quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Previdência

Macaquita regressou dos avós para poder ir passar o dia com a prima. No caminho para lá dava-lhe os conselhos do costume "come tudo, obedece à tia, porta-te com juízo, etc, etc" até que chegou a altura do aviso que muito me atormenta:
-Atenção, não sais do café sozinha, tens de dar sempre a mão a um adulto que aquela estrada é muito perigosa.
-Sim mãeeeee, já seiiiiiii.
-Macaquita, isto é importante. Eu tenho muito medo daquela estrada.
-A estrada não faz mal a ninguém, os carros é que fazem!
E assim se tem direito a mais um atestado de estupidez, começo a ficar preocupada com o discernimento desta criança.

E vão cinco

Ao telefone:
-Então, a macaquita já chegou? Ela está bem? - perguntou-me ele.
-Sim, já chegou, está aqui a ouvir a conversa.
-Mamã, já me caiu outro dente. A avó puxou-o depressa.
-E não doeu nada, pois não?
-Não, não doeu. Sabes, assim hoje vem a fada dos dentes.
Macaquita ao ouvir falar na fada choramingou que queria que a fada lhe desse um beijinho.
-Olha, se estiveres acordado quando a fada dos dentes aí for, diz-lhe que venha cá dar um beijinho à mana.
-Ó mamã, a fada dos dentes é tímida!

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Nem sei porque pergunto...

Ao telefone:
-Então o que é que aconteceu ontem na festa?- pergunto eu.
-Estavam lá duas meninas a cantar e um homem a tocar guitarra, outro homem a tocar guitarra e outro a tocar bateria. E a menina disse-me adeus e ao macaquito também.
-Que giro! E dançaram muito?
-Não, fizemos desporto!
Fiquei sem perceber se estava a ser irónica ou honesta.

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Os nossos corações

Fazia nove dias sem ti, sem te ver com os olhos porque quando te ouço sinto que te estou a ver. Não me abraçaste logo, correste que nem louco pela casa toda "não encontro, tenho uma prenda para ti mas não encontro", choraste a tua perda que era minha afinal. Como sempre, o remédio caseiro está nos avós "vai lá ver no teu quarto, foi lá que deixaste", correste de novo como se o mundo fosse acabar naquele segundo, na volta o sorriso consumia o teu rosto "olha mamã, tenho um coração para ti!". Devolvi o sorriso e aí abraçaste-me tanto, enchi-te de beijos + 1, este último era azul e enorme, não percebeste de quem era mas fiz questão de te dizer. Olhaste para mim como quem não percebe nada, aceitaste-o com o sorriso do costume. "Gostas do teu coração? Podes pendurá-lo no espelho do carro!" Sorri e não acedi ao pedido mas prometi guardá-lo junto a mim, o meu só o uso para bombear o sangue que me dá vida pois é teu desde o primeiro dia, assim como os vossos são meus desde sempre. Troca justa, parece-me.

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Sai uma imperial para a mesa 2

Macaquita gosta de caracóis e de ........  ...........  .......... cerveja, pronto,  já disse. Antes de me crucificarem eu vou explicar como descobri, não que abone muito a meu favor mas sempre dá para perceberem que sou um bocado anormal e tendo isso em conta, serve de atenuante.
Estava eu com os dois rebentos numa esplanada de Porto Côvo, vai que eles me pedem caracóis e eu, como gosto de lhe fazer todas as vontades (mentira, estava a apetecer-me mais que a eles), pedi um prato grande dos ditos bichos, umas águas e uma imperial para mim. Macaquita no auge dos seus 22 meses, olha para a cerveja e pede.
-Mamã, quéo xumo.
-Bebé, não é sumo, é cerveja. Está aqui água.
-Não! Quéo xebeja!
-Tu não gostas, bebe água agora que a mamã pede um sumo.
-Gota gota, quéo xebeja.
E eu, que nem chica-esperta, toca de dar cerveja a provar à criança, apenas porque tinha a certeza de que ela ia odiar o sabor amargo da cerveja, como todas a crianças, não é??! Não, não é! Então não é que aquela parvalhona gostou?!
-Macaquita gota, quéo maix!
-Não gostas nada, é blhéc, não presta!
-Gota muito, quéo xebeja!
E a partir deste momento foi o descalabro total, macaquita pôs-se em pé na cadeira e gritou para quem quisesse ouvir, no dia seguinte havia relatos disso na Ilha do Pessegueiro, consta que se ouviam os gritos por lá.
-QUÉO XEBEJAAAAA! EU GOTO DE XEBEJAAAAAAA!
Escusado será dizer que os sumos amarelos que pedi na tentativa de a enganar, não remediaram nada e passei o resto da tarde a olhar constrangida para as pessoas e a dizer com os olhos que não a conhecia, que aparecera ali e tive pena  de a mandar embora. E macaquito, alheio a tudo aquilo, morfava caracóis como se não houvesse amanhã.


O Albatroz

Macaquito foi com a avó ver a peça na foto, no final pediu à avó que o levasse ao pé do palco. Queria falar com os actores, a avó acedeu sabendo que ele está habituado a ir connosco para o palco no final das nossas actuações. 

Conversou com uma das actrizes a quem fez mil perguntas, pediu-lhe que chamasse o actor que fazia de marinheiro. O actor veio e apanhou o raspanete da vida dele, macaquito explicou-lhe o quão errado era maltratar os animais e queria perceber porque razão tinha ele morto o albatroz, no final, a pedido de macaquito, marinheiro e capitão tiveram de apertar as mãos e o marinheiro fez um pedido de desculpas sentido.

Apesar de não ser novidade para mim, macaquito ainda confunde a ficção com a realidade, nem sempre conseguindo discernir entre os dois conceitos e isso deixa-me um pouco apreensiva, no entanto, fico muito feliz por saber que tem um coração do tamanho do mundo e sabe distinguir perfeitamente entre o bem e o mal.

terça-feira, 18 de agosto de 2015

São queques Senhor, são queques.

Numa altura em que os tablets ficaram significativamente mais baratos, houve muitos papás que acharam que era uma boa prenda para os seus rebentos, é pelo menos uma boa forma de os ter entretidos, não que eu concorde muito com ela mas essa é a minha opinião, o que discordo de todo é que os deixem levar para a escola ou creche. Macaquito devia ter uns cinco anos na altura da febre e um dia diz-me com a maior das naturalidades.
-Mamã, compras-me um tablet?
-Para que queres um tablet?
-Para jogar Angry Birds e jogos.
-Mas um tablet custa muito dinheiro e a mamã não pode.
-Ó mãe, é só ir ao supermercado e pôr no carrinho.
-Pois filho, mas também tem de se pagar que é o que a mamã faz quando passa as compras no tapete para a senhora pôr nos sacos. No final tem de se pagar o que se põe dentro do carrinho e a mãe não pode comprar tudo o que vocês pedem.
-Mas é só dares o cartão...
-Claro, o cartão é dinheiro, a mãe tem de pôr dinheiro no banco para que os senhores do banco ponham o dinheiro no cartão e depois poder usá-lo. É por isso que a mamã tem de trabalhar, para ganhar dinheiro para a comida, a roupa e as coisas que fazem mesmo muita falta.
-Então vou trabalhar para ganhar dinheiro.
-Boa! E o que vais fazer? Não te esqueças que tens de ir à escola.
-Então quando sair da escola, vou à noite para o café vender quecas!!
-Não me parece que essa seja uma boa opção mas quando fores maior conversamos sobre isso, está bem?

Um poucochinho para ele chega

Macaquito tem uma fixação com t-shirts com letras nas costas. Julgo que tem a ver com o facto de uma altura lhe ter comprado umas básicas da Benetton que tinham as letras desenhadas atrás, comprei todas as cores disponíveis e nesse ano era sempre as que queria vestir. Entretanto cresceu e nunca mais consegui arranjar nada parecido, ele que não liga nada a roupa, muito menos se tiver bonecada, sempre que entra comigo numa loja vai imediatamente ter com alguém para perguntar se tem "camisolas com coisas nas costas".
Este fim-de-semana deixámo-los nos avós e fomos "viver a aldeia" durante quatro dias, já lá vão uns anos desde o último festival e foi bom matar saudades destes desvarios. No último dia, fui comprar-lhes uma lembrança e reparei que faziam t-shirts na hora, pedi que me fizessem com os nomes deles nas costas e o símbolo do festival por baixo. Assim, género jogador de futebol, pirosas mesmo, tenho de admitir.
Ontem o pai foi levá-las e filmou tudo. Nunca mas nunca vi uma criança tão feliz com uma coisa sem jeito nenhum ( não digam a ninguém mas na parte que me mandou beijos pelo telefone, as lágrimas assomaram ali ao cantito do olho). E estava tão entusiasmado com a da irmã como com a dele. Ela, entretanto, já me pediu uma bicicleta nova...
Já macaquito, temo que vá andar a semana toda com a mesma t-shirt.

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Multiculturalidade no SNS

Fim de semana alucinante, macaquitos foram atacados por um enxame de vespas no sábado, ao final do dia. Depois de um salvamento dramático (duas crianças penduradas pelos braços e atiradas para a piscina) protagonizado por uma mãe em pânico de ser mordida pois é alérgica, tal como macaquito, o resultado é uma picada em macaquita e várias picadas nas pernas no desgraçado do costume. Uma dose de anti-histamínicos, umas pomadas mas a coisa não resulta.
Domingo de manhã, hospital com ele pois já não conseguia andar. Segurando-o no colo, entro no gabinete e observo que o médico é oriental, atrás de mim vem uma enfermeira africana que lhe explica o que aconteceu:
-Tá a vêr Dótor, foi uma zabélha que mordeu no minino!
O médico olhava para ela com ar de quem não compreende nada e eu dizia que não, que tinham sido vespas.
-É á mêma cóisa!
- Não, não é. - insistia eu, educadamente. Ela acabou por desistir e foi embora, deixando-me a sós com o médico. Macaquito pediu-me que o deitasse e ia deitando uns disparates para o ar.
-Senhor Doutor, a sua marquesa é muito confortável. Ó mãe, o Doutor fala o quê? Não percebo o que está a dizer. - o médico sorria-lhe, enquanto eu tentava explicar o que lhe tinha acontecido.
Depois de me perguntar umas vinte vezes quanto pesava o miúdo, encaminhou-me para a sala de pediatria, onde me pediu que aguardasse por uma enfermeira. A enfermeira veio chamar-nos e lá fui com ele para outra sala para que lhe fossem administrados vários medicamentos, a dada altura a enfermeira pergunta-me quanto pesa macaquito. Digo-lhe que o médico já me tinha perguntado e ela percebe a minha desconfiança.
-É que a dose que o Doutor pôs aqui é para um miúdo de três anos, quanto lhe costuma dar de Benuron?
-7,5ml, costumo consultar a tabela.
-Pois, é o que lhe vou dar, o doutor deve ter-se confundido. - por momentos temi que o médico não tivesse sequer percebido o que tinha acontecido e que o estivesse a medicar mal mas a enfermeira descansou-me. Macaquito olha para os vários copitos que tem de beber e pergunta para que são cada um deles. Depois da explicação, não fica convencido porque o Benuron é amarelo.
-Na casa da mãe o Benuron é laranja, eu não posso beber o amarelo. - a enfermeira fica atrapalhada, tenta explicar-lhe que é a mesma coisa mas ele só chora.
-Macaquito, lembras-te de que cor eram as gotas que tomavas? Sim, brancas. E agora? São azuis, não é? Mas é o mesmo medicamento, aqui no hospital o Benuron é amarelo mas é igual ao laranja de casa.
O choro parou, bebeu todos os medicamentos e passado meia hora voltámos ao gabinete, mais um rol de prescrições e vamos lá embora.
-Sabe Doutor, a sua marquesa é muito confortável.
-E tu és muito simpático, macaquito!




sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Agricultor falido

Toca, o telemóvel, bem cedo:
-Mamã, mamã estou a ligar-te já porque vou para horta com o avô.
-Boa macaquito, vais ajudar o avô?
-Sim, vou. - dispersa-se e pergunta ao avô se o morango que estava verde já está vermelho.
-Fala comigo, a mamã está aqui deste lado. Posso pedir-te que me tragas umas coisitas da horta?
-Sim mamã, eu trago.
-Então arranja-me uma cestinha de frutas e legumes, para trazeres no fim de semana, está bem?
-Ok, mãe. Agora tenho de ir.
De tarde liguei para saber como estava e perguntei-lhe pela minha cesta:
-Então macaquito, já tens a cesta pronta?
-Olha mãe, na horta do avô não há cestas, as alfaces estão queimadas, as tangerinas ainda não estão laranjas porque ainda estão verdes e o avô não tem tomates!
Escusado será dizer que macaquito não percebeu a piada.