quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

Feliz ano novo

Sempre que macaquito traz um amigo cá a casa para jogar PlayStation, entrega-lhe o comando e fica o tempo todo a ver o outro jogar, o mesmo acontece quando vai a casa deles. Muitas vezes, quando o chamam para andar de bicicleta, fazem-no apenas para gozar com ele e estragam-lhe deliberadamente a bicicleta e ele no dia seguinte, torna a sair de casa para brincar com esses miúdos como se nada tivesse acontecido. Por muito que lhe digamos que se deve defender ou não ser amigo deles, ele não desiste, tem o coração maior que qualquer um de nós. 

Empatia, é o meu desejo para 2021! 


sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

Até os olhos brilharam

Numa das habituais consultas de neurologia, macaquito entra consultório dentro e 30 segundos depois de matar as saudades da sua querida doutora, agarra as rédeas aos procedimentos que conhece ao pormenor e arranca numa correria desenfreada de palavras e gestos:
-Descalçar os sapatos e despir o casaco, já sei. Vá Dra. pode pesar. - dizia já em cima da balança. - E agora medir. Pode ir buscar o martelo dos reflexos... 
A médica, a melhor do mundo, continua doce e paciente como no dia em que o conheceu, o dia em que ele nasceu e por isso deixa-o mandar e vai pedindo que ele faça o que é necessário pelo meio, tudo se desenrola perfeitamente no meio daquela confusão de ordens de parte a parte. A dada altura, ele pergunta:
-E o estetoscópio? Tem de me auscultar. 
-Não tenho aqui o meu mas vou ali buscar um num instante. - voltou passados uns segundos e pediu-lhe que se calasse um pouco ou não conseguiria ouvir nada. Ele calou-se, o silêncio invadiu o gabinete durante alguns segundos e a cara dele ficou muito séria. 
-Então? Está tudo bem comigo? 
-Estás vivo. -respondeu a médica a brincar. 
-Ufa, estou vivo! - atestou com alívio e entusiasmo. 

segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

Treze anos depois ainda sinto as mesmas dores, não falo delas aos meus filhos. Por muito optimista que sejamos, por muita sola que se ganhe ao caminhar descalço, há cicatrizes que perduram no tempo e percebo que as carrego no olhar quando ela, tão pequenina me diz:

-Eu sei que não é a mesma coisa porque o mano não morreu mas tu já sentiste o que eles estão a sentir, não foi? - limpou-me a lágrima que teimou em soltar-se e voltou para as suas brincadeiras. 

Não sei que dor é essa, a de perder um filho, admiro profundamente quem a consegue superar. 

domingo, 6 de dezembro de 2020

Parece-me que a ceia de natal vai ser cozido à portuguesa

Numa conversa sobre a estranheza do natal deste ano e do quanto sentiremos a falta das coisas e pessoas dos outros anos. 
-Já sei o que vou dar ao pai, eu sei que ele quer uma prenda. - diz macaquita.
-Então? 
-Vou dar-lhe um chouriço e uma farinheira! -não consegui disfarçar o riso. 
-Que é? É uma coisa que ele gosta, chouriço e farinheira... e aquela coisa que eu não gosto por causa do sangue. 
-Morcela?! 
-Isso, morcela. Tens de ir comigo para pagar mas eu é que escolho. Embrulha-se, ponho um lacinho e já está. 
Cá está, num natal que tem tudo para ser esquisito, um cozidinho não me parece nada mal e se sobrarem couves ainda dá para fazer roupa velha. 

quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Os que não se ajustam vão para onde?

Nunca tive intenção de fazer deste blog um muro de lamentações  mas hoje vou fazer umas queixinhas só porque me apetece e também vou dar uns conselhos, daqueles bons para engarrafar e só consumir em caso de muita necessidade. 
Para começar, invistam em crianças de qualidade, nunca mas nunca comprem os vossos filhos na loja do chinês, têm 99, 7% de possibilidades de eles virem com defeito e mesmo que pareça que não vos vai fazer diferença (e provavelmente não faz!) mas a longo prazo vão perceber que essas pequenitas imperfeições vão ter um impacto gritante na vida deles. 
Para qualquer comum mortal, um filho é sempre perfeito, no entanto aos olhos dos outros as coisas já não são tão terra a terra. Temos tendência a criticar mesmo que não saibamos tudo (ou mesmo nada!) sobre esses outros e por vezes as coisas não são tão simples quanto aparentam. No meu caso, o meu problema está exatamente do lado oposto. Os meus macaquinhos têm algumas desconexões ao nível cerebral e não há ninguém mais ciente disso do que eu, sou a primeira a assumir que o defeito é com certeza da fábrica, provavelmente deveria ter escolhido outro pai ou o pai deveria ter escolhido outra mãe mas agora o mal está feito e na falta de tratamento metem-se uns remendos. 

Agora mais a sério porque o que quero mesmo é falar de inclusão, esse tema tão bonito e floreado nos discursos de tanta gente mas que em Portugal só acontece assim muito, muito ao de leve. 
Bonito e floreado seria não termos  falar deste tema, significaria que tudo seria perfeito, que existiam acessos para cadeiras de rodas em todos os espaços públicos e privados, a construção era feita de antemão a pensar nos cegos, nos surdos e mudos, as exposições de arte, o cinema, o emprego e a escola seriam pensados para todas as pessoas independentemente da sua condição. Isto é utópico? É! Tenho consciência disso mas não é de todo utópico pensar que no século XXI todas as escolas estariam dotadas de professores, pessoal técnico e auxiliar formado para receber crianças e ensiná-las de acordo com as suas diferenças, fossem elas de que foro fossem. 

Ter dois filhos com necessidades educativas especiais, obrigou-me a arregaçar as mangas, obrigou-me a aprender coisas que nunca me passaram pela cabeça, sou mãe, educadora, terapeuta e professora dos meus filhos e tem dias que toda a logística que isso envolve me deixa completamente de rastos. É para mim inconcebível que os meus filhos tenham vedações só porque não nasceram iguais à maioria e porque os pais não têm condições financeiras para lhes proporcionar equidade. Por isso vou à luta, tento de todas as formas que a escola, pelo menos a escola, seja inclusiva e confesso que não está fácil. Ao longo dos anos tenho conhecido os melhores profissionais, alguns professores, técnicos, terapeutas, e auxiliares que mais que profissionais são pessoas com um coração enorme e que travam lutas iguais à minha pela igualdade mas há sempre o outro lado, aqueles que se estão pura e simplesmente a cagar ou aqueles que estão tão cientes de si próprios e daquilo que (não) sabem que se esquecem que os miúdos, mesmo os "normais" são todos diferentes e que por isso necessitam de abordagens diferentes.

Com o ingresso de macaquita no quinto ano os nossos problemas quadruplicaram, estamos em fins de novembro e vejo-a afundar-se e desmotivar dia após dia. Passamos a maioria das suas tardes livres a estudar, a rever aulas, conceitos e a aprender a interpretar questões. Não tendo especificamente problemas de aprendizagem mas com todas as lacunas diagnosticadas ao nível da linguagem, léxico, fonologia e interpretação, défice de atenção, etc, as notas não são brilhantes e tudo o que precisava era de alguém que lhe lesse os testes ou de ter testes de pergunta direta. Imaginem que se munem de relatórios médicos, decretos e bom-senso e pedem reunião com quem de direito para invocar aquilo a que ela tem direito e ouvem como resposta que enquanto não tiver negativas, a educação especial não pode intervir ou " Desculpe, eu não sou médica e não quero invalidar o que está escrito nestes relatórios médicos mas para mim a sua filha não tem problema nenhum, ela é só infantil!" ou ainda, "Ela só é assim porque tem a muleta da mãe, tem de deixar de fazer trabalhos com ela ou corrigi-los pois ela assim traz tudo certo para a escola e os professores não ralham com ela."
O problema afinal sou eu, os meus filhos têm uma mãe que pelas piores razões tem tempo para eles, portanto, trabalha com eles diariamente para que eles consigam realizar aprendizagens que não são conseguidas na escola porque na escola se ensinam todas as crianças da mesma maneira, independentemente da sua capacidade de aprender. E se não aprender? Não faz mal porque ao final do ano passam todos mesmo que não tenham aprendido nada. Grata por ter na mesma sala a professora da educação especial que conhecendo macaquita de anos anteriores e que me conhece também muito bem, percebeu que eu estava a um milissegundo de explodir, contradisse educadamente a professora em questão e disse-lhe que ia encaminhar macaquita para as terapias necessárias, em conversa privada comigo disse que eu estava a fazer tudo bem porque conhece e muito bem os meus filhos e sabe o quanto eles necessitam desse trabalho individualizado. Eu também sei que sim, que faço um trabalho fantástico e que seria plausível deixar de me preocupar, esperar talvez que eles tivessem muitas negativas para que a escola interviesse depois. Só que não, obviamente não vou prejudicar intencionalmente os meus filhos para que a sociedade venha depois a correr salvá-los.... quando vem.

Isto é só a escola, pensam vocês. Não, isto não é só a escola, é um retrato de uma sociedade podre que continuar a colocar em quadros de mérito os que atingem objetivos bacocos e a ostracizar todos os que não se ajustam ora porque são pobres, ora porque são velhos, ora porque são mulheres ou homossexuais ou deficientes...  ora porque são outra coisa qualquer que aquilo que o espelho lhe mostra.  Injetam-se milhões em bancos afundados por gente sem escrúpulos e há pessoas a recolher tampinhas para dar alguma dignidade a quem dela precisa. 

sábado, 14 de novembro de 2020

O pimba que não há em mim...

Devia levar uma marretada na cabeça por cada vez que me queixei das viagens a Lisboa com macaquito a debitar episódios inteiros dos seus programas ou desenhos animados preferidos. Afinal o que é isso comparado com fazer a mesma viagem com macaquita a cantar músicas da Ariana Grande em loop?! 

quarta-feira, 14 de outubro de 2020

São treze caramba, treze!

Diz-me em que momento me distraí e te deixei crescer tão depressa, com certeza baixei a guarda no meio de uma gargalhada ou num assomo de disparate. Na verdade não importa quando, tanto me faz, não te preferia mais pequeno, nem te quero ver crescer depressa, quero que não te afastes de mim mas que não tenhas medo de seguir o teu caminho. Assim sigas, meigo, desajeitado, cheio de incertezas e sem culpa de nada, se o que és nem tu sabes, não tentes mudar nada a não ser a mente mesquinha de quem vive formatado. Segue o teu caminho, alheio a quem de ti nada sabe e que nada te pode ensinar. As tuas indefinições, contradições, absurdos e impossibilidades não são penas, são graças que só os afortunados poderão compreender. E afortunada que sou estarei sempre por aqui, a entrar no teu mundo sempre que quiseres e sem ânsias de tranquilidade, contigo aprendi que de obstáculos e dúvidas se faz o viver e seja qual for o rumo a seguir será sempre cheio de abraços, amor e disparate.

terça-feira, 4 de agosto de 2020

Não era com vinagre que se apanhavam moscas?

Almoço no telheiro, podíamos ser só os três mas não, tinha de aparecer uma daquelas pequenas moscas, insuportáveis, profundamente irritantes que nos fazem estar a esbracejar a refeição inteira. Macaquito queixa-se que a minha artimanha das moscas não funciona, macaquita sai em minha defesa dizendo que quando grelhamos peixe é bem pior, eu digo-lhes que parem de sacudir as orelhas para os irritar ainda mais. A dada altura macaquita grita histericamente:
- SAI DAQUI, PARVA! 
- Então, que é isso? - pergunto meio aborrecida, meio surda com aquele grito.
- Ora, é para a mosca ficar magoada. Se lhe chamar parva ela fica sentida e vai chorar para longe! 
Fico sempre a pensar se ela acredita mesmo nos disparates que diz, é que os olhos dela dizem que sim, aquele ar angelical e crédulo não pode ser apenas um disfarce para evitar um raspanete. Pode?! 

segunda-feira, 27 de julho de 2020

Uma nova terminologia farmacêutica

Nas urgências do hospital com macaquita:
-Mãe, vou ter de fazer o teste do vírus? - pergunta ela preocupada.
-Não te posso garantir que não mas a enfermeira disse que à partida não terás de fazer.
-Se eu tiver de fazer como é que é?
-Não te preocupes, é só pôr um cotonete no nariz para tirar um bocadinho de ranhoca. - digo eu descontraidamente para que não se assustasse. Ficou em silêncio com um ar pensativo. Passados dois minutos, diz-me em surdina com um tom ligeiramente preocupado.
-Mãe, eu tenho o salão limpo!
-Sem problema, eles não precisam dos macacos para nada. - sussurei-lhe ao ouvido.
Já no gabinete médico a suspeita de otite confirmou-se e o médico muito simpático diz-lhe que lhe vai passar um antibiótico e que vai ficar boa num instante.
-Também me vai receitar lápis de cera para o rabo? É que eu não gosto nada disso! - atira a medo.
-Ninguém gosta de lápis de cera para o rabo, mas fica descansada que eu vou passar um xarope. - respondeu ele sem conseguir parar de rir.

quinta-feira, 16 de julho de 2020

Noves fora, um!

Serão sempre poucas as palavras para te descrever de tão complexa que és, pareces feita de opostos, sempre à deriva com o livro de instruções na mão, inocente mas cheia de certezas, sagaz e insegura, de uma rebeldia doce e meiga, abraço fácil, opiniosa e disposta a ouvir quem sabes que te ama. Este amor foi tão fácil de construir, cresce desmesurado adubado de cumplicidade, tu que és o meu braço direito, o meu comprimido para dormir, a minha gargalhada fácil, o porto de abrigo quando tudo parece correr mal. Serás sempre indubitavelmente bonita por dentro e por fora, mesmo nos teus laivos de adolescência precoce que suporto porque não tens culpa de te teres feito crescida tão depressa. Que os teus sonhos sejam sempre preenchidos com as cores que pintas, parabéns miúda.

quarta-feira, 27 de maio de 2020

Um acidente, vários traumas

Foi num destes dias em que lhes dei um voto de confiança e entre mil trezentas e cinquenta e sete recomendações lá os deixei ir andar um pouco de bicicleta sem supervisão. Passados nem 15 minutos, estavam de volta, de sapatos na mão macaquita diz preocupada:
- Não te zangues com o mano mas ele caiu. Conta lá à mãe. - diz ela olhando para ele, antevejo o disparate antes dele começar a falar.
- Mãe, eu caí a descer o passeio e bati no carro do vizinho. - murmura entre soluços.
- Calma, não vale a pena chorar, tudo se resolve. Estragaste muito?
- Um bocadinho mas foi sem querer.
- Anda lá comigo para me dizeres que carro foi.
Saímos juntos, ele chorava e pedia desculpa e eu tentava acalmá-lo dizendo que não era o fim do mundo. Chegados à rua, ele lá mostrou o carro e a marca da borracha na pintura, eu não fazia ideia de quem poderia ser o carro mas ele lá me diz que é o carro do vizinho FGTSE, marido da vizinha JGED que moram no nº XPTO e têm uma cadela chamada KJGVB, continuo a ficar impressionada com o facto dele conhecer todos os vizinhos pelo nome, morada e matrículas dos carros e acreditem, não são poucos. Tocámos à porta, explicámos o sucedido e o senhor veio ter connosco.
- Macaquito, não te preocupes, isto não é nada, sai com um polish mas fico muito contente que tenhas dito o que aconteceu, outro qualquer ia embora e não dizia nada. - isto não o sossegou, continuava a chorar e a pedir desculpa entre soluços, eu dizia que não fazia mal e o vizinho para tentar acalmar a situação, refere que é o carro do banco que não há problema nenhum.
- Do banco? DO BANCO?! Ai agora que vai ser despedido por minha causa.... Eu assumo tudo, eu vou lá falar com o seu chefe e pedir desculpa. Mas o que é que fui fazer? Mãe, tu não estás a perceber, o vizinho vai ser DES-PE-DI-DO! - chorava convulsivamente e eu e o pobre homem tentávamos acalmá-lo mas ao mesmo tempo ríamos um para o outro, era impossível não achar piada a toda aquela aflição, depois de vários abraços meus e muita paciência do vizinho lá voltámos para casa.
Passado algum tempo, ele continuava triste e choramingas, coisa que não é habitual, consegue desligar dos problemas com alguma facilidade mesmo que depois volte a eles em momentos posteriores e repetindo tudo o que aconteceu. Estranhando, perguntei:
- O que se passa agora? Continuas a chorar...
- Sabes mãe, eu magoei-me... nos tintins. - a irmã confirmou e eu perguntei se era muito, ele disse que não era nada, não me convenceu mas como não respondia a nada, acabei por não ligar mais.
A meio do jantar pediu para se levantar, dois minutos depois:
- MÃEEEEEEEEEEEEEEEEEEE! - dou um salto da cadeira e corro para a casa de banho, chorava de novo.
- Tens de ver isto.... tenho uma ferida.... e sangue, aiiiiiiiiiii. Dóiiiiiiii! - sentado na sanita e sem qualquer pudor mostra-me todo o material de pernas escancaradas. Eu olho para aquilo e sem saber o que fazer chamo pai macaco.
- O que se passa? - pergunta ele.
- Tu tens de olhar para aquilo, vê lá se é grave. - e o puto lá continuava de perna aberta.
- Eu tenho de olhar? Eu sei lá se é grave.
- Oh pá, eu não percebo nada de tintins. Tu olha lá para aquilo e diz-me se é normal, tem lá uma ferida e um alto. Tu é que podes saber se é grave, tu é que tens testículos, hás de saber melhor que eu.  - macaquito já se ria, parecíamos dois malucos a discutir testículos. O pai lá lhe deu umas indicações e eu acabei a tratar a ferida com macaquito a rir-se de toda a parvoíce.
Durante dois dias, a frase que mais usou, foi:
- Se calhar é melhor vires ver os meus testículos, para ver se está tudo bem...  - e depois ria-se disfarçadamente mas não o suficiente que eu não conseguisse topar.






terça-feira, 26 de maio de 2020

Sabem porque é que adoro sextas-feiras ao final do dia?

Porque a partir das cinco da tarde acabam-se as reuniões síncronas e os trabalhos, macaquito agarra-se à Playstation e eu, contrariando todas as regras, deixo que jogue sem interromper, a miúda habitualmente arrocha no sofá e não chama mãe até à hora de jantar, jantar esse que pai macaco traz de algum lado pois  à sexta recuso-me a cozinhar. É o dia em que me sento um pouco no sofá ao fim do dia e é no sofá que me apetece ficar mesmo que não tenhamos jantado.
Estou a rebentar pelas costuras, os meus filhos estão fartos um do outro e eu confesso que há alturas em que também estou farta deles. Tenho saudades de ter saudades deles, de esperar ansiosamente pelo fim do dia para ir buscá-los à escola e ser recebida com histórias e abraços, quase sinto saudades das queixas de bullying, dos choros quando os colegas lhe pregam partidas, de ir à escola falar com professores sobre a melhor forma de gerir comportamentos.
As histórias agora são sempre as mesmas, as queixas são um do outro, de merdas que não lembra ao diabo, os choros porque sim e porque não e gerir comportamentos é coisa que deixei de fazer pois espero sentidamente que o façam sem à minha intervenção.
As manhãs começam quase sempre tranquilas mas ao longo do dia as embirrações tomam-nos por completo e a palavra mãe é repetida a cada cinco minutos.
As maioria das aulas online não funciona, os professores estão ali a encher chouriços, (tirando um caso ou outro dependendo das disciplinas mas os professores aqui não são os visados porque a tarefa deles é hercúlea e têm toda a minha solidariedade) as conexões não são todas iguais, uns conseguem entrar, outros não, há miúdos que repetem comportamentos abusivos de aula para aula como provavelmente já fariam em contexto de sala de aula, há pais que falam ao telemóvel durante as aulas na mesma divisão onde os filhos tentam aprender, há quem se divirta a boicotar o trabalho dos professores e eu, eu estou mesmo farta disto. O tempo que perco naquelas aulas, (sim porque tenho efetivamente de estar sentada do lado dele para que ele se concentre e aproveite alguma coisa) ganho enquanto lhes explico as matérias da forma que sei que aprendem e se têm aprendido mas eu, eu estou muito farta disto.
Perdi o emprego, como milhares de outros portugueses, entretanto tive outra proposta que não sei se esperará por mim porque até ao final de Junho trabalho para o Ministério da Educação, sem receber um chavo. Agora vem o "meu patrão", o senhor ministro da educação dizer que para o ano vamos manter este registo de ensino doméstico a par com o ensino presencial e eu penso cá com os meus botões que ninguém me paga para isto!
Agora virão com certeza, os pais dos alunos cinco estrelas dizer que eu não quero é ter trabalho, que sou pouco organizada, que os filhos deles trabalham autonomamente e que não têm de levar com as queixas dos pais dos putos das necessidades educativas especiais porque nem todos podemos ser doutores e engenheiros. E eu respondo-lhes que vão lá para a mãe que os pariu porque o meu filho autista desde que estuda comigo, dá dez a zero aos meninos deles e eu sinto um orgulho imenso dele e de mim, só que ele não é autónomo e a irmã também precisa muito de mim e eu? Eu gostava de ter uma vida normal outra vez, com tempo para mim, para os meus amigos, para o meu trabalho e para os meus filhos. Este novo "normal" não me assiste e quem acha que isto é normal tem de ser, com certeza, anormal. Quero de volta o meu tempo, tempo em que era com certeza mais feliz, em que não deixava o meu filho agarrado a uma tecnologia qualquer só para poder ter 5 minutos do dia sem ouvir  a palavra MAAAAAAÂEEEEEEEEEE.

segunda-feira, 4 de maio de 2020

No meio do mato não há pessoas, até às 15:30...

Efeitos da quarentena, ou não, macaquitos esqueceram-se do dia da mãe, apesar de terem falado nisso a semana inteira. O pai acabou por dizer-lhes e eu fingi-me triste e ofendida só para ver a atrapalhação deles. Metia dó!
Para compensar, fizemos uma escapadinha. Foi mais uma fuga à multidão por estradas secundárias só para lhes fazer a vontade e deixá-los matar saudades dum mergulho.
Eles divertiram-se durante uma hora, ali no meio do nada e de um momento para o outro, chegaram carros e carros cheios de pessoas e nós fugimos para casa.


quarta-feira, 22 de abril de 2020

Da escola em casa

Ao fim de um mês e tal resolvi parar, atingi o meu limite e só me dei conta quando gritava com os miúdos como se fosse louca. A primeira semana foi insana, como já referi num post anterior, depois de criarmos uma rotina, consegui com algum sacrifício de parte a parte, ir fazendo o que era suposto. 
Depois das férias da Páscoa o que mais temia aconteceu, a escola mudou tudo outra vez, tudo o que consegui alcançar nas semanas anteriores foi para o lixo. A gestão do espaço para conseguir trabalhar com ambos, foi para o lixo. A programação de rotinas e horários, foi para o lixo. O tempo criado para brincadeiras, arte, música fora do contexto escolar, foi para o lixo. 
Decidi, depois de chorar copiosamente, que não desistia sem experimentar e na segunda feira, começámos às 9h e terminámos às 19h10, 10 horas e 10 minutos de fichas, exercícios de educação física, matemática, português, história, tele-escola, etc. Fizemos pausas para comer obviamente, mas não fiz uma única tarefa doméstica. Não pegámos nos instrumentos musicais que era coisa que fazíamos diariamente durante o tempo de aulas. 
Desisti, melhor dizendo, resisti! Falei com os professores de ambos, comprometi-me a continuar a estudar com ambos, a realizar as atividades que são pedidas, a rever conteúdos e ensinar novos conteúdos mas ao nosso ritmo, sem tele-escola, sem obrigação de devolver todas fichas, sem vídeos para tudo e mais umas botas, acima de tudo sem pressão. 
Como mãe tenho um papel importante na vida dos meus filhos, que neste momento passa por substituir os professores, no entanto, nunca concordei com a escola actual, métodos obsoletos, pouco inclusiva e demasiado competitiva. Não vejo assim razão para transformar a minha casa naquilo com que nunca concordei, portanto, da mesma forma que não vou meter o bedelho na sala de aula e resigno-me ao ensino que cada um dos meus filhos recebe quando está na escola, também não vou permitir que a escola venha a minha casa dizer-me o que é melhor para a educação dos meus filhos.
A empatia e compreensão que recebi por parte dos professores, só me leva a crer que estou na direção certa, que tomei a decisão certa. Ouvir destes que estão a tentar chegar às estruturas coordenativas para alertar do risco de exaustão de famílias e professores e que se assim continuar corre-se o risco de tornar inúteis todos os esforços feitos até agora, tirou-me o peso na consciência de poder estar a desistir antes do tempo. 
Não vamos parar de aprender, vamos aprender mais devagar, vamos brincar mais, vamos fazer arte e música, vamos continuar macacos que os humanos estão todos doidos!

quarta-feira, 15 de abril de 2020

Autismo e confinamento

Macaquito hoje disse-me "Isto da quarentena é muito difícil.", perguntei meio a brincar se estava com saudades da escola, visto ser o sitio onde menos gosta de estar, por razões várias que agora não vou especificar. Respondeu "Sim mas gostava mesmo era de poder sair para ir andar de bicicleta como fazia antes."
Obviamente que saimos à rua, às vezes, deixo-os levar as bicicletas mas são passeios controlados, sem liberdade para irem sozinhos ou com os miúdos da rua. Sem poderem desaparecer até a fome aparecer, onde lhes peço para acenar de longe aos vizinhos, coisa que para o Macaquito implica uma regulação quase paranormal.
Está a correr bem, dentro do possível, na verdade não fui, até ver, insultada por ninguém aqui na rua... Mas o eco dos desabafos dos indignados das redes sociais que chegam em forma de post roça o ridículo... Eu sei que os passeios nos podem custar a vida e que, segundo certos burros, deveria abdicar do ventilador que eventualmente virei a precisar mas não posso abdicar da sanidade mental, minha e do meu filho. Eventualmente também precisaremos dela quando esta merda acabar.
Não, não vai ficar tudo bem. Eu com certeza terei menos amigos no final disto tudo porque estou realmente cansada das pessoas que passam metade da vida delas a apontar o dedo aos outros!



No seguimento disto:
https://brasil.elpais.com/mamas_papas/2020-04-02/na-espanha-pais-sofrem-constrangimento-ao-sair-de-casa-com-criancas-autistas-durante-quarentena.html?outputType=amp


segunda-feira, 30 de março de 2020

O dia em que macaquito é o primeiro a levantar

Quando sai para o trabalho muito cedo, pai macaco costuma deixar este bilhete na mesa da cozinha:


Note-se que os desenhos são de macaquita que não herdou os dotes artísticos do pai. 


Hoje descobri este bilhete na mesa de cabeceira do nosso quarto:




quarta-feira, 25 de março de 2020

Isto não são férias, isto é terrorismo social!

Não é para me gabar mas eu sou uma boa mãe, aliás, ser mãe é a única coisa que me lembro de sempre ter querido ser. Não uma mãe daquelas que tem tudo o que é preciso dentro da mala, já me aconteceu eles espirrarem e estarem ali com o ranho pendurado até aos joelhos (alguém me explica como é que criaturas com narizes tão pequenos acumulam litros de ranho ali dentro?!) e eu ter de pedir um lenço a uma qualquer pessoa que esteja ali por perto ou, em última instância, assoá-los à camisola mas sou uma mãe com a paciência para os 350 mil "Maaaaãe! diários gritados, 99% das vezes sem razão nenhuma. Também não sou daquelas mães que tem sempre tudo organizado ou que sabe preparar de antecedência atividades e visitas de estudo, limito-me a enfiar tudo dentro duma mochila na noite anterior e claro que me esqueço sempre de alguma coisa (o chapéu, minhas amigas, que fixação é esta dos professores por chapéus?!), no entanto, tenho tolerância desmedida para todo e qualquer disparate (o que leva pai macaco à insanidade).  Sabem aquelas mães que trazem os putos todos aperaltados, com a meia a condizer com a cueca e o laço do cabelo, os cabelos bem penteados, os sapatinhos que parecem acabados de sair da loja? Pois, também não sou dessas! Tomam banho todos os dias, andam com roupa lavada, não vão para a escola de fato de treino à exceção dos dias de educação física e com sorte têm sempre as unhas cortadas e limpas. Sou das que padece de uma certa loucura (pouco) controlada para acompanhar todas parvoíces deles e muitas vezes torná-las em parvoíces ainda maiores, ofereço mimo desmesurado e colo (sim, que ainda dou apesar dos seus 12 e 9 anos!). Não me preocupo com festas de anos temáticas com cupcakes da moda e lembranças para todos os amiguinhos  mas vou à escola conversar com os professores e ajustar métodos de trabalho para macaquito, vou às terapias e fico lá a aprender para depois fazer em casa, acompanho as aulas de música de ambos para posteriormente ajudar em casa e ensino-os em todas as matérias sem problema de maior. Mas isto da quarentena e do "eles não estão de férias", puta que pariu!
Desculpem o palavrão mas estou a dar em doida. Cada vez que o meu telefone apita com uma notificação de email, fico com suores frios e vontade de chorar, depois encho-me de esperança e penso "São as soluções de um exercício qualquer...", vou pé ante pé na esperança de que se o telefone não me ouvir chegar, a mensagem será qualquer coisa que não mais TPC. Todos os professores de macaquito estão desenfreadamente a lutar pelo título de "CAMPEÃO DA QUARENTENA".
Eu não obrigo os putos a levantar antes das sete da manhã como se estivessem em aulas, vão para a cama a horas decentes mas de manhã ficam na cama até lhes apetecer, logo não estão sentados à secretária às 8:30h da manhã. Com sorte, consigo que macaquito trabalhe meia hora seguida mas a maior parte das vezes ao fim de 15 minutos temos de pausar. Uma ficha que a qualquer miúdo demoraria meia hora a fazer sozinho, com ele é uma hora e meia e tenho de estar sentada ao lado ou não faz "nestum". Tenho outra filha, que apesar de muito menos, também tenho de acompanhar e ajudar no estudo. Tenho uma casa, imaginem senhores professores, nós vivemos numa casa, 24 sobre 24 horas e essa casa, acumula pó, cotão, loiça e roupa, entre outras lides domésticas que todas as casas necessitam. Nós comemos, várias vezes por dia, a coisa mais parecido com uma BIMBA nesta casa sou eu ou pai macaco quando chega a horas decentes (sim porque o pai continua a dar o corpo às balas e não está recatado no lar), portanto, alguém tem de cozinhar. Depois temos a música, estudar e fazer vídeos do estudo e progressos de ambos. A professora de instrumento do meu filho, que nas aulas apenas lhe ensina a mexer no instrumento (Vá, suas perversas, riam-se lá! ...eu pensei o mesmo assim que acabei de escrever a frase, por isso vou deixar-vos aí cheia de pensamentos maldosos.), além de vídeos dos estudos e peças, veio pedir que enviasse umas biografias de compositores de acordeão, a sério?! Pró "coisinho" mais as biografias...

Para ajudar a esta merda toda, a impressora deu o seu último suspiro esta semana e ando para aqui a inventar formas e plataformas para fazer e reenviar os 537 mil trabalhos que ainda temos por fazer.
Senhores professores, para terminar, um recado:
Eu sei que também estão assoberbados, que têm de mostrar trabalho mas isto, apesar de não serem férias, também não são aulas, isto é terrorismo. Se a intenção é mostrar o quão importante é o vosso papel na sociedade, parabéns, conseguiram! Uma salva de palmas para vocês, acompanhadas de fogo de artifício, ao som de Carmina Burana. Honestamente nunca duvidei, só que tal como as mães, há uns melhores que outros. Eu não sou professora, sou mãe, uma mãe cheia de boa vontade mas uma mãe do que nunca teve intenção de criar Einsteins em homeschooling mas sim miúdos saudáveis, felizes e menos doidos do que aquilo em que me estou a tornar!!

quinta-feira, 19 de março de 2020

Daqui por quinze dias já nem o nome deles sei...

Eram 9 da noite quando decidi telefonar a pai macaco, tinha entrado às 7 da manhã e  apesar de não ser novidade as horas extras  mas tendo em conta a circunstância atual, comecei a ficar preocupada.
Atendeu à terceira tentativa, estava a sair e daqui a nada estaria em casa. Desligo o tlm e macaquito interpela-me curioso.
-Estavas a falar com quem?- estranhei a pergunta mas respondi. 
-Com o pai. 
-Chamaste--lhe António! 
-Não chamei nada. 
-Chamaste sim! - retornou, revi mentalmente a conversa que não durou mais de um minuto, nem sequer tinha dito nada que pudesse soar a António. Olhei para macaquita que antes que eu pudesse perguntar me diz:
-Eu também ouvi António... 
-Ok, ou eu estou maluca ou isto é uma alucinação coletiva. 
-Vou dizer ao pai que lhe chamaste António. - diz macaquito verdadeiramente irritado. 
-Acho que deves. Já está na altura do teu pai saber do meu Alzheimer! 
Têm sido uns dias divertidos, funciona bem até às 16/17 horas, a partir daí macaquito fica impossível de controlar pois a alteração de rotina ainda não foi absorvida. Ao contrário das outras crianças, muito provavelmente, quanto mais tempo passar,  mais tranquilo ele ficará, só espero é chegar até lá ainda com memórias de toda a família 

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

Coitado do professor de história

Antes das sete da manhã. 
-Preciso de fazer uma pergunta ao professor de história mas não sei se ele me sabe responder. Podes ajudar? 
-Posso tentar, diz lá. 
-Como é que se imagina um tesouro? - percebi que se referia a um livro que tinha recebido nos últimos dias.
-Como é que se imagina um tesouro... Depende das pessoas, os tesouros são o que nós quisermos, o que manda mesmo é a imaginação.
-Ah, pois... E uma flor, como se sente?
-Podemos sentir uma flor de várias formas, pelo cheiro, a tocar, pelas cores. Tal como o resto, depende das pessoas, cada um sente à sua maneira.
-E qual é o sentido de um fruto?
-Ai macaquito, eu sei lá, é só perguntas difíceis logo de manhã.
-Tu não és muito inteligente, pois não?!

segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

Não há nada que não lhe aconteça

Macaquito foi com o pai ver o avô ao lar. Passado algum tempo, recebo isto:


Não panicou, falámos tranquilamente por vídeo-chamada até chegar o carpinteiro e a única preocupação dele era eu estar a rir-me da situação. 

quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

Também sinto raiva

Tenho sido muito paciente, meu filho. Aceito de ânimo nada leve, todas as palavras que me contas que te dizem e finjo. Finjo que a maioria delas não tem grande importância, não quero que lhes dês importância, quero que enfatizes apenas as que valem a pena.
Ontem perguntaste se tenho nojo de ti, porque o Salvador assim te disse, que metias nojo e que eu e o pai tínhamos nojo de ti. Não te disse mas tenho nojo desse Salvador que não sei quem é, tenho nojo das palavras que lhe saem da boca, tenho nojo de saber que os pais do Salvador talvez não saibam mas deviam saber que o filho deles, tão pequeno, é uma criança má. Tenho nojo dos que te agridem e dos que te ignoram mas não te posso dizer. Digo-te que continues a fazer esse esforço tantas vezes frustrado de te incluíres num mundo que não é o teu e onde nem sequer te encaixas. Também te digo que não faz mal não seres parte de tudo ou de nada, que podes ser o que quiseres, que só não podes imitar os outros, porque ser igual aos outros é diferente de fazer parte de alguma coisa. Que te podes manifestar na tua individualidade mesmo que isso pareça estranho a tanta gente, que não podes copiar a maldade alheia mesmo que isso te faça sentir melhor. Não deixes que ninguém, nem mesmo eu, desenhe o teu caminho, fá-lo de estranheza, fá-lo de diferença, escreve-o em maiúsculas à máquina que só tu entendes mas nunca escrevas palavras que ouviste, se estas não forem as que te ouço quando me falas ao ouvido de mansinho. Faz o que te digo, não faças o que eu sinto...

terça-feira, 7 de janeiro de 2020

Capacidade de improvisação

Ele só tem autorização para ligar o telemóvel quando sai para almoçar ou em emergências. Normalmente aproveita para me ligar ou mandar mensagens com pequenos nadas a que não posso dar grande resposta ou arrisco-me a meia hora de conversa.
E depois?
Depois sou agraciada com respostas destas... 


domingo, 5 de janeiro de 2020

Até podia fazer sentido

-Ó mãe, quando os bebés nascem a barriga fica logo normal ou continuas gorda? - pergunta Macaquita.
-Demora uns dias a ir ao sítio, claro que fica mais pequena mas não é só o bebé que ocupa a barriga...
-Sim, eu sei. - interrompe ela - Há aquilo do tubo da Nestlé.
-Tubo da Nestlé????
-Sim, o tubo do cacau ou lá como se chama.
-Cordão umbilical! - nesta altura eu já não conseguia parar de rir.
-Pois, cordão umbilical. Sou mesmo parva, eu sei, mas quando falas nisso só me lembro de papas.