terça-feira, 15 de setembro de 2015

Manel, o eremita

Férias significam, para alguns, não ter horários, nomeadamente, não ter horários para acordar. Com dois macaquitos em casa, isso torna-se missão quase impossível. Macaquita ainda dá umas tréguas, já macaquito tem fome, tem sempre fome, não lhe consigo matar a lombriga que lhe consome os quilos de comida que enfarda por dia, por isso, no máximo por essas 8 horas da matina oiço a sua voz:
-Mamã, vais arranjar-me papinha? Estou cheeeeiiiiiiiooooo de fome!
Sempre do meu lado da cama, entra, finge que dorme durante 5 segundos, dá-me umas quantas patadas, uns beijinhos, mexe e remexe no meu cabelo e lá arranja coragem para angariar comida com a frase sempre precedida da palavra mãe.
Uma dessas manhãs de férias e já de barriga cheia, depois da rotina que impunha a si próprio de abrir todas as portadas e a porta para a rua, macaquito vai até  à piscina e volta agitado.
-Mamã,  está ali um caranguejo eremita.
-Onde?
-Ali, ao pé da piscina. Anda ver.
Entretanto, macaquita já acordara e lá fomos todos investigar o caranguejo.
-Podemos pô-lo na piscina? - pergunta ele.
-Claro que não. É de água salgada, se puseres na piscina acaba por morrer.
-Então o que fazemos? Podemos ficar com ele? - pergunta macaquita.
-Eu acho que é melhor guardá-lo ali no balde e depois deixá-lo na praia. Assim ele pode voltar para casa.
Como tínhamos decidido ir passear (e procurar a gelataria dos gelados sem lactose) a Vila Nova de Mil Fontes ficou decidido que o caranguejo "eremita", que não era Pylopagurus mas um qualquer caranguejo comum, se chamaria Manel e ficaria ao largo da ilha do Pessegueiro que nos ficava em caminho.
Lá fomos nós, parámos ali juntinho à praia, mãe e rebentos desceram as rochas que me valeram um furo num dedo do pé graças às vertigens de macaquito e ao escândalo que fez para descer sozinho de um metro de altura. Calcorreámos a areia de baldinho na mão, sob o olhar incrédulo de pai macaco que acha que eu sou mais tonta que os dois putos juntos, molhamos os pés na ondas e soltámos o Manel em direcção ao horizonte.
Fizemos o nosso passeio, tirámos fotografias junto ao rio que cruza ali mesmo com o mar, comemos gelado de manga sem lactose que "foi o melhor gelado que comi em toda a vida" e voltámos a Porto Côvo.
Quase a chegarmos, macaquito pergunta:
-Mamã, achas que o Manel já chegou a casa?
-Sim, claro. Já deve ter chegado.
-Esta noite já vai jantar com a sua família!
E ficaram felizes porque salvámos a vida ao Manel e o Manel era só um caranguejo...

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