segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Olhos que não vêm...

No final da aula de violino a professora veio ter comigo a rir porque macaquita se queixou que o violino a magoava na clavícula, a professora disse-lhe que pedisse à mamã um pano do pó para colocar por baixo ao que ela prontamente respondeu:
-Não sei se a minha mãe tem disso.
-Claro que tem, então como é que a mãe limpa o pó?
-A minha mãe não limpa o pó.
-Mas deve ter panos do pó para limpar os móveis.
-Não, ela não limpa, os móveis nunca têm pó.

sábado, 29 de outubro de 2016

Caminhos

Pego ambos pela mão, não sei exactamente para onde vou, sei que qualquer que seja o sítio que escolha, será perfeito para três. Respiro profundamente enquanto caminhamos, deixo que o ar me preencha por dentro e sopro-o com força para soltar emoções que me corroem. Aperto-lhes as mãos, o toque do amor permite-me simplificar, não contornarei obstáculos, acharei o nosso ninho mágico nem que para isso tenha de carregar ambos ao colo e levar tudo à nossa frente.
Miro as nuvens que nos ensombram o dia e estou longe de lhes ver a tempestade que anunciam, sorrio às formas que nos inspiram animais e acredito que são mesmo feitas de algodão doce.


domingo, 23 de outubro de 2016

E os planos do fim de semana

Dei-lhe folga durante o dia de sábado, dia livre de mãe, preenchido de pai, vai lá sujar-te de terra e chatear as galinhas que com certeza já te sentem a falta. À última da hora e com a ameaça de chuva lá decide que vai para o ninho dos avós que lhes fica em caminho e que na volta, volta para mim. 

Pouco mais das nove da manhã já a avó me ligava, que ainda não tinham chegado e estava muito aflita que as coisas más acontecem e a viagem ainda são uns 30 quilómetros. Ligo para eles apenas para confirmar que está tudo bem e que estão mesmo a chegar a casa da avó. Não passou nem meia hora e o "MÃE" aparece de novo no ecrã do telemóvel.
-Mamã, posso dormir aqui na avó? 
Aposto um dedo do pé em como sem combinarem nada, avós e neto, já a tinham toda bem pensada.


sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Raramente faço fritos em casa

Macaquita anda teimosa para comer, demora séculos e as refeições são cansativas e pouco proveitosas porque não gosta, não tem fome, tem sono, tem de ir à casa-de-banho ou fazer qualquer coisa tão importante que não pode esperar. Claro que não a deixo tirar o rabo da cadeira enquanto não acaba mas é complicado à hora de almoço porque tem de voltar para a escola a horas. Nos últimos tempos optei por lhe tirar o prato quando chega a hora de ir embora e voltar a dar-lhe o mesmo comer na refeição seguinte. Ontem combinei com o pai que o jantar seria batatas fritas com salsicha e ovos estrelados, um verdadeiro martírio para os crescidos mas a refeição que faz as delícias para os pequenos. 
Chegámos da piscina e ela ajudou-me a descascar batatas, abriu as salsichas e ajudou a fritar cogumelos que adora. Depois da canja, servi-lhe esparguete com carne que sobrara do almoço num prato igual ao que deixara e servi os restantes pratos com a comida que me ajudou a preparar. Não disse nada, comeu tudo e esperou que terminássemos para ver o que sobrava, fiquei na mesa a comer batatas fritas (de castigo) até não sobrar nem uma. Não disse uma palavra, comeu a fruta e seguiu a sua vida.
Hoje, quando a fui buscar à escola perguntou-me o que era o almoço.
-Puré com peixe.
-Puréeee? Puré? Pensava que era batatas fritas.
-Isso foi o jantar ontem, hoje é puré e peixe.
-Pensas que eu não percebi. Eu vou comer o puré todo mas quando for mais velha e fores a minha casa para jantar não te vou dar nada!

Eu sei que não é bem assim

As coisas têm melhorado progressivamente, a um ritmo muito lento mas não deixa de ser positivo. Tento percebê-lo, o que o aflige e o que o motiva, temos conversas intermináveis quando o vou deitar, por algum motivo é quando o sinto mais permeável e disponível para partilhar emoções e lá lhe vou conseguindo arrancar as frustrações, ao mesmo tempo que lhe dou resposta às suas intermináveis perguntas. 
Na noite anterior ao seu aniversário, queixava-se que o dia ia ser muito longo e talvez fosse melhor não ir à escola.
-Não ir amanhã?! É o teu aniversário, tens um bolo para levar e os amigos vão cantar-te os parabéns. Eu digo-te que vai ser um dia super divertido e cheio de surpresas, prometo! 
-Sabes, se tu não fosses minha mãe...
...
...
-Sim? Se eu não fosse tua mãe?
-... ia ser tudo muito difícil!
-Porquê?
-Porque eu só gosto de ti!

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Comme il faut

Costumo aceder ao pedido do bolo temático, os cupcakes e convites personalizados, assim como os saquinhos de oferta deixo para as pessoas que têm tempo, dinheiro e paciência a rodos. Este ano o pedido foi para a Patrulha Pata, corri Ceca e Meca e nada, olhem para mim a hiperbolizar mas na verdade, fui a todos os hipermercados, lojas de cake design e até de brinquedos e nada de coisas caninas alusivas ao tema. Sou eu quem faz o bolo por causa das intolerâncias alimentares, logo não dá para ser impresso ou com aquelas tretas em pasta de açúcar que se faz em qualquer pastelaria. 
Puxei pelos dois neurónios que ainda me restam e enquanto ensacava a tralha para irmos para a aldeia, enfiei uma nave espacial no saco, umas bolas de esferovite e uma caixa de guaches na expectativa de inventar qualquer coisa que resultasse.
E não é que correu bem? Nem se lembrou do que tinha pedido e estava radiante com os planetas e um brinquedo que nem percebeu que era dele.



sexta-feira, 14 de outubro de 2016

1,2,3,4,5,6,7,8, ∞

Fiquei-me pelo caminho no dia em que te tomei nos braços, as mil coisas que não fiz também tu as não tinhas feito, assim, fiquei-me pelo caminho. Abriste-me as portas que eu nunca arriscaria abrir sozinha, pintaste o mundo de outras cores, todas as cores, de repente, tudo ficou azul. Negaste-me os monstros que me ensombravam os sonhos,  derrubaste barreiras, confinaste os medos em frascos de riso, mostraste-me que não se enunciam tragédias sem prever comédias. Tornaste-me melhor, arrogo-me dizer que atingi a perfeição nisto da maternidade porque te reconheço os defeitos, as imperfeições, os sarilhos e empecilhos e consigo amá-los como se de virtudes se tratassem.
Fiquei-me pelo caminho, sigo a estrada que reescreveste e tenho a certeza que daqui para a frente amar-te-ei até ao infinito.
Parabéns puto!

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Ao nível do google translator


Vinha tão feliz com o seu guarda-chuva do dragão aberto mesmo não estando a chover, ao chegar perto de mim fala muito alto, como é já um hábito.
-Yo meu guarda chubia vai entrar em accion.
As pessoas começaram a rir, claro.
-Estão a rir-se de mim? Eu estava a falar brasileiro.
-Era espanhol, Macaquito, ou qualquer coisa parecido. - digo eu.  
- Naaaaa mamã, era espanholês!

terça-feira, 11 de outubro de 2016

E o meu descanso?

Cerca das 4 da manhã oiço-lhe os passos, tem sido uma constante na última semana. Permito-lhe porque achei que se sentir aconchegado no sono, os dias lhe correm melhor e têm corrido, não quero no entanto que se torne um hábito. Daí, assim que o senti deslizar para o meio da cama, disse-lhe baixinho:
-Macaquito, não pode ser, não podes vir para a minha cama todas as noites.
-Shiiuuuu! Não faças barulho. Não queres incomodar o pai, pois não?

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Filas

Enquanto a senhora da recepção da piscina me resolvia uma questão, chega um senhor completamente distraído, provavelmente cheio de pressa e pergunta qualquer coisa. 
- O senhor tem de esperar pela sua vez, agora a senhora está a atender a minha mãe! É assim que se faz, cada um espera pela sua vez.
A senhora da recepção não aguentou e largou-se a rir, eu pedi desculpa e o senhor deu-lhe razão mas ficou meio encavacado. Fosse ele tão bom a cumprir as regras como é a impingi-las aos outros e a minha vida estaria claramente mais facilitada.

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Habemus ursa

Acordámos com uma manhã cinzenta e nevoeiro cerrado. Macaquito achou que nem era hora de acordar pois que ainda estava de noite (não estava). Após a azáfama habitual das manhãs, mochilas e lancheiras prontas à porta para sair, hora de vestir casacos.
-Mamã, esse não. É muito grande e não cabe na lancheira.- macaquita traz sempre os casacos enrolados dentro da lancheira.
-Não sei como farás no Inverno quando começares a levar casacos MESMO grandes.
-No Inverno vou hibernar, não preciso de casacos para nada!

terça-feira, 4 de outubro de 2016

Não tem nada a ver mas tenho de partilhar #5

Contava-me ontem a M. que o avô, de quem já ouvi umas histórias engraçadas, tem uma certa dificuldade em compreender modernices tais como internet e afins. E eu dizia-lhe que não era possível, então um homem que se reformou há tão pouco tempo, que trabalhou no comércio e lidava com tanta gente, como é possível não ter noção nenhuma. Então ela contou várias histórias, rimo-nos até às lágrimas, o senhor é um personagem com direito a horário nobre em qualquer canal de TV. Deixo-vos a primeira.
Durante um almoço em casa dela, estava a televisão ligada no telejornal e passava a reportagem sobre o novo livro do Harry Potter.
Avô: Harry Potter? Isso é o quê?
M: Então avô, o Harry Potter é um livro. E depois fizeram um filme.
Avô: Um filme? Então ele é cineasta?
M: Não avô, o Harry Potter é um personagem de uns livros e depois fizeram um filme sobre isso.
Avô: Ah! Pois, pois, era isso que eu queria saber... hummm, pois. Um personagem, pois, um personagem.  E ele diz o quê?

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Outubro o quê?

Chegou o Outono, a areia da praia cobre-se de tonalidades entre o amarelo, laranja e castanho. As conchas caem do mar e os peixes nadam para águas mais quentes.