domingo, 30 de abril de 2017

Falta-me poder de argumentação

Numa das nossas intermináveis conversas apenas com o intuito de protelar a hora de dormir, macaquita começa a falar da avó e do quanto gostaria que ela morasse mais perto de nós.
-Ainda por cima ela é nossa amiga. - dizia.
-Pois é, a avó gosta muito de nós. - respondo-lhe.
-Mas ela tem um problema, tem medo de cobras.
-É normal, as pessoas têm medos, por vezes nem se consegue explicar bem porquê.
-Sim mãe mas ela tem medo da minha cobra de peluche.
-Ok e tu tens medo do escuro, também me parece pateta ter medo do escuro.
-Daaaahhhh, a sério mãe? Eu não tenho medo do escuro de peluche!  

quinta-feira, 13 de abril de 2017

Suponho que correu mal

Liguei-lhe à noite, atendeu feliz e com o discurso do costume.
-Boa noite mamã, em que posso ajudar?
-Olá macaquito, como estás?
-Estou bem, estou aqui a brincar com os avós aos professores.
-E o que andaste a fazer hoje?
-Olha, estive a trabalhar. - o que quer dizer que esteve a fazer TPC's.
-Então e correu bem? - perguntei sabendo que no dia anterior a coisa não tinha sido muito pacífica.
-Espera! Tenho de ir para trás do cortinado.
-Do cortinado? Não me digas que é para ninguém te ouvir?

...

...
 
-É só para te dar um beijinho e desejar uma noite descansada. - e desligou sem passar o telefone à avó como habitualmente.

quarta-feira, 12 de abril de 2017

terça-feira, 11 de abril de 2017

Fomos ao espaço

Aproveitando o domingo soalheiro, cumpri a promessa e lá fomos ao Planetário, a sessão não foi das melhores para crianças mas macaquito está convencido que foi ao espaço numa nave e só não gostou de não podermos sair da nave e pisar um qualquer planeta, erro meu que assenti quando me perguntou se poderíamos aterrar em Saturno mesmo antes de entrarmos na sala. Antes do regresso a casa, passeámos um pouco, atravessámos o túnel que nos levou do  Mosteiro dos Jerónimos ao Padrão dos Descobrimentos, tudo tranquilo apesar da multidão que atravessava ao mesmo tempo que nós, um som de acordeão ao fundo mistura-se com a confusão de vozes. Tirámos umas fotografias e sentámo-nos um pouco a descansar enquanto os miúdos exploravam.
-Mãe, o que quer dizer este sinal? - diz-nos macaquito do lado oposto ao nosso assento.
-Quer dizer que é proibido sentar aqui. Arrrrrr...  - levantámos num ápice e a rir. Todos... os adultos!
De volta ao túnel, apenas meia dúzia de pessoas e o homem sentado no chão arruma o acordeão. Macaquito repara e claro, vai ter com ele, ainda tento agarrá-lo mas sem hipótese, toda a gente debanda e eu fico ali, a olhar para macaquito.
-Olá senhor, o senhor toca muito bem, pode tocar para mim? - eu faço sinal que não, que não é necessário mas macaquito insiste e o senhor nem me dá hipótese e apronta-se em segundos. Macaquito dança sozinho e bate palmas e eu, lentamente abro a carteira e entrego dinheiro a macaquito que feliz lá vai dar ao senhor que lhe agradece também com um sorriso. Separado de nós por uma genuína ingenuidade, entrega uma moeda como se de uma fortuna se tratasse, talvez o seja, lá para o fim do dia, se todos os que por ali passassem o olhassem com os olhos do meu homenzito, abertos a todas as notas até aquelas fora de tom e ignorando as razões, mais ou menos válidas, que confinam o dia daquele homem a um metro de chão.
Não tivesse sido ele, também eu teria passado indiferente.

sexta-feira, 7 de abril de 2017

Padeço de saudadite

Larguei duas malas, duas mochilas e eles, os dois, ainda lhes oiço as gargalhadas. Tão pouco o tempo que passou, a angústia já me consome. Estou por dentro como a roupa que lhes enviei nas malas, t-shirts e malhas, calções e collants, sol e frio. Sinto no silêncio uma paz difícil de encontrar habitualmente, imploro ao silêncio que me tortura que se faça ouvir. Acordo sem corpo, sem me lembrar que o tenho e que me dói, acordo com um sorriso porque sonhei com anjos, estar só torna os sonhos mais fáceis mas o dia vai entrando em mim e a saudade corrói o sorriso, o tempo não passa e a noite chega devagar. Afundo-me no sofá na pressa de adormecer, à espera que os sonhos me sacudam a saudade.

terça-feira, 4 de abril de 2017

Mesmo sem saber, ele disse MESMO que queria

Macaquito chegou da escola, feliz por ser o último dia e também porque trazia um pato, em cartão amarelo, recheado de ovinhos de chocolate. Como ele não gosta de doces, costumo ser presenteada com este tipo de tesouros e já contava com o ovo no... vocês conhecem o provérbio.
-Que lindo pato.
-Foi a Luisa que me ajudou a fazer, tem ovos de chocolate, não os partas.
-Claro que não, os ovos de chocolate não se partem. São para mim ou para a mana?
-Para o pai, claro!
-Como claro? O pai nem gosta de doces.
-Vá não te importes, o pai disse mesmo que queria mesmo aqueles doces. E eu quero dar ao pai porque eu gosto mesmo dele... também gosto de ti....gosto dos dois mas o pato é para ele. 

...

-E é melhor não falarmos mais disto.

segunda-feira, 3 de abril de 2017

Eu bem digo que ela ouve mal

 Na pressa de sair, enquanto pego em casacos e lancheiras, reparo que macaquita ainda está descalça.
-Macaquita, vai-te calçar, temos de ir embora.
-Mamã, calço o quê?
-As Allstar. - responde macaquito.
-Eu não tenho.
-Tens sim, as cor de rosa. - afirma ele.
-São Rosastar, as tuas é que são Azulstar.

 

domingo, 2 de abril de 2017

Dia mundial da conscientização do autismo

Hoje vestimo-nos de azul, na esperança de que bastasse, é só uma cor para alguns, para muitos é como uma impressão digital, para mim é amor. Beijo o meu azul logo de manhã com a memória que este dia é um pouco dele e ele nem imagina que este beijo tem um significado acrescido mas atira-me um "adoro-te mamã".
Passeamos o nosso azul sob o olhar indiferente de quem por nós passa, não lhes significa nada. Hoje vestimo-nos de azul, na esperança de que baste.