sábado, 31 de dezembro de 2016

Desejo mudança e acima de tudo, tolerância.

FELIZ ANO NOVO
Chego ao fim do ano a ansiar o mesmo que ansiava há bastante tempo atrás, que acabe depressa. Isso porque como os demais, tenho uma esperança bacoca que o novo ano traga coisas novas... e boas. Desengane-se quem, tal como eu, espera recomeços, promessas cumpridas ou desejos realizados. Decido assim ser realista, vamos continuar a ser egoístas e quando as festas terminarem lá se vai todo o altruísmo afecto à época e voltaremos a ser as mesmas bestas de antes. O orgulho desmesurado vai continuar a cegar quem não quer ver e dar o braço a torcer é coisa para doer, por isso continuamos mudos e calados e a fingir que somos mais espertos  que os outros que isto de assumir erros, compromissos e derrotas é coisa para dar muito trabalho.
A primeira pessoa do plural não está aqui por acaso.
Desejo aos meus amigos que continuem na minha vida, por muito longe que estejam. Que a vida vos seja gentil e não apenas 2017.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Houston, we have a problem....

Uma das coisas que sempre enalteci e das quais me orgulho é que macaquito é provavelmente a pessoa mais altruísta que conheço. Preocupa-se verdadeiramente com o bem-estar dos outros e nunca teve problemas em partilhar absolutamente nada com quem quer que fosse.  Cá por casa instituí a regra de castigar os brinquedos sempre que se desentendem por causa de algum, ou seja, o brinquedo vai para o cimo do armário da sala até que resolvam a questão. Posso afirmar que 99,9% das vezes, em menos de 5 minutos, macaquito pede-me que dê o dito à irmã mesmo que tenha sido ele a ir buscá-lo, o que é um facto em 99,9% das vezes.
Hoje, pela primeira vez, fez uma birra a sério por causa de um pijama. A prima veio passar o dia e acabou por ficar cá a dormir. Enquanto eu procurava um pijama maior na gaveta da irmã, ele foi buscar um pijama dos dele sem que lhe tivesse pedido, apareceu-me com um pijama de meia estação e eu disse-lhe que trouxesse um mais quentinho.
-Só lá está o dos planetas e eu não posso dar esse, é o meu preferido.
-Não faz mal, é só esta noite, a prima não vai ficar com ele.
-Mas mãe, eu não quero emprestar o pijama dos planetas porque é o meu preferido. Quero vesti-lo!
-Tu tens o do gato no armário, não vais vestir este hoje por isso podes emprestar.
A prima compreensiva já queria vestir o pijama usado, ele chorava baba e ranho e eu acabei por ir buscar outro à roupa por passar a ferro. Passados uns minutos apareceu no quarto da irmã a chorar mas com o pijama preferido na mão.
-Podes vestir este, eu não me importo. - disse entre soluços.
Sendo que a questão já estava resolvida, mandei-o para o quarto e pouco depois fui ter com ele e tentei explicar-lhe que era só um pijama, que até já estava a ficar pequeno para ele e que não poderia ficar com ele para sempre.
-Vais à loja dos pijamas e compras um igualzinho.
Nunca me tinha passado pela cabeça que um pijama pudesse causar tal celeuma e a verdade é que duvido que chegue ao fim do Inverno, a menos que lhe faça uns acrescentos. O problema é que a loja que vende aquela marca fechou e sendo que o pijama já tem quase dois anos, dificilmente encontrarei igual. Vou passar os outlets a pente fino, entretanto, planetas procuram-se.

sábado, 24 de dezembro de 2016

Boas festas para TODOS


Alheia a qualquer romantismo aliado ao espírito natalício, a vida real por vezes tira-nos o tapete e estraçalhamos os joelhos na calçada. O desconforto que me visitou hoje, por razões que não me permito explicar, fez-me perceber que por muitos esfolados que estejam os meus joelhos, posso sempre pôr um penso ou untá-los com Betadine, já a solidão que assenta sem convite na vida de outras pessoas, essa talvez não tenha solução. Este ano foi-me padrasto mas há vidas madrastas e hoje dei-me ainda mais conta disso. Sinto-me por isso obrigada a rebuscar nas gargalhadas e sorrisos dos que ainda me fazem sorrir, uma razão para amanhã me sentar à mesa e fingir que está tudo igual. 
Feliz Natal!

segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Com certeza, Monsieur

Ter um filho no espectro é saber que há coisas muito estúpidas que de um momento para o outro se podem tornar rotina, coisas como cumprimentar cada pessoa de sua maneira mas sempre da mesma maneira, ver televisão de cócoras em cima da mesa da sala, correr despido pela casa antes de entrar no chuveiro. Dou comigo muitas vezes a pedir às pessoas que não o deixem fazer qualquer coisa aparentemente normal, porque sei que a partir do momento que o permitam uma vez, ele vai repetir essa mesma coisa até à exaustão. 
Nos últimos tempos ganhou o hábito de se fechar no roupeiro para descalçar as pantufas e as meias antes de se deitar, fica dois ou três minutos lá dentro a falar sozinho, enquanto eu espero para lhe ler a história. Ontem fechado lá dentro falava francês, ou algo parecido.
-Oh, je suis magnifique, Macaquito magnifique, até te estás a passarrrrrrr.
-Demoras muito, ó magnifíco?- pergunto-lhe cá de fora.
-Oh monsiú, esperra mais um bocadinho que je suis a terrrminarrrr.
Quando finalmente saiu, olhou para mim que aguardava de braços cruzados no meio do quarto.
-Então, eu sou magnífico, ou vais dizer que não?

domingo, 18 de dezembro de 2016

Treinador de bancada

Fomos em família assistir à primeira audição musical de macaquita. Plateia cheia de progenitores e familiares, tudo expectante em relação à prestação musical dos petizes. Para aqueles miúdos o facto de ser a primeira vez torna as coisas mais difíceis mas no fundo ninguém espera nada mais que os dois ou três minutos daquele que lhe pertence e sair dali a dizer-lhe "foste o melhor". Primeiro as audições de grupo, de seguida as audições individuais. O primeiro petiz entra em palco e toca uma pequena peça, hesitante mas sem falhas de maior, quando acaba ouvem-se muitas palmas e macaquito mostra todo o seu entusiasmo em pé, gritando "Boa, boa!". Quando o silêncio se sobrepõe às palmas, macaquito fala alto demais:
-Para a próxima tens de treinar mais! 

sábado, 17 de dezembro de 2016

E parabéns

E ali estavas tu, a contar-me todo o teu dia, até que te fui perdendo, primeiro as palavras, depois os sons, fechei os olhos e um sussurro apenas.
-Mamã, onde foste?
-Entrei no verde dos teus olhos e afundei-me. Perdi o chão, eras só água, não foi um mergulho controlado, foi um salto com chumbo nos pés. Tenho comigo o peso que não quero que carregues, conversas de gabinetes de psicologia onde assegurei que nunca faria de ti diploma em quadro de honra. Assumo que o medo de te colocar no pedestal e a facilidade com que lá sobes por mérito próprio me coloca numa posição ingrata e por vezes injusta.
Sei que agora não vais entender mas devo-te um pedido de desculpas e um presente extra debaixo da árvore de natal.  Não prometo não tornar a falhar, arrogo o direito de não ser perfeita mas não te deixo por créditos alheios e juro que o orgulho que sinto por tudo o que consegues sozinha, é o mesmo orgulho que sinto nas metas falhadas do mano.
Juro, como se fosse preciso jurar, que o amor que te tenho, vai muito além dos teus brilhantes resultados. Mal tu sabes que é o teu mau feitio e as pirosices que me fazem sorrir, é saber que não precisas de mim para seres grande mas que não prescindes de mim para crescer, sorrir e para te sentires amada.
-Mamã, mamã, estás a ouvir?
-Sim, ouvi tudinho, dá cá um abraço e um beijo que já são horas de dormir. Amo-te muito, sonhos cor de rosa.

sábado, 10 de dezembro de 2016

Pontos de vista

Tenho andado doente, como tal e apesar da insistência de macaquito, ontem não me apeteceu sair para beber café. Acabou por convencer o pai a ir dar uma volta e a pequena ficou a fazer-me companhia no sofá. Chegaram tarde e a primeira coisa que fez foi ir buscar o termómetro.
-Mamã, deixa-me ver a temperatura.
-Eu não tenho febre agora.
-Vá, deixa-me ver se estás bem.- acedi, pedindo-lhe que entretanto fosse vestir o pijama. Voltou e deitou-se ao meu lado no sofá. 

-Podes ir deitar-te na minha cama um bocadinho?
-Hoje não, o pai vai contigo para a mãe não te pegar nada.

-Então posso dormir com vocês?
-Sabes, aquela cama é de dois lugares, não é de três. 
-Mas pode ser de quatro, dá para mim e para a mana também, cabemos todos.
-Qual é a regra? Cada um na sua cama!- diz-lhe o pai.
-Pai, hoje é o teu dia de sorte. Podes dormir na minha cama que eu durmo com a mamã.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Chato, chato, chato

A caminho de casa, a tentar levar a dele avante.
-Mamã, mamã quando estacionares na garagem posso marcar o código do carro.
-Claro que não macaquito, sabes bem que não.
-Mas mamã, eu sei o código, vá lá.
-Não podes, isso nem sequer faz sentido, o código é para ligar o carro.
-Ó mãe, é só uma vez, eu prometo.
-O carro não é um brinquedo, não insistas, não podes.
-Mamã, vá lá, eu prometo que não te vais arrepender, confia em mim. - usa este discurso sempre que vê que a coisa não está de feição.
-Não insistas, não vale a pena.
-Mas mamã...
Optei por não lhe responder mais, pensando que entretanto se calasse e esquecesse o assunto mas o rapaz é persistente e a ladainha continuava até que macaquita, que ainda não tinha dito uma palavra em todo o caminho, resolveu intervir.
-Pára macaquito, já tenho os ouvidos enjoados.
-Vão vomitar?

quarta-feira, 30 de novembro de 2016

90%

Sei que sabes que tenho um orgulho desmedido em tudo o que fazes mal. Quando deste os primeiros passos, tinhas quase três anos, que orgulho. Quando pedalaste um triciclo pela primeira vez, lembras-te? Tinhas quase 5 anos, chorei orgulhosamente a ver o vídeo que o avô mandou. Quando foste para a escola com um computador na mochila porque não conseguias pegar no lápis, senti tudo o que todas as mães sentem naquele primeiro dia e mais, senti orgulho desmesurado. E todos os anos, no final do ano sinto orgulho dos teus suficientes, sei o quanto te custa ganhá-los, atingir uma meta que para os outros tem metade dos quilómetros. 
Sei que sabes o orgulho que sinto em tudo o que fazes, não tenho é bem a certeza se sabes porquê mas eu vou dizer-te. Porque em todas as coisas que fazes mal, todas as pequenas coisas que atinges fazes com a coragem que às vezes me falta. Por isso hoje, quando me telefonaste da escola e me falaste cheio de orgulho no teu primeiro Muito Bom, eu não senti orgulho, senti justiça porque se há alguém que merece um Muito Bom és tu, na escola porque na vida serás sempre Excelente!!!

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Imaginem...

...que vão beber café a uma esplanada com uma amiga, acompanhadas dos vossos rebentos. Calha que essa esplanada é um local de passagem bastante movimentado, sentam-se de costas para a passagem e os rebentos brincam por ali. Imaginem que de repente olham para a vossa amiga e ela está a chorar a rir, assim como a vossa filha mais nova e a pouco e pouco todas as pessoas na esplanada e vocês não percebendo porquê resolvem procurar o motivo. O que vêem é um senhor de muita idade, vestido de gabardina e chapéu, com um andar muito peculiar, acompanhado de uma criança que lhe imita o andar sem sequer olhar para o senhor. Agora imaginem que essa criança é o vosso filho...
"Por favor, parem de rir que eu preciso de pôr um ar sério para poder ralhar com ele!"

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

De orelha a orelha

Chegaram, embrulhadas em sorrisos e cheias de alegria para dar. A surpresa na cara dela e a gargalhada genuína provam que ainda há quem goste de receber meias. Ainda por cima com super poderes...
-Uau mãe, poderes de gelo ou de outra coisa?. 
-Não sei que poderes têm, vais ter de descobrir sozinha mas eu desconfio que vêm cheinhas de amor.
-Quando eu já souber andar muito bem de bicicleta, vamos ter com a Loira e vamos passear na floresta com ela.
-Prometido!
Eu que tenho sempre tanto para dizer, fico sem palavras, obrigada Loira.

Conselheiro de moda que isso de fashion adviser é coisa de bloggers importantes

Hoje despi as calças de ganga e vesti um vestido, coisa muito, muito rara. Macaquito ficou em casa comigo porque está adoentado, a meio da manhã preparo-me para sair por uns minutos.
-Macaquito, ficas aqui um bocadinho que eu vou ali ao pão.
-Estás tão gira, mamã. Adoro o vestido mas esse casaco fica aí mal.
-Fica mal? 
-Fica, isso apertado tapa o efeito que a saia tem em ti.
Ainda estou para aqui a pensar que efeito possa ser esse.

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

A selva dos TPC

Uma folha A4 cheinha de contas de dividir, muito simples por sinal mas assim que vi a quantidade, vi a minha vida a andar para trás. Ele assim que olhou para a folha começou a chorar e a bater com os punhos na mesa.
-Eu não sei fazer isto.... são muitas...
-Não há problema, a chorar não consegues mas se parares com isso, eu ajudo e fazemos isto num instante. Nem te obrigo a fazer todas, podes fazer só metade assim que conseguires fazer uma conta sem ajuda.
Tenho sempre de arranjar uma estratégia para perceber se sabe fazer determinados cálculos, isto porque se não o fizer, ele finge que não sabe para ter mais ajuda do que a que realmente necessita. Ao fim de umas quantas consegui perceber que estava a entender, com mais uns "high five" lá fez uma sozinho e, como prometido, deixámos as restantes.
Como habitualmente, aproveitei a hora de deitar e naqueles minutos em que me deito na cama dele e que o encontro mais receptivo para conversar, preparei terreno para o dia seguinte.
-Hoje foste fantástico nas contas de dividir, se continuares assim, tenho a certeza que vais conseguir fazer tudo só com companhia e sem nenhuma ajuda. Amanhã vais fazer todinhas sozinho, eu sei que és capaz de me surpreender.
-Foi como nos problemas da página 65, até sabia quantos quadrados tinha a manta da Ana. - referia uns exercícios com umas quantas semanas. Falou-me de todos, lembrando-se de todos os valores e eu assentia e dizia que sim porque na verdade, os pormenores já se escaparam.
A dada altura pergunta-me a resposta de um dos problemas, visto que percebeu que eu estava ali a apanhar bonés e já não me lembrava daquilo, como não sabia, respondi com uma pergunta.
-E este problema? Vê lá se sabes, dou-te uma beijoca no nariz e canto a canção do Bonga se acertares (uma piadola tonta que só nós dois percebemos). Estavam 20 miúdos na selva, veio um leão e comeu 2, quantos meninos ficaram?
-Imensos!

terça-feira, 15 de novembro de 2016

Uma questão de método

Não havendo trabalhos de casa, disse-lhe que tínhamos de estudar um pouco as tabuadas que é o que ele mais detesta e por isso não se esforça minimamente em sabê-las. Quando estamos a fazer problemas matemáticos, deparamo-nos amiúde com essa lacuna e as coisas correm muito mal. O  problema é que nem todo o poderio bélico do mundo o demoveria quando ele mete na cabeça que não faz. Por tudo isso e porque ele insistia, com alguma razão, que se não tinha trabalhos é porque a professora lhe deu folga, resolvi ir buscar o quadro branco para a sala e comecei a escrever 4X1=, sem sequer olhar para ele.
Ele pega numa caneta de outra cor e escreve 4 e eu insisto no 4X2= , ele escreve 8 e diz-me que dali para a frente quem põe o sinal de igual é ele. Faço uma festa tão grande que ele até olha para mim espantado, continuamos a brincadeira e pelo meio vamos desenhando bonecos tolos que ganham olhos, nariz, barba e cabelo à medida de cada resultado correcto. Depressa passamos para a tabuada do 5 sem uma única reclamação e com todos os resultados certos e depois a do 6, 7, 8 e 9. Mais uma vez concluo, parafraseando o Scolari , que o burro sou eu porque ele sabe aquilo de cor e salteado e quando me grita o resultado final de um problema, sem me conseguir explicar qual o raciocínio que fez, não é por acaso, é apenas estar uns quantos passos à minha frente.
Ninguém me tira que se o avaliassem no quadro branco ou oralmente, os resultados iriam muito além do suficiente.


Virar o bico ao prego

Macaquito tem uma séria dificuldade em separar-se de mim em horas em que é suposto estarmos juntos. Dificuldade acrescida se ele estiver em casa e eu precisar de sair. Faço questão de não aparar certos golpes e por muito que me custe, ignoro as birras, os choros, os pedidos e promessas e faço o que tenho de fazer ou simplesmente, o que me apetece fazer de vez em quando. Por norma, saio um dia durante a semana à noite para beber café e nos últimos tempos, tem calhado ser sempre à segunda feira, o que lhe criou uma nova rotina. Ainda estamos na piscina e ele já está a perguntar se vou sair, se tenho reunião, se recebi uma mensagem ou telefonema. Chegados a casa e pergunta tudo de novo, sempre de "orelhas no ar" para o meu telefone.
-Mamã, o teu telefone fez poing. Vais sair com a M.?
-Come, não sejas assim.
-Mas mamã, eu preciso de ti.
-Eu nem te disse que ia, não penses nisso.
-Mas vais?
-Ainda não sei. Se for, ficas com o pai e vão divertir-se os três.
-Eu sei mas não quero que vás. - diz já muito choroso. Decido dizer-lhe que não vou porque neste dia em particular tem estado agitado e teve um "colapso" na piscina.
-Boa mãe, eu sabia que era o melhor para ti...
-Não, tu estás a ser egoísta, é o melhor para ti. É o que tu queres e como tu dizes tantas vezes, é injusto.
-Não percebes mamã? Quando ficas em casa com o pai, vocês têm momentos muito românticos!

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Cohen

E hoje, no caminho para a escola, oiço na rádio que também o Cohen se foi. Começa a tocar dance me to the end of love e faz-se um silêncio sepulcral, pouco habitual no carro. Quando páro, macaquita sai, olha para mim e diz:
-Esta música é triste mas faz-me feliz.

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Conhecem a expressão?

Macaquito devia ter cerca de 4 anos e meio e estava numa fase muito chata de perguntar a mesma coisa 20 vezes seguidas. Uma manhã, antes de irmos para a escola perguntava incessantemente onde íamos.
-Vamos beber café e depois vamos para a escola.
-Mamã, onde vamos?
-Beber café e depois para a escola.
Isto continuou até que eu já aborrecida lhe respondo.
-Vamos à fava!
Calou-se e não disse mais nada durante a pequena viagem. Paro o carro à porta do café, ele corre até lá dentro sem me esperar e diz para a moça no balcão.
-Bom dia FAVA!
E durante muito tempo foi esse o nome que lhe chamou.


quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Não tem nada a ver mas tenho de partilhar #6

Num país em que as pessoas chegam a celebridades a partir de vídeos de sexo e séries da MTV, não percebo qual é o espanto.

Não tarda teremos reality shows directamente da Casa Branca.

Gaba-te cesta

Reunião de pais, após todos os assuntos habituais, as conversas começam a divagar. A propósito de uma dúvida com alimentação de uma mãe, a professora dá o exemplo de Macaquito que apesar das suas intolerâncias e da sua condição de desenvolvimento, aceita por educação sempre que qualquer criança partilha com todos mas sabe que não pode comer, por isso guarda e leva para casa. 
-A propósito de Macaquito, vou de partilhar uma história convosco, eu sei que a mãe não se vai importar. - disse a professora já sorrindo para mim.
Logo pela manhã Macaquito entra na sala e vai ter com a professora para dar um recado enviado pela professora de apoio. A professora ouve mas entretida com papéis e a organização da aula que estava quase a começar, não lhe dá grande atenção.
-Obrigada, Macaquito. Podes ir sentar-te. - e continua o que estava a fazer. Ele pega na mochila, olha para ela e diz já em andamento.
-Sabe professora... eu sou um autêntico cavalheiro!

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Ele ganha sempre


-Macaquitos, está na hora, cama!
-Mas mãe, falta o segundo episódio da Ladybug.
-Não adianta, amanhã é dia de escola, vá, está na hora.
-Eu não preciso de ir à escola.
-Engraçadinho...
-Voltas a chamar-me engraçadinho e és despedida.
-Despedida de mãe? Olha, isso dava-me um jeitão mas quem é que cuidava de vocês depois?
-Arranjo uma substituta!
-Ah sim? Tudo bem, amanhã vamos à loja das mães para arranjares a tal substituta.
-Só se for uma cópia!
E assim se passa da parvoíce a dose e meia de mimo... e mais 5 minutos de televisão.

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Lê e escreve


-O Pooopeeei paaapoou...
-Sim, boa, continua. - incentivo eu.
-Ah, já sei. O Popei papou os espinafres.

Que orgulho, minha filha.

segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Olhos que não vêm...

No final da aula de violino a professora veio ter comigo a rir porque macaquita se queixou que o violino a magoava na clavícula, a professora disse-lhe que pedisse à mamã um pano do pó para colocar por baixo ao que ela prontamente respondeu:
-Não sei se a minha mãe tem disso.
-Claro que tem, então como é que a mãe limpa o pó?
-A minha mãe não limpa o pó.
-Mas deve ter panos do pó para limpar os móveis.
-Não, ela não limpa, os móveis nunca têm pó.

sábado, 29 de outubro de 2016

Caminhos

Pego ambos pela mão, não sei exactamente para onde vou, sei que qualquer que seja o sítio que escolha, será perfeito para três. Respiro profundamente enquanto caminhamos, deixo que o ar me preencha por dentro e sopro-o com força para soltar emoções que me corroem. Aperto-lhes as mãos, o toque do amor permite-me simplificar, não contornarei obstáculos, acharei o nosso ninho mágico nem que para isso tenha de carregar ambos ao colo e levar tudo à nossa frente.
Miro as nuvens que nos ensombram o dia e estou longe de lhes ver a tempestade que anunciam, sorrio às formas que nos inspiram animais e acredito que são mesmo feitas de algodão doce.


domingo, 23 de outubro de 2016

E os planos do fim de semana

Dei-lhe folga durante o dia de sábado, dia livre de mãe, preenchido de pai, vai lá sujar-te de terra e chatear as galinhas que com certeza já te sentem a falta. À última da hora e com a ameaça de chuva lá decide que vai para o ninho dos avós que lhes fica em caminho e que na volta, volta para mim. 

Pouco mais das nove da manhã já a avó me ligava, que ainda não tinham chegado e estava muito aflita que as coisas más acontecem e a viagem ainda são uns 30 quilómetros. Ligo para eles apenas para confirmar que está tudo bem e que estão mesmo a chegar a casa da avó. Não passou nem meia hora e o "MÃE" aparece de novo no ecrã do telemóvel.
-Mamã, posso dormir aqui na avó? 
Aposto um dedo do pé em como sem combinarem nada, avós e neto, já a tinham toda bem pensada.


sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Raramente faço fritos em casa

Macaquita anda teimosa para comer, demora séculos e as refeições são cansativas e pouco proveitosas porque não gosta, não tem fome, tem sono, tem de ir à casa-de-banho ou fazer qualquer coisa tão importante que não pode esperar. Claro que não a deixo tirar o rabo da cadeira enquanto não acaba mas é complicado à hora de almoço porque tem de voltar para a escola a horas. Nos últimos tempos optei por lhe tirar o prato quando chega a hora de ir embora e voltar a dar-lhe o mesmo comer na refeição seguinte. Ontem combinei com o pai que o jantar seria batatas fritas com salsicha e ovos estrelados, um verdadeiro martírio para os crescidos mas a refeição que faz as delícias para os pequenos. 
Chegámos da piscina e ela ajudou-me a descascar batatas, abriu as salsichas e ajudou a fritar cogumelos que adora. Depois da canja, servi-lhe esparguete com carne que sobrara do almoço num prato igual ao que deixara e servi os restantes pratos com a comida que me ajudou a preparar. Não disse nada, comeu tudo e esperou que terminássemos para ver o que sobrava, fiquei na mesa a comer batatas fritas (de castigo) até não sobrar nem uma. Não disse uma palavra, comeu a fruta e seguiu a sua vida.
Hoje, quando a fui buscar à escola perguntou-me o que era o almoço.
-Puré com peixe.
-Puréeee? Puré? Pensava que era batatas fritas.
-Isso foi o jantar ontem, hoje é puré e peixe.
-Pensas que eu não percebi. Eu vou comer o puré todo mas quando for mais velha e fores a minha casa para jantar não te vou dar nada!

Eu sei que não é bem assim

As coisas têm melhorado progressivamente, a um ritmo muito lento mas não deixa de ser positivo. Tento percebê-lo, o que o aflige e o que o motiva, temos conversas intermináveis quando o vou deitar, por algum motivo é quando o sinto mais permeável e disponível para partilhar emoções e lá lhe vou conseguindo arrancar as frustrações, ao mesmo tempo que lhe dou resposta às suas intermináveis perguntas. 
Na noite anterior ao seu aniversário, queixava-se que o dia ia ser muito longo e talvez fosse melhor não ir à escola.
-Não ir amanhã?! É o teu aniversário, tens um bolo para levar e os amigos vão cantar-te os parabéns. Eu digo-te que vai ser um dia super divertido e cheio de surpresas, prometo! 
-Sabes, se tu não fosses minha mãe...
...
...
-Sim? Se eu não fosse tua mãe?
-... ia ser tudo muito difícil!
-Porquê?
-Porque eu só gosto de ti!

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Comme il faut

Costumo aceder ao pedido do bolo temático, os cupcakes e convites personalizados, assim como os saquinhos de oferta deixo para as pessoas que têm tempo, dinheiro e paciência a rodos. Este ano o pedido foi para a Patrulha Pata, corri Ceca e Meca e nada, olhem para mim a hiperbolizar mas na verdade, fui a todos os hipermercados, lojas de cake design e até de brinquedos e nada de coisas caninas alusivas ao tema. Sou eu quem faz o bolo por causa das intolerâncias alimentares, logo não dá para ser impresso ou com aquelas tretas em pasta de açúcar que se faz em qualquer pastelaria. 
Puxei pelos dois neurónios que ainda me restam e enquanto ensacava a tralha para irmos para a aldeia, enfiei uma nave espacial no saco, umas bolas de esferovite e uma caixa de guaches na expectativa de inventar qualquer coisa que resultasse.
E não é que correu bem? Nem se lembrou do que tinha pedido e estava radiante com os planetas e um brinquedo que nem percebeu que era dele.



sexta-feira, 14 de outubro de 2016

1,2,3,4,5,6,7,8, ∞

Fiquei-me pelo caminho no dia em que te tomei nos braços, as mil coisas que não fiz também tu as não tinhas feito, assim, fiquei-me pelo caminho. Abriste-me as portas que eu nunca arriscaria abrir sozinha, pintaste o mundo de outras cores, todas as cores, de repente, tudo ficou azul. Negaste-me os monstros que me ensombravam os sonhos,  derrubaste barreiras, confinaste os medos em frascos de riso, mostraste-me que não se enunciam tragédias sem prever comédias. Tornaste-me melhor, arrogo-me dizer que atingi a perfeição nisto da maternidade porque te reconheço os defeitos, as imperfeições, os sarilhos e empecilhos e consigo amá-los como se de virtudes se tratassem.
Fiquei-me pelo caminho, sigo a estrada que reescreveste e tenho a certeza que daqui para a frente amar-te-ei até ao infinito.
Parabéns puto!

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Ao nível do google translator


Vinha tão feliz com o seu guarda-chuva do dragão aberto mesmo não estando a chover, ao chegar perto de mim fala muito alto, como é já um hábito.
-Yo meu guarda chubia vai entrar em accion.
As pessoas começaram a rir, claro.
-Estão a rir-se de mim? Eu estava a falar brasileiro.
-Era espanhol, Macaquito, ou qualquer coisa parecido. - digo eu.  
- Naaaaa mamã, era espanholês!

terça-feira, 11 de outubro de 2016

E o meu descanso?

Cerca das 4 da manhã oiço-lhe os passos, tem sido uma constante na última semana. Permito-lhe porque achei que se sentir aconchegado no sono, os dias lhe correm melhor e têm corrido, não quero no entanto que se torne um hábito. Daí, assim que o senti deslizar para o meio da cama, disse-lhe baixinho:
-Macaquito, não pode ser, não podes vir para a minha cama todas as noites.
-Shiiuuuu! Não faças barulho. Não queres incomodar o pai, pois não?

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Filas

Enquanto a senhora da recepção da piscina me resolvia uma questão, chega um senhor completamente distraído, provavelmente cheio de pressa e pergunta qualquer coisa. 
- O senhor tem de esperar pela sua vez, agora a senhora está a atender a minha mãe! É assim que se faz, cada um espera pela sua vez.
A senhora da recepção não aguentou e largou-se a rir, eu pedi desculpa e o senhor deu-lhe razão mas ficou meio encavacado. Fosse ele tão bom a cumprir as regras como é a impingi-las aos outros e a minha vida estaria claramente mais facilitada.

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Habemus ursa

Acordámos com uma manhã cinzenta e nevoeiro cerrado. Macaquito achou que nem era hora de acordar pois que ainda estava de noite (não estava). Após a azáfama habitual das manhãs, mochilas e lancheiras prontas à porta para sair, hora de vestir casacos.
-Mamã, esse não. É muito grande e não cabe na lancheira.- macaquita traz sempre os casacos enrolados dentro da lancheira.
-Não sei como farás no Inverno quando começares a levar casacos MESMO grandes.
-No Inverno vou hibernar, não preciso de casacos para nada!

terça-feira, 4 de outubro de 2016

Não tem nada a ver mas tenho de partilhar #5

Contava-me ontem a M. que o avô, de quem já ouvi umas histórias engraçadas, tem uma certa dificuldade em compreender modernices tais como internet e afins. E eu dizia-lhe que não era possível, então um homem que se reformou há tão pouco tempo, que trabalhou no comércio e lidava com tanta gente, como é possível não ter noção nenhuma. Então ela contou várias histórias, rimo-nos até às lágrimas, o senhor é um personagem com direito a horário nobre em qualquer canal de TV. Deixo-vos a primeira.
Durante um almoço em casa dela, estava a televisão ligada no telejornal e passava a reportagem sobre o novo livro do Harry Potter.
Avô: Harry Potter? Isso é o quê?
M: Então avô, o Harry Potter é um livro. E depois fizeram um filme.
Avô: Um filme? Então ele é cineasta?
M: Não avô, o Harry Potter é um personagem de uns livros e depois fizeram um filme sobre isso.
Avô: Ah! Pois, pois, era isso que eu queria saber... hummm, pois. Um personagem, pois, um personagem.  E ele diz o quê?

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Outubro o quê?

Chegou o Outono, a areia da praia cobre-se de tonalidades entre o amarelo, laranja e castanho. As conchas caem do mar e os peixes nadam para águas mais quentes.



quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Somewhere over the rainbow...

Tem sido duro combater a falta de produtividade a que macaquito se entregou, chegar da escola com os dois e depois de devidamente alimentados, arrastá-lo para o quarto para que faça os trabalhos, são sempre poucos e demasiado fáceis, no entanto, nunca se passam menos de duas horas até que consiga terminar. De seguida, pego na irmã e em 10/15 minutos despachamos a parte dela. Estamos nisto há quase duas semanas, sinto-me como se estivéssemos no final do ano lectivo. 
Depois há as actividades extra-escola, concedi a macaquita que desistisse da ginástica porque quer aprender a tocar violino, macaquito continua mas ainda não tive vontade de o levar pois é mais um dia de corre-corre e foi-se-me a coragem. De hoje não passa, a motricidade dele assim o exige. Isso e natação. Ahhhhh! A natação... Querem saber o que aconteceu na segunda aula?
Desci para o balneário faltavam 5 minutos para acabar, cheguei à entrada e os torniquetes não abriam, ao fim de algumas tentativas lá passei, sigo em passo de corrida e dou de caras com a professora da escola de macaquita que muito aflita e enervada me explicava uma situação que tinha acontecido nessa manhã com uma mãe. Fui-lhe dizendo que sim, que compreendia mas tinha de seguir que os miúdos estavam sozinhos, continuou muito arreliada com a situação e eu a andar e ela a falar e eu a pedir e ela a explicar e a muito custo lá chego ao balneário onde já se encontrava a professora de natação que me disse que não havia problema nenhum e que eles já estavam a tomar banho. Acabei de os lavar e vestir e aparece-me uma senhora, aparentemente uma daquelas mães perfeitas, que me diz de dedo no ar e aos gritos.
-SE O SEU FILHO NÃO TEM CAPACIDADE PARA TOMAR BANHO SOZINHO, TEM DE VIR MAIS CEDO PARA O BALNEÁRIO!!
A ira tomou-me, não fosse eu uma pessoa ponderada e ter-lhe-ia enfiado um dedo no olho e um pontapé no cu. Olhei para ela com a minha pior cara e respondi-lhe calmamente.
-Se a senhora não tem capacidade para falar comigo com educação pode voltar pelo caminho que a trouxe aqui.
Ela gaguejou e mostrou-me as calças molhadas. Ela estava vestida na zona de chuveiros, é normal que qualquer criança com mais ou menos CAPACIDADE possa molhar quem ali passa visto que estão com os chuveiros na mão. Pedi desculpa pelas calças e voltei ao meu martírio, controlar a vontade obsessiva de macaquito de fechar as 4576 portas dos cacifos e experimentar todos os secadores independentemente de estarem a ser utilizados por outras crianças ou não. Sentia-me tão desesperada que um pai que ali estava veio em meu auxílio e sossegou o meu filho com uma advertência e depois me disse que era apenas para não ser só eu a ralhar que macaquito já nem me estava a ouvir. 
Ontem, à saída da escola, quando chegou ao portão, deu duas cacetadas na cabeça da irmã, porquê? Porque ela chegou primeiro, chamei-lhe a atenção e começou a gritar enraivecido e completamente descompensado. Sabem o que me irrita? Os olhos minha gente, os olhos, fui condenada de imediato por todas as mamãs que ali estavam, excepto as que me conhecem, essas olham-me com pena... Ainda não descobri o que é pior! Peguei-lhe na mão sem dizer nada e segui com o sorriso do senhor Zé da portaria, esse sim, entende-me. Ao entrar no carro disse-lhe sem levantar a voz.
-Estás de castigo, hoje não vês televisão, se a mana quiser ver não poderás entrar na sala. Foi a última vez que gritaste comigo, não te aceito esse comportamento e não quero ouvir qualquer tipo de desculpa porque não tolero má-educação.
Pediu-me desculpa sussurrando que eu bem ouvi e não abriu a boca até casa.
Após o lanche fizemos os trabalhos de casa e pela primeira vez, fez tudo de seguida, sozinho, apenas com supervisão e algumas perguntas para tirar dúvidas, terminámos em 40 minutos. Dei-lhe um abraço e disse-lhe.
-Foste perfeito, maravilhoso, espero que a partir de hoje, fazer os trabalhos de casa seja sempre assim divertido.

terça-feira, 27 de setembro de 2016

Sonhos a pedido

A caminho da escola passamos ao lado da escola de uma amiguita de macaquito, ele prontamente se lamenta.
-Tenho tantas saudades da Leonor, até sonhei com ela esta noite.
-E eu? Também estive no teu sonho?-pergunta a irmã.
-Não, só a Leonor. 
-Sabes? Eu sonhei que fui ao Mac com a mãe.- diz ela meio amuada.
-E eu? Também fui?-pergunta ele.
-Não, tu ficaste em casa com o pai.
-Não fiquei nada, o pai entrou no meu sonho e a mãe também, por isso, não foi contigo a lado nenhum.

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Macaquita a poliglota

Macaquita adora "queijo da vaca que ri", outro dia não havia do normal em caixas grandes, por isso, pai macaco trouxe "light" com o argumento de que é tudo a mesma coisa. Ela olhou para a embalagem e saiu-se com esta:
-Ainda bem que não trouxeste queijo da vaca que ri de noite, gosto mais deste da vaca que ri de dia.
Ela não sabe inglês mas a analogia é maravilhosa.

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Coisas

Após uma semana de aulas, tenho muito para contar, não vos direi a cor das mochilas ou a marca do material escolar, estará obviamente subentendido que para ela "tudo cor-de-rosa" e para ele será sempre azul, tirando o dossier que por motivos lá dele "tinha de ser vermelho".
Primeiro dia dentro das expectativas, macaquita transbordando felicidade por assumir o papel de "crescida", uma maturidade e comportamento na sala de aula pouco habitual nesta idade mas que acaba por não me surpreender, apesar de tudo soltou a lágrima (também esperada) na hora de se despedir. Emocionalmente é um bebé, dizia-me ontem que sempre que a deixo "sente uma coisa na garganta, como quando vamos começar a chorar" e é por isso que me pede que vá embora a correr.
Macaquito preocupa-me, muito. Nunca o vi tão triste como este ano, pede-me todas as noites que não o leve de novo à escola, não trabalha na sala de aula e passamos uma espécie de martírio para fazer os trabalhos de casa. Está demasiado "longe" e não sei como o alcançar mas sei que chegarei lá e depressa recuperará o entusiasmo.
Esta noite, quando deitava a pequenita, ela contou-me os seus problemas com as ventosas dos polvos, diz que lhe metem medo e que seria incapaz de os comer. Disse-lhe que já comeu várias vezes e que apesar de não ser fã do arroz de polvo, que em salada é muito melhor e que tenho a certeza que gosta.
-Podes fazer para ti para eu te ver comer?
-Claro mas tu já comeste e também vais comer e gostar.
-Não me parece.
-Lembras-te das ameijoas? Também dizias que não gostavas e depois zangaste-te com o pai.
-Zanguei-me com o pai?
-O ano passado em Porto Côvo, o pai estava a comer ameijoas e tu não querias provar, provaste apenas no fim e já não havia mais, quando percebeste que gostavas chamaste-lhe guloso!
Largou-se a rir e depois disse-me que não lhe contasse mais nada porque estava a ficar "com aquela coisa na garganta" e não queria chorar. rimo-nos as duas e ouvimos um grande Shhhhhh vindo do quarto de macaquito.
Fui até lá, pediu-me que me deitasse com ele e que lhe explicasse porque me estava a rir com a irmã. Disse-lhe que tinha contado uma parvoíce e daí nos termos rido.
-Posso contar uma piada? -perguntou.
-Só uma, depois dormir.
-Sabes o que o lenhador diz para o pescador?
-Não.
-Tira um bacalhau da cartola!

Ainda me estou a rir...


terça-feira, 13 de setembro de 2016

O jardineiro faz anos



Papá macaco faz anos, macaquita não deixaria passar o dia sem o respectivo bolo, passámos a manhã na cozinha e ela contribui com ajuda que nem gente grande. Quiseram fazer desenhos para oferecer, como sempre pedi que me explicassem.
O de macaquita é a família num coração, amei o facto de não ter desenhado bonecos como habitualmente, de nos ter representado em círculos coloridos. De seguida perguntei a macaquito:
-Então o verde é a relva e no meio o corta-relva!
-Hã?!
Realmente o pai ontem pediu-me uns vasos para pôr salsa e coentros...

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Preto com apontamento em amarelo

A avó pegou nos dois macaquitos e foram para a festa da cidade, que por acaso mas mesmo muito acaso, até é a minha cidade natal. A minha mãe fez questão de frisar que apenas me contou isto porque estavam lá muitos amigos meus e eu iria acabar por saber, isso deixa-me um problema, acho que lhe vou chamar um problema de confiança mas adiante.
Chegaram à festa, a banda tocava animadamente e eles foram para a quermesse tirar rifas, a minha mãe assegura-me que tinha os dois pela mão mas tendo em conta aquele problema de confiança referido acima, sinto-me na obrigação de desconfiar. De repente, vem uma revoada (de pessoas não aves) e macaquito  desaparece no meio da multidão. A avó corre, a avó grita por ele, a avó muito provavelmente chora que eu conheço-a muito bem mas macaquito não se encontra em lado nenhum. A avó explica que primeiro suou e depois ficou gelada, bem feita digo eu, por achar que me pode enganar.
De repente, a música pára e ouve-se isto no recinto da festa:
-Atenção, muita atenção. Está aqui um menino perdido, um menino com uns óculos amarelos.
-É meu! - grita a avó e corre para a zona do palco (este sentido de posse irrita-me um bocadinho "É meu, mãe. Meu!"). Donde está percebe que macaquito pede o microfone ao músico.
-Avó desculpa ter-me perdido, foi sem querer, desculpa. - de seguida vira-se para o público e continua. 
-Meus senhores, peço desculpa por ter parado a música mas era uma emergência. Podem continuar a festa, boa noite!
Deu um abraço ao vocalista da banda que antes de recomeçar a tocar, disse para toda a gente ouvir que aquele era um miúdo muito especial. 
"Que orgulho, meu filho, vou dar-te uma medalha de desenvecilhamento!"
No fim disto tudo, só faço uma pergunta:

Óculos amarelos?

quarta-feira, 31 de agosto de 2016

O pacificador

Enquanto falo ao telefone com o irmão, oiço macaquita a interromper e a pedir o telefone, ele bem tenta contar tudo o que fez mas as constantes interrupções começam a deixá-lo nervoso.
-Espera, já te dou o telefone. - diz-lhe por diversas vezes e continua a falar. Ela insiste, desesperada e chata.
-Mãe, a macaquita não me deixa falar. Acho que tens de ter uma conversa com ela.
-Ignora-a, conta lá o teu dia que eu já lhe dou um puxão de orelhas.- digo a brincar.
-Não é preciso mamã, basta conversares com ela.

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Desencontro azul

Descobrimo-la por acaso, fitei as asas deslumbrada, o tom de azul sussurrou-me ao ouvido. Naquele momento, hipnotizada pela cor, falei a língua de todos os insectos. Tenho a certeza que foi boa tarde que nos disse e depois continuou nos seus afazeres. Quis guardar a sua cor sem a fazer prisioneira, num ápice pressionei o botão, ela num misto de ostentação e pudor, posicionou-se no cardo e deixou-se fotografar. Subtilmente rodopiou e voou, despedindo-se com um silvo, soou a um voltem sempre. 



Diabinho

-Mamã emprestas-me o teu telemóvel um bocadinho?
Entreguei-lhe o telemóvel e desapareceu, passado bastante tempo apareceu, deu-me o telefone e começou a choramingar, com as mãos a tapar os ouvidos e muito atrapalhado.
-Mãe, desculpa. Eu sei que não devia mas não me consegui controlar. Eu mandei uma mensagem, desculpa mãe. Desculpa!
Peguei de novo no telefone ao mesmo tempo que lhe dizia que não fazia mal e o tentava acalmar. Assim que li a mensagem, comecei a rir e o ar de aflição dele transformou-se em gargalhada.

Suponho que quando recomeçarem as aulas, a conversa com a professora de apoio será bastante divertida.

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Intervalo

Trago comigo a saudade que diluo com a lembrança do teu sorriso, prescrição perfeita para manifestações violentas de angústia ou daquele aperto no peito. Convoco o teu riso, trago-o ao meu imaginário aliado da gargalhada que só dás possuído pelo sono, é quando a soltas que tenho a certeza que está na hora de te deitar. Guardo-a na memória para que a distância entre um fim-de-semana e outro se revele mais curta. 
Sinto falta dos arrufos petulantes que finjo não admitir, fosse ela tão fácil quanto tu és e os meus dias não teriam metade da agitação, nem constância. Preciso das tempestades tanto quanto da bonança. Tivesses tu a saúde que dela transborda e ninguém me ouviria um lamento. Conto com os dois para ser feliz, conto os dias para o próximo abraço.

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Passeios de fim de semana.

Enquanto Macaquita aprendia a melhor forma de não se esfolar toda de skate sem usar as protecções que me obriga a carregar, eu e Macaquito observávamos a vida animal. Sentado no ancoradouro, despertou a atenção do cisne que se foi aproximando até ele quase entrar em pânico e começar a gritar. A ave percebeu que estava ali a mais, afastou-se e exibiu-se para nós numa espécie de tréguas. 
De seguida deslocou-se para o outro lado e nós seguimo-lo, quando enfiou o pescoço dentro de água por tanto tempo que julgámos que tinha ficado com o mesmo preso no fundo, Macaquito deu a sua explicação.
-Sabes mamã, ele faz aquilo para se proteger do sol e "renerejar" as suas penas.




 

Ficção vs Realidade

Macaquito tem dificuldade em distinguir ficção e realidade, leva demasiado a sério o que vê na televisão e se já consegue perceber que desenhos animados são bonecos e não existem, quanto às séries com pessoas de verdade ainda fica muito baralhado. Isto leva-nos ao episódio que relatarei após o ponto de interrogação. Conhecem Chica Vampiro?
Fomos beber um café no sítio do costume. Macaquito adora ajudar o pessoal do café e a parte preferida é ajudar nos pagamentos que ali são feitos ao balcão.
Estávamos nós descansados à mesa, aparece um dos empregados, ria que nem um perdido enquanto dizia "esta foi a melhor de Macaquito". Eu começo logo a rir já imaginando que vinha dali disparate.
Um cliente, dirigiu-se ao balcão para pagar.
-Boa noite, o que deseja pagar? - pergunta Macaquito ao que o rapaz prontamente responde.
-Olha, o senhor tem dentes de vampiro.- diz Macaquito ao reparar nos proeminentes caninos do visado, os amigos do rapaz começam todos a rir.
-A sério, tem mesmo.- diz o miúdo verdadeiramente estupefacto e o rapaz sorri meio envergonhado sem saber o que dizer.
-O senhor é um vampiro? Quem é que lhe mordeu?

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Não sei quem é a outra

Confronto as saudades, atrevo-me a desafiá-las apenas com um telefonema, a maioria das vezes, perco a batalha, o som da voz nunca bastará para matá-las, apenas o abraço na estocada final. Perdi por ora esta batalha mas ganhei o sorriso e uma gargalhada.
-Como é? Vens hoje para casa?
-Huuummm, não sei.
-Ainda não tens saudades minhas?
-Claro que sim, continuas a ser a minha mãe preferida.

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Macaquito fotógrafo #2


Onde quer que te leve, vejo-te sempre como uma extensão da paisagem. É a ti que sigo, é o teu olhar que observo que o teu olhar vê muito mais que o meu. Quem dera ter a tua imaginação ainda que nem sempre a consigas reproduzir ou explicar ou então sou eu que não te consigo entender. Eu vejo a montanha, já tu reparas na pequena pedra no meio da montanha, a tal que se assemelha a um sapo ou outra coisa qualquer. Abandono assim o óbvio e açambarco-te esse olhar único porque tu não vês, tu sentes a terra e o céu, fundes-te neles em jeito de contemplação.

terça-feira, 16 de agosto de 2016

Ele é perfeito!

Fomos ali a um festival, foi um pouco a medo que decidi que desta vez iriam comigo, pesei todas as possibilidades e algumas eram bem pesadas, não obstante decidi que é importante vivenciarem coisas novas, saí da minha zona de conforto, que é a casa dos avós, meti-os dentro do carro e bora lá que se faz tarde.
Depressa se ambientaram, pela primeira vez na minha vida senti que não tinha de explicar a ninguém as parvoíces e os comportamentos bizarros de macaquito que na sua ânsia de ver tudo não parou um minuto, meteu conversa com toda a gente, pediu emprestado e usou todos os borrifadores de água até à última gota, devolvia-os aos respectivos donos sem nunca se enganar, aceitou todas as ofertas de chapéus e não ficou com nenhum pois fez questão de os oferecer a qualquer pessoa que lhe desse um sorriso em troca. Aguentou concertos até horas demasiado tardias para quem está habituado a dormir cedo, em troca de uns colos e da promessa de que no dia seguinte poderia voltar.
Correram descalços e sem camisola, cantaram, dançaram, fizeram e disseram alguns disparates mas nunca perderam o norte. Calor de dia, frio à noite, refeições sem horas ou regras, pés e mãos pretas mas tanta alegria, tanta gentileza e solidariedade entre as pessoas e acima de tudo, nem um revirar de olhos. 
Ficou-me a frase de uma miúda que, depois de macaquito deixar um monte de gente a rir com um disparate e a mim ligeiramente embaraçada, se chegou a mim e me disse com um sorriso de orelha a orelha:
-Ele é perfeito!
Fomos ali a um festival e foi perfeito.


segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Confirma-se, ela está em todo o lado!

Interlúdio não musical, só para confirmar a omnipresença da preferida da blogosfera. Peço desculpa aos outros festivaleiros por lhes ter interrompido o concerto na minha corrida para obter "A FOTO". A visada foi cooperante, posou e até sorriu (aquilo é um sorriso, não é?!)




Volto para vos contar o ritual de iniciação de macaquitos aos festivais de verão...






....lá para terça-feira.

terça-feira, 9 de agosto de 2016

Macaquito fotógrafo

Macaquito pede-me o telefone para jogar, costumo aceder quando vamos beber café, sei que não joga nada porque quando devolve tenho quase sempre uma notificação relativa ao espaço de armazenamento. Abro a galeria e está cheia de vídeos e fotos, dele próprio, de pessoas que não conheço e de coisas estranhas.  Sem filtros e pelo olho dele.


segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Furto quase perfeito

Nos dias em que a Dona A vai a casa dos meus pais ajudar nas limpezas, é habitual que se sente com eles à hora do lanche. Da última vez, enquanto conversavam, o meu pai reparou em macaquito a rir-se sozinho na porta da cozinha com ar de quem estava a preparar alguma. E estava... 
Passado uns minutos, qual não é o espanto de Dona A quando olha para o seu copo de sumo e repara que estava vazio quando ela ainda nem tinha provado. No lugar do sumo estava uma palhinha que macaquito surripiou do copo das palhas no balcão e com a qual, sem ninguém se aperceber, bebeu o sumo da Dona A. Se tivesse tido a esperteza de tirar de lá a palha, haviam de ficar a pensar que o sumo evaporara.


De notar: estes comportamentos não são encorajados, muito pelo contrário mas rimo-nos a valer quando ele não está presente.

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Gralha, tagarela, papagaio... respeitinho.

O avô partilha um vídeo de macaquito a lanchar no facecoiso (se pudermos chamar lanche a um pacote de batatas fritas) durante todo o vídeo mal ouço o pequeno visto que a avó parece uma matraca, habitual também, penso que até posso dizer que na nossa família é um problema genético. Faço um comentário "A avó é muito totó." esquecendo-me que o petiz já sabe ler e que tem acesso aos computadores lá de casa. Há dois dias que lhe ligo de manhã e é isto:
-Bom dia mamã, porque é que chamaste totó à avó? Isso não é bonito. 
-Mas... estava a brincar. Era só porque a avó não parava de falar e mal te consigo ouvir...
-Não devias chamar totó à avó.
E sem dizer mais nada, vai andando pela casa e eu a falar sozinha a pensar que ele está a ouvir até que entrega o telefone a alguém e só aí percebo o silêncio do outro lado do fio.

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Nem os peixes aqui páram

Qual confusão de Agosto, por aqui não se vê vivalma e eu acho que sei porque fugiram....


segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Ainda não estamos de férias...

A treinar afogamentos.

A treinar chapões.

A treinar o uso de bóia.



 ... mas temos ido aos treinos.

quinta-feira, 28 de julho de 2016

Delicioso!


Consulta em Lisboa, trânsito demasiado lento para quem leva o tempo contado, chegámos em cima da hora, assim que entrámos no edifício da consulta macaquito dirigiu-se ao balcão e falou bem alto.
-Bom dia, sou o macaquito e já cheguei! - gargalhada geral e uns quantos comentários divertidos dos poucos funcionários que não aderiram à greve. Fomos atendidos em menos tempo do que o expectável e a consulta correu demasiado bem até ao momento em que se ofendeu com a médica porque, segundo palavras dele, não é bonito bater nas pessoas com o martelo (de reflexos).
Fomos até ao Vasco da Gama, como combinado com ambos, caso se portassem bem. Ao chegarmos lá perguntou-me há quanto tempo não ia ali, respondi-lhe e ele assentiu com a cabeça sem perceber que o estava a gozar, depreendi isso mesmo no segundo seguinte quando se dirigiu a um grupo de pessoas que ali estavam à espera de qualquer coisa ou de alguém.
-Sabem há quanto tempo a minha mãe não vinha aqui? - as pessoas olharam-no surpreendidos pela pergunta, sorriram-lhe e ele continuou. -Desde a última vez!
Ele seguiu caminho com um sentimento de missão cumprida e eu segui dois passos à frente com macaquita para não me rir do ar embasbacado de toda aquela gente.
Fomos a umas quantas lojas e numa delas, resolveu tecer uns quantos elogios a uma funcionária bonita, novinha e demasiado maquilhada, ela sorria e brincava com ele.
-Sabes, tens um baton muito cor de rosa.
-Pois tenho, gostas?
-Gosto mas devias tirá-lo!
Demasiado honesto mas desta vez nem se portou muito mal, duvido que as outras pessoas sintam o mesmo mas eu acho-o simplesmente delicioso.

segunda-feira, 25 de julho de 2016

Ampulheta

Quarenta e oito horas para matar saudades, não obstante a permissão para que partilhassem os lençóis comigo ganhando assim algum do tempo perdido, não consegui matar quem me matava. Soube a pouco mas deu para tanto, deu para banhos na piscina, para quedas seguidas de sustos e galos que não cantaram curados com sacos de favas congeladas da horta do avô, deu para asneiras com terra pelo ar, uns quantos ralhetes do pai, que a mim faltam-me as forças e a vontade quando estou tanto tempo sem os poder abraçar. Quarenta e oito horas de pés descalços, pretos que nem carvão até à hora de deitar, faltam menos de cento e vinte.

sexta-feira, 22 de julho de 2016

Avó modernaça

-Mamã, fui à festa com a avó.
-E divertiste-te?
-Sim mas o senhor dizia muitas asneiras.
-Asneiras?? (Glup)
-Disse cuzinho e cantou a música do pipi e outras.
Conhecem Manuel João Vieira (Irmãos Catita, Ena Pá 2000, etc)? Pois, Macaquita agora também!

quinta-feira, 21 de julho de 2016

Macaquito o rabugento

-Bom dia mamã.
-Bom dia filhoco, como estás?
-Estou bem, já comi.
-Ainda bem, assim não ficas rabugento. - digo eu referindo-me a uma birra de uma manhã destas, em que me fez queixa do avô, que não lhe dava comer, quando na verdade o pequeno-almoço estava à sua frente e ele não tinha reparado.
-Ontem à noite na hora de dormir é que estava rabugento.
-Porquê? -perguntei na expectativa de mais uma queixa rocambolesca.
-Ah pois, esqueci-me de dizer quando telefonaste que estava rabugento. 
-Sim mas o que aconteceu para estares rabugento? 
-A minha garganta estava dorida.
-Tadito do meu pequenito mas hoje já estás bom, parece-me.
Entregou o telefone à avó sem me responder ou sequer se despedir, a avó explicou-me que ele não tinha nada, só queria atenção e entretanto passa o telefone a macaquita que me diz antes de qualquer outra coisa:
-Sabes mãe, o  mano não estava rabugento, ele não tinha a garganta mal-disposta.
 

terça-feira, 19 de julho de 2016

Lógico

Perguntou-me se o carro estava melhor e despachou-me em grande velocidade. Macaquita compensa-me em palavras descrevendo tudo que estão a fazer, no final peço-lhe que passe de novo o telefone ao irmão.
-Que foi mamã? Agora estou a brincar, não posso falar.
-Só queria que me desses um beijo.
-Pois mas o telefone é preto e tem um vidro, não posso dar um beijo para não o estragar.

segunda-feira, 18 de julho de 2016

E a festa?

A festa foi boa apesar do calor, gostava muito de vos mostrar os cupcakes temáticos mas ficámo-nos pelos balões coloridos, espalhados aleatoriamente pelo telheiro cedo demais e que por esse motivo foram rebentando numa cadência pouco regular, no fim foi só tirar os cordéis. Os doces foram todos feitos por mim e pela aniversariante que me ajudou até à meia-noite da véspera, confesso que metemos o dedo em tudo o que era massa e lambemos, mais que uma vez. Os salgados caseiros foram trazidos pela avó e feitos pela mão de uma mestra cozinheira, que não é a avó, que essa tem uma certa alergia à cozinha e ainda bem. O bolo era de chocolate, cor de rosa e azul, ajustámos a duas mãos o tom de rosa até ela me dizer que estava perfeito e o azul era o que eu mais gostasse, as pequenas Lalaloopsy em jeito de Alice in Wonderland rodeadas de purpurinas e corações foram o adorno final e que fez com que este fosse "o bolo mais bonito de sempre". Os rapazes mais traquinas carregaram camiões de terra na horta que espalharam por todo lado, inclusive na piscina que ficou com um saudável tom acastanhado. As miúdas divertiram-se e gargalharam histéricas como só as miúdas sabem fazer. Na hora de cantar os parabéns, Macaquito cumpriu a promessa de há já três dias e cantou os parabéns dentro da piscina e quando todos terminámos chorou desalmadamente, o que também já faz parte do espectáculo. Para terminar o dia já no outro dia que a festa durou até depois da meia-noite, Macaquito fez-se valete e decidiu que todos os carros parqueados dentro do portão tinham de sair pela ordem que ele bem entendeu, daí a começar a mandar as pessoas para casa foram dois segundos.
-Ó Fernando tens de ir embora que o teu carro está no fim da fila e eu tenho de ajudar a fazer a manobra.
-Macaquito, não se manda as pessoas embora, isso não é educado.
A muito custo lá consegui arrancá-lo do pé do portão onde, nos intervalos da sua tarefa de desarrumador de carros, dizia graçolas a rimar que faziam rir os que sentados na soleira da porta do bisavô apanhavam a primeira brisa fresca da noite. Levei-o para dentro e já não lhe consegui dar banho, lavei-lhe os pés até aos joelhos que estavam pretos como carvão e adormeceu em menos de 30 segundos, enquanto lhe vestia o pijama ao lado de Macaquita que levava uma hora de avanço no sono mas pelo sorriso posso assegurar que estava a sonhar com algodão doce.

sábado, 16 de julho de 2016

Uma casa chamada mãe

Aproveito hoje aqui, com o testemunho de todos os que por aqui passam, reiterar o meu amor por ti. Não que tenha de provar, não se faz prova  de uma verdade absoluta, basta olhares-me nos olhos para perceberes o quanto te amo, bastava teres ouvido com atenção a minha voz nasalada, visto que não podias reparar no assomo das lágrimas, quando ao telefone me disseste que tinhas muitas, muitas saudades. Compreendo que na tua patetice de criança frágil, crente ainda em fadas, princesas, sereias e unicórnios te sintas por vezes posta de parte e me digas arreliada que gosto mais dele do que de ti. O peso que carregas, aquele que inadvertidamente te pus nas costas, é talvez demasiado para a tua ainda tenra carne, no entanto, a maturidade que demonstras sempre que te ponho à prova, diz-me que serás uma adulta resoluta e absolutamente feliz. 
Hoje e amanhã continuarás a duvidar de mim e deste amor que não divido com mais ninguém, juro que te entendo a relutância mas sei que o tempo me redimirá as falhas e a ti as dúvidas. 
Fico-me com o consolo de preferires quase sempre o meu colo, o meu abraço e os meus beijos sincronizados com esse esquema que deliberaste. 
Fica-te com a certeza que te amo sem medida porque tenho vários corações e dois deles nunca assentaram bem dentro do meu peito, ocupam todas as divisões desta casa que te abriga e a quem chamas mãe. Seis anos de amor desmedido, não tarda serei uma cidade!
Parabéns, princesa.


sexta-feira, 15 de julho de 2016

Macaquito o desgraçado

O telefone ainda não tinha dado dois toques e ele atende-me com uma voz desesperada.
-Ai mamã, a minha vida é muito difícil, é uma desgraça!
-Bom dia. Então conta-me lá o que aconteceu.
-Errrr.... Oooohhh.....O avô mandou-me para o quarto.
-Quer-me parecer que fizeste um disparate qualquer.
-Pois! Sabes? Eu só queria mudar a música.... e agora a mana não quer fazer as pazes... nem me dá um beijo.
-Ah! Já entendi, zangaste-te com a mana e o avô castigou-te? Eu não quero que vocês briguem, têm de ser SEMPRE amigos.
-Olha, está aqui a avó, fala com ela. Adeus!
Um piano, um desentendimento, uns empurrões, uma desgraça!!

quinta-feira, 14 de julho de 2016

Movimento

Este blogue também adere ao movimento EU EXIJO SER PLAGIADA.

Tumba, já somos 3!

Obssessivo? Não!

-Então macaquito, correu bem o passeio?
-Sim, escavei como um cão.
-A avó disse-me que fizeste amigos novos.
-Pois foi e escavei como um cão.
-Mas conta lá, eram meninos da tua idade?
-Sim e maiores e também escavei como um cão. O pai está aí?
-Está, vou passar o telefone.
-Então pá, foste à praia?
-Sim papá e escavei como um cão.
-Como um cão? Ou como uma raposa ou um menino, os meninos também escavam.
-Pois mas eu escavei como um cão.
-E mergulhos?
-A mana fez muitas bombas. E um triplo mortal!
-Ah ah ah Um triplo mortal? E tu?
-Também dei mergulhos e escavei como um cão. Adeus, a mana quer falar.

quarta-feira, 13 de julho de 2016

Praia fluvial com cheiro a mar

Ao telefone:
-Onde é o passeio hoje, macaquita?
-Vamos à praia.
-Boa! Não se esqueçam dos chapéus, óculos de sol e do protector solar.
-A avó já tem ali o que tu mandaste. Sabes? Aquele que cheira a Porto Côvo. 

terça-feira, 12 de julho de 2016

Os patinhos

Há uns dia, o avô partilhou um vídeo de macaquita com quase 2 anos a ter uma conversa informal com uns patos, num lago perto de casa deles onde macaquitos adoram ir passear.
-Quá quá quá, quá quá quá... - repetia macaquita incessantemente até ao momento em que alguns dos patos resolvem levantar voo e aí foi vê-la fugir.
Enquanto via o vídeo lembrei-me de um outro e fui revê-lo. Macaquito ia feliz, carregando nas mãos meio pão de quilo, ou seja, meio quilo de pão para dar aos mesmos patinhos. A avó seguia-o na sua inocência de avó e digo inocência para não lhe chamar ignorância, ela que é uma criança crescida em certas coisas.
Continuando, macaquito corre feliz com o saco do pão, chega ao sítio, tira o pão do saco, coloca o saco em cima de um banco, deixando cair o pão. Nisto ouve-se a voz da avó.
-Espera, a avó ajuda. Vamos partir aos bocadinhos.
Ele, mais rápido, apanha o pão, chega-se ao varandim e catrapuz! Atira o pão inteirinho na direcção dos 3 patos, que imediatamente se deslocaram para um lugar seguro, provavelmente, achando que iam ser mortos à calhoada.
-Oooohhhhhh, não era assim. Devias ter esperado que a avó partisse aos bocadinhos. Agora não tenho mais. - isto num tom demasiado triste e choroso enquanto macaquito olhava para ela assentindo a cabeça só porque sim. Na verdade, para ele, o trabalho estava feito e muito bem feito. A avó senta-se no banco, pega no saco e ali permanece amuada e ele segue com os seus afazeres, como se nada tivesse acontecido.

quarta-feira, 6 de julho de 2016

Tretas, só tretas

Fui buscar a avaliação de macaquita, segundo a professora, é uma menina impecável, porta-se muito bem e está super preparada para ir para o primeiro ano. Só um pequeno senão...
-Ela é muito sensível.
-Sensível como? Chorona? - pergunto eu.
-Não, muito apegada a si. Muito preocupada, não sei se não será um problema. - fiquei a pensar que tivesse a ver com o dia da festa de final de ano em que chorou dilúvios cada vez que olhava para mim. - Sabe, aqui há tempos, numa altura que a senhora esteve doente em casa, passou o dia a dizer-me que tinha de ir para casa tomar conta da mamã porque a mamã precisava muito dela.
Sorri, acenei, disse que não me recordava bem mas que era possível. De seguida saí e ri-me sozinha até ao carro. Nunca estive doente em casa. Não ia dizer que desde que mudou de escola estava constantemente a preparar estratagemas para não ir à escola por detestar estar ali.

terça-feira, 5 de julho de 2016

Medos

A meio do segundo toque atendeu-me.
-Mãe, não vou cortar o cabelo aí em "casa", vou cortar aqui na avó.
-Bom dia bebé, primeiro bom dia.
-Bom dia mamã, sabes vou à Cláudia cortar o cabelo.
-Fazes bem que está muito calor.
-Mas ela tem caracóis, eu não gosto caracóis e acho que vou chorar.
-Não vais nada chorar, pedes-lhe que ate o cabelo assim já não vês os caracóis dela. Tu já não choras a cortar o cabelo, lembras-te? E a Cláudia tem uns caracóis bem bonitos e tu gostas de caracóis, se te portares muito bem no fim-de-semana vamos comer caracóis.- tento tirar o foco do corte de cabelo que é algo que o deixa em pânico.
-Está bem, eu vou. Olha a mana quer falar contigo, adeus!
Suponho que hoje seja um dia animado, especialmente para a Cláudia...


E talvez para mim se a história se repetir.

segunda-feira, 4 de julho de 2016

Macaquito, o optimista

Ligo várias vezes durante o dia até que que alguém me atenda. Prestes a desistir, o avô lá me atende e explica que foram passear e não levaram o telemóvel, ouço-o sair de casa e entretanto já ouço também o pequeno.
-Então meu vadiola, o que andas a fazer?
-Fui à procura da avó, ela deixou as chaves na rua. Nunca sabe de nada, até podem estar no contentor do lixo, ai que eu vou ter uma conversinha muito séria com esta avó! - fala ininterruptamente até quase perder o fôlego.
Percebo que vem a falar e as descer as escadas ao mesmo tempo, o eco ressoa-me nos ouvidos e a sua voz tremelica. Apesar de ter melhorado o equilíbrio com o reajuste da medicação, mudou de óculos à pouco tempo, é provável que ainda não se sinta seguro. Cai tantas vezes e quando cai magoa-se sempre a sério, apesar de nunca ter caído numas escadas, é o que mais me assusta. Tento não passar para ele as minhas preocupações, no entanto, percebe-me a apreensão mesmo quando não digo nada.
-Espera mãe, tenho de agarrar o corrimão... As escadas são muito altas... Ai ai... Isto às vezes é difícil... Mas não te preocupes, o avô vai ali falar com os conselheiros da visão e fica logo tuuuudo bem!

sexta-feira, 1 de julho de 2016

Hoje falo da seleção

Vibrou durante hino de bandeira em punho, danou-se comigo quando cantei "contra os canhões, batatas e feijões", viu uns minutos mas entretida lá nos seus afazeres ficou triste quando lhe disse que já estávamos a perder, saltou de alegria com o golo do empate e ao último penálti chorou... 




...assustada com os meus gritos.

terça-feira, 28 de junho de 2016

Very typical

Fomos almoçar, restaurante da terra, dono conhecido. Macaquito chorão e birrento ao ponto de ter de sair com ele, demos uma volta na rua, sentámo-nos os dois na soleira de uma porta à sombra e conversámos. Umas quantas queixas e indisposições, uns beijinhos e uns abraços e voltei com um macaquito mais calmo e alegre. Pedimos, comemos e esperámos muito tempo que macaquita acabasse. Enquanto eu, pai macaco e a avó conversávamos, macaquito levantou-se da mesa, quando me apercebi já estava em amena cavaqueira com o rapaz que nos servia. Chamei-o para junto de nós pedindo desculpa, o rapaz refutou com veemência que ele não estava a chatear nada.
-Vês mãe, eu não estou a chatear, tenho de trabalhar.
-Vá, já chega, senta-te ali connosco.
Sentou-se mais uns minutos, assim que nos apanhava distraídos lá estava ele, de mesa em mesa com rapaz, perguntando educadamente a cada pessoa que se sentava o que desejava comer. Lá o convencia a sentar-se mais um pouco e o rapaz a dizer que não, que não havia problema, que ele é muito simpático e eu naquela incerteza, se sou eu que estou a ser aborrecida ou macaquito, que no fundo só quer ajudar e gosta mesmo de conversar com todas as pessoas.
Mais uma volta, mais uma distracção, olho para trás e estando o empregado a dialogar em inglês com um casal de turistas que se sentou numa mesa atrás de nós, vejo macaquito a tentar entabular conversa em inglês, repetindo tudo o que o empregado diz ao mesmo tempo que abana a cabeça em sinal afirmativo.
-Yes... very good... yes... like... yes...
E os turistas a olhar para ele com uma cara estranha e provavelmente a pensar que em Portugal se usam crianças para convencer os turistas a comer um qualquer prato típico.

segunda-feira, 27 de junho de 2016

Jai Ho


As miúdas, por serem tantas, rodearam-nos e saracotearam-se à volta deles, eles, sentados nos puffs, imitavam os movimentos de braços e pareciam divertidos com a deferência. Dançaram sincronizados com a música e as palmas, para logo de seguida mostrarem a sua agilidade nos pinos, rodas, cambalhotas e trampolim.
Enchi-me de orgulho, mais uma vez. Parece inconcebível caber-me tanto orgulho no peito, lado a lado com este coração cheio de amor, não sei como consigo tanto espaço. Ela, porque faz sempre melhor do que é suposto conseguir fazer e ele, por atingir o que pouca gente pensou ser possível, por ultrapassar todos os medos e limitações com a coragem de um triplo mortal encarpado.



 A piada:
 Em conversa com ela após o sarau.
-Estavam tão giros e o mano até já faz a ponte e cambalhotas sem ajuda.
-Viste-o mamã, sentado na bufa?