que concerne à educação infantil.
As nossas palavras podem ser monstros nas vidas de estranhos e nós dormimos tranquilos a pensar que sabemos tudo.
As nossas palavras podem ser monstros nas vidas de estranhos e nós dormimos tranquilos a pensar que sabemos tudo.
A tua última frase devia ser enquadrada, ou feita mantra.
ResponderEliminarOlha, eu fazia birras monumentais no meio da rua, atirava-me para o chão e tudo. A minha mãe não batia, não ralhava, só tentava perceber. Não sei como nunca perdeu a cabeça nessas ocasiões.
Nós só percebemos o que as mães passam quando também já somos mães...
Eras uma criança cheia de personalidade, olha onde isso te levou ;)
EliminarSer mãe (ou pai) dá-nos outra perspectiva.
Belíssimo post!
ResponderEliminarFoi dos nervos...
EliminarCheguei aqui pela "mão" da Mãe Sabichona e fiquei com um nó na garganta quando li este seu post. É tão, mas tão verdade o que escreve. Não há receitas universais. Cada caso é um caso. E a última frase faz-nos refletir sobre as (pseudo)verdades que circulam por aí. E, contudo, todos sabemos que é muito mais fácil educar os filhos dos outros...
ResponderEliminarUm beijinho
A forma como algumas pessoas falam chega a parecer soberba.
EliminarObrigada por vires, beijinho
Há muito quem procure respostas tabeladas e pré-defenidas e esquecem-se que a educação tem uma componente muito forte chamada Personalidade! Personalidade da mãe e do filho. E isso vai definir as acções e reacções de ambos. Como tal, as soluções nunca poderão estar definidas, escritas ou sabidas por médico nenhum... E por norma, atrás de toda a critica, reside uma personalidade da qual não sabemos nada! Resta-nos fazer o melhor que podemos com a vida que temos, sendo que se aplica a tudo, não só às crianças!
ResponderEliminarEu também leio, muito mesmo, especialmente no âmbito das doenças dele. Faço muita pesquisa, leio muitos livros, faço muitas perguntas a médicos e terapeutas e confesso que tenho aprendido muito. Mas aparece tanta treta também, tanto livro e crónica de encher chouriços. Temos de saber filtrar a informação e adequá-la caso a caso, no meu caso, tem dias que não sei nada!
EliminarBom dia Be.
EliminarCheguei "aqui" ao estaminé à muito pouco tempo e gostei muito do que aqui encontrei.
Uma questão, também eu tenho um filho com uma doença crónica e rara (nunca tinha ouvido falar até o meu filho ter nascido com esta maldita), mas ao contrário da Be tento ao máximo não procurar informação acerca da mesma, pelo menos na net é que os testemunhos são tão mas tão deprimentes que muito sinceramente prefiro ser informada pelos seus médicos assistentes. Cada vez que vou à net ver situações que estão relacionadas com a doença dele só tenho vontade é de chorar e de cortar os pulsos.
Não lhe acontece o mesmo?????
Quando ele foi diagnosticado (aos 5 dias por um acaso da sorte) o médico disse-me que se fosse pesquisar à internet me lembrasse que a internet é uma fonte de informação e não de conhecimento e que qualquer dúvida que tivesse que fosse ter com ele. Claro que pesquisei e o que vi era monstruoso, fartei-me de chorar. Aprendi a filtrar e claro que os médicos e terapeutas foram sempre as pessoas a quem pedi informação específica. No caso dele, por ter uma forma "minor" da doença os piores cenários não apareceram, no entanto, há uma possibilidade de ele ter outra doença (provavelmente rara e não diagnosticada) porque há sintomas que a doença dele não explica e os médicos não conseguem perceber.
EliminarO que fiz ao longo deste anos é insistir nas terapias e estimula-lo de forma a colmatar as falhas que as lesões neurológicas deixaram, devagarinho estamos a conseguir, o futuro é uma incógnita mas estou muito optimista.
Beijo grande
Como costumo dizer, para a frente é que é caminho.
EliminarOs piores cenários desta maldita doença espero não vir a presenciar, mas infelizmente só tempo o dirá.
Quando digo que tento não procurar informação, não falo de conhecer as suas características ou terapêutica existente, apenas prefiro não conhecer aquele lado negro do que aí pode vir.
Um dia de cada vez...
Beijos e abraço também para ti e outro para o "macaquinho".
É tão bom ler as vossas aventuras e desventuras macacas.
ResponderEliminarTenho uma pulga de 4 anos, dona de uma personalidade levada da breca e com tendência para o drama (ainda vai ganhar um óscar). Só lhe digo que ás vezes me apetece morder a quem nos olha de lado, com pena ou forma recriminatória...Aos donos da verdade, enfim....
Obrigada por vir.
EliminarBeijinho para a pulga
O teu post está excelente.
ResponderEliminarIsto até com os miudos é só "treinadores de bancada". Tudo cheio de certezas, só que não.
E sim, essa do "agora é só miudos hiper activos" mata-me. A minha questão é sp, depende, quem diagnosticou (mm não havendo medicação), os pais ou um, ou mais (é usual pedir-se uma segunda opinião), médicos (tipo especialistas, que se formaram na área, e q são capazes de perceber mais da poda do que eu!)??
Acho engraçado que todos levantem logo os dedos, cheios de acusação, q não são nada hiper activos, os pais dos dias de hoje é que isto e aquilo. Será que tb nunca ponderaram a hipótese de que sim, de facto hoje em dia até possam haver mais casos (e não só pq agora sabemos que nome dar, e como tentar lidar) precisamente pq muuuuita coisa nos dia de hoje não é igual ao que era há 30 ou 40 anos??! (Ainda hei-de divagar sobre isto lá no estaminé)
Treinadores de bancada é uma excelente analogia. Noutro dia, alguém, médico de profissão "questionou" várias vezes o autismo do meu filho (viu-o em 2 ocasiões, em ambiente de café/10 min)apenas porque ele sabe os nomes de quase todos os políticos, jornalistas, etc. E eu refutei que ele sabe muito mais que isso porque tem uma memória fora do comum e o senhor dizia que eu devia ver melhor, que estava mal diagnosticado que ele é mesmo é sobredotado...
EliminarDepois de tentar argumentar com ele e perceber que não ia a lado nenhum, disse-lhe "Pois! Se calhar é só isso!"
Ninguém sabe tudo. Mas há umas que sabem muito, mas muito mais, que as outras.
ResponderEliminarBeijinhos Bé.
Desde que o digam com jeitinho ;)
EliminarBeijo Xaxia
Be, adoro o teu texto, diz tudo e acabas com uma frase fantástica.
ResponderEliminarAinda ontem li uma dissertação de um pai no grupo do FB da Síndromr do X-Frágil. Ele é anti medicação, generaliza demais e fala/escreve como se fosse o dono da razão. Isto em resposta a uma mãe que queria saber se algum menino estava tomar a medição que o especialista queria prescrever ao seu filho. Já não basta todas as dúvidas que nos assolam, ainda vêm os donos da verdade.
Beijos, Be!!!
Ai os "antis", eles são anti-medicação, vacinação... só complicam!
EliminarBeijo
A questão passa pelo diagnóstico, claro está. Mas há médicos e clínicas especializados em fazer os diagnósticos que os pais querem ouvir, porque isso os desculpabiliza e os demite do papel de educadores: não são eles que não sabem educar, são os filhos que não são educáveis... Há uma clínica em Cascais que faz "copy/paste" de relatórios de hiperatividade em catadupa. Quase todos os adolescentes que lá vão trazem o mesmo relatório e as mesmas recomendações para os professores.
ResponderEliminarSou professora de 3º ciclo há já muitos anos e posso garantir-lhe que mais de metade dos alunos "hiperativos" que me aparecem são simplesmente mal educados, de tal forma que a sua "hiperatividade" não se manifesta igualmente com todos os professores e quando somos firmes com eles a "doença" desaparece temporariamente...
E por culpa destes, os verdadeiramente doentes é que sofrem pela indiferença e o cansaço público.
Não será certamente o caso de uma criança do espectro do autismo e e dou-lhe sinceramente os parabéns pelo trabalho de amor que é a sua vida. Já tive alguns alunos com Asperger e são um desafio maravilhoso, porque muito exigem e muito dão, e acabamos sempre a sentir que passam pela nossa vida para nos fazerem melhores pessoas.
Obrigada por vir aqui e deixar um olhar diferente, sem parcialidade. Eu tenho a certeza que essa realidade existe até porque conheço alguns casos, daí dizer que se há diagnósticos a pedido, os médicos deverem ter algum tipo de sanção, tal e qual como nas baixas fraudulentas e afins. O que lamento é que as pessoas tendam a generalizar e muitas vezes sem conhecimento de causa, para quem convive diariamente com certas "doenças" é desmotivante e até doloroso ouvir determinados reparos.
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