sábado, 31 de dezembro de 2016

Desejo mudança e acima de tudo, tolerância.

FELIZ ANO NOVO
Chego ao fim do ano a ansiar o mesmo que ansiava há bastante tempo atrás, que acabe depressa. Isso porque como os demais, tenho uma esperança bacoca que o novo ano traga coisas novas... e boas. Desengane-se quem, tal como eu, espera recomeços, promessas cumpridas ou desejos realizados. Decido assim ser realista, vamos continuar a ser egoístas e quando as festas terminarem lá se vai todo o altruísmo afecto à época e voltaremos a ser as mesmas bestas de antes. O orgulho desmesurado vai continuar a cegar quem não quer ver e dar o braço a torcer é coisa para doer, por isso continuamos mudos e calados e a fingir que somos mais espertos  que os outros que isto de assumir erros, compromissos e derrotas é coisa para dar muito trabalho.
A primeira pessoa do plural não está aqui por acaso.
Desejo aos meus amigos que continuem na minha vida, por muito longe que estejam. Que a vida vos seja gentil e não apenas 2017.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Houston, we have a problem....

Uma das coisas que sempre enalteci e das quais me orgulho é que macaquito é provavelmente a pessoa mais altruísta que conheço. Preocupa-se verdadeiramente com o bem-estar dos outros e nunca teve problemas em partilhar absolutamente nada com quem quer que fosse.  Cá por casa instituí a regra de castigar os brinquedos sempre que se desentendem por causa de algum, ou seja, o brinquedo vai para o cimo do armário da sala até que resolvam a questão. Posso afirmar que 99,9% das vezes, em menos de 5 minutos, macaquito pede-me que dê o dito à irmã mesmo que tenha sido ele a ir buscá-lo, o que é um facto em 99,9% das vezes.
Hoje, pela primeira vez, fez uma birra a sério por causa de um pijama. A prima veio passar o dia e acabou por ficar cá a dormir. Enquanto eu procurava um pijama maior na gaveta da irmã, ele foi buscar um pijama dos dele sem que lhe tivesse pedido, apareceu-me com um pijama de meia estação e eu disse-lhe que trouxesse um mais quentinho.
-Só lá está o dos planetas e eu não posso dar esse, é o meu preferido.
-Não faz mal, é só esta noite, a prima não vai ficar com ele.
-Mas mãe, eu não quero emprestar o pijama dos planetas porque é o meu preferido. Quero vesti-lo!
-Tu tens o do gato no armário, não vais vestir este hoje por isso podes emprestar.
A prima compreensiva já queria vestir o pijama usado, ele chorava baba e ranho e eu acabei por ir buscar outro à roupa por passar a ferro. Passados uns minutos apareceu no quarto da irmã a chorar mas com o pijama preferido na mão.
-Podes vestir este, eu não me importo. - disse entre soluços.
Sendo que a questão já estava resolvida, mandei-o para o quarto e pouco depois fui ter com ele e tentei explicar-lhe que era só um pijama, que até já estava a ficar pequeno para ele e que não poderia ficar com ele para sempre.
-Vais à loja dos pijamas e compras um igualzinho.
Nunca me tinha passado pela cabeça que um pijama pudesse causar tal celeuma e a verdade é que duvido que chegue ao fim do Inverno, a menos que lhe faça uns acrescentos. O problema é que a loja que vende aquela marca fechou e sendo que o pijama já tem quase dois anos, dificilmente encontrarei igual. Vou passar os outlets a pente fino, entretanto, planetas procuram-se.

sábado, 24 de dezembro de 2016

Boas festas para TODOS


Alheia a qualquer romantismo aliado ao espírito natalício, a vida real por vezes tira-nos o tapete e estraçalhamos os joelhos na calçada. O desconforto que me visitou hoje, por razões que não me permito explicar, fez-me perceber que por muitos esfolados que estejam os meus joelhos, posso sempre pôr um penso ou untá-los com Betadine, já a solidão que assenta sem convite na vida de outras pessoas, essa talvez não tenha solução. Este ano foi-me padrasto mas há vidas madrastas e hoje dei-me ainda mais conta disso. Sinto-me por isso obrigada a rebuscar nas gargalhadas e sorrisos dos que ainda me fazem sorrir, uma razão para amanhã me sentar à mesa e fingir que está tudo igual. 
Feliz Natal!

segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Com certeza, Monsieur

Ter um filho no espectro é saber que há coisas muito estúpidas que de um momento para o outro se podem tornar rotina, coisas como cumprimentar cada pessoa de sua maneira mas sempre da mesma maneira, ver televisão de cócoras em cima da mesa da sala, correr despido pela casa antes de entrar no chuveiro. Dou comigo muitas vezes a pedir às pessoas que não o deixem fazer qualquer coisa aparentemente normal, porque sei que a partir do momento que o permitam uma vez, ele vai repetir essa mesma coisa até à exaustão. 
Nos últimos tempos ganhou o hábito de se fechar no roupeiro para descalçar as pantufas e as meias antes de se deitar, fica dois ou três minutos lá dentro a falar sozinho, enquanto eu espero para lhe ler a história. Ontem fechado lá dentro falava francês, ou algo parecido.
-Oh, je suis magnifique, Macaquito magnifique, até te estás a passarrrrrrr.
-Demoras muito, ó magnifíco?- pergunto-lhe cá de fora.
-Oh monsiú, esperra mais um bocadinho que je suis a terrrminarrrr.
Quando finalmente saiu, olhou para mim que aguardava de braços cruzados no meio do quarto.
-Então, eu sou magnífico, ou vais dizer que não?

domingo, 18 de dezembro de 2016

Treinador de bancada

Fomos em família assistir à primeira audição musical de macaquita. Plateia cheia de progenitores e familiares, tudo expectante em relação à prestação musical dos petizes. Para aqueles miúdos o facto de ser a primeira vez torna as coisas mais difíceis mas no fundo ninguém espera nada mais que os dois ou três minutos daquele que lhe pertence e sair dali a dizer-lhe "foste o melhor". Primeiro as audições de grupo, de seguida as audições individuais. O primeiro petiz entra em palco e toca uma pequena peça, hesitante mas sem falhas de maior, quando acaba ouvem-se muitas palmas e macaquito mostra todo o seu entusiasmo em pé, gritando "Boa, boa!". Quando o silêncio se sobrepõe às palmas, macaquito fala alto demais:
-Para a próxima tens de treinar mais! 

sábado, 17 de dezembro de 2016

E parabéns

E ali estavas tu, a contar-me todo o teu dia, até que te fui perdendo, primeiro as palavras, depois os sons, fechei os olhos e um sussurro apenas.
-Mamã, onde foste?
-Entrei no verde dos teus olhos e afundei-me. Perdi o chão, eras só água, não foi um mergulho controlado, foi um salto com chumbo nos pés. Tenho comigo o peso que não quero que carregues, conversas de gabinetes de psicologia onde assegurei que nunca faria de ti diploma em quadro de honra. Assumo que o medo de te colocar no pedestal e a facilidade com que lá sobes por mérito próprio me coloca numa posição ingrata e por vezes injusta.
Sei que agora não vais entender mas devo-te um pedido de desculpas e um presente extra debaixo da árvore de natal.  Não prometo não tornar a falhar, arrogo o direito de não ser perfeita mas não te deixo por créditos alheios e juro que o orgulho que sinto por tudo o que consegues sozinha, é o mesmo orgulho que sinto nas metas falhadas do mano.
Juro, como se fosse preciso jurar, que o amor que te tenho, vai muito além dos teus brilhantes resultados. Mal tu sabes que é o teu mau feitio e as pirosices que me fazem sorrir, é saber que não precisas de mim para seres grande mas que não prescindes de mim para crescer, sorrir e para te sentires amada.
-Mamã, mamã, estás a ouvir?
-Sim, ouvi tudinho, dá cá um abraço e um beijo que já são horas de dormir. Amo-te muito, sonhos cor de rosa.

sábado, 10 de dezembro de 2016

Pontos de vista

Tenho andado doente, como tal e apesar da insistência de macaquito, ontem não me apeteceu sair para beber café. Acabou por convencer o pai a ir dar uma volta e a pequena ficou a fazer-me companhia no sofá. Chegaram tarde e a primeira coisa que fez foi ir buscar o termómetro.
-Mamã, deixa-me ver a temperatura.
-Eu não tenho febre agora.
-Vá, deixa-me ver se estás bem.- acedi, pedindo-lhe que entretanto fosse vestir o pijama. Voltou e deitou-se ao meu lado no sofá. 

-Podes ir deitar-te na minha cama um bocadinho?
-Hoje não, o pai vai contigo para a mãe não te pegar nada.

-Então posso dormir com vocês?
-Sabes, aquela cama é de dois lugares, não é de três. 
-Mas pode ser de quatro, dá para mim e para a mana também, cabemos todos.
-Qual é a regra? Cada um na sua cama!- diz-lhe o pai.
-Pai, hoje é o teu dia de sorte. Podes dormir na minha cama que eu durmo com a mamã.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Chato, chato, chato

A caminho de casa, a tentar levar a dele avante.
-Mamã, mamã quando estacionares na garagem posso marcar o código do carro.
-Claro que não macaquito, sabes bem que não.
-Mas mamã, eu sei o código, vá lá.
-Não podes, isso nem sequer faz sentido, o código é para ligar o carro.
-Ó mãe, é só uma vez, eu prometo.
-O carro não é um brinquedo, não insistas, não podes.
-Mamã, vá lá, eu prometo que não te vais arrepender, confia em mim. - usa este discurso sempre que vê que a coisa não está de feição.
-Não insistas, não vale a pena.
-Mas mamã...
Optei por não lhe responder mais, pensando que entretanto se calasse e esquecesse o assunto mas o rapaz é persistente e a ladainha continuava até que macaquita, que ainda não tinha dito uma palavra em todo o caminho, resolveu intervir.
-Pára macaquito, já tenho os ouvidos enjoados.
-Vão vomitar?