terça-feira, 15 de novembro de 2016

Uma questão de método

Não havendo trabalhos de casa, disse-lhe que tínhamos de estudar um pouco as tabuadas que é o que ele mais detesta e por isso não se esforça minimamente em sabê-las. Quando estamos a fazer problemas matemáticos, deparamo-nos amiúde com essa lacuna e as coisas correm muito mal. O  problema é que nem todo o poderio bélico do mundo o demoveria quando ele mete na cabeça que não faz. Por tudo isso e porque ele insistia, com alguma razão, que se não tinha trabalhos é porque a professora lhe deu folga, resolvi ir buscar o quadro branco para a sala e comecei a escrever 4X1=, sem sequer olhar para ele.
Ele pega numa caneta de outra cor e escreve 4 e eu insisto no 4X2= , ele escreve 8 e diz-me que dali para a frente quem põe o sinal de igual é ele. Faço uma festa tão grande que ele até olha para mim espantado, continuamos a brincadeira e pelo meio vamos desenhando bonecos tolos que ganham olhos, nariz, barba e cabelo à medida de cada resultado correcto. Depressa passamos para a tabuada do 5 sem uma única reclamação e com todos os resultados certos e depois a do 6, 7, 8 e 9. Mais uma vez concluo, parafraseando o Scolari , que o burro sou eu porque ele sabe aquilo de cor e salteado e quando me grita o resultado final de um problema, sem me conseguir explicar qual o raciocínio que fez, não é por acaso, é apenas estar uns quantos passos à minha frente.
Ninguém me tira que se o avaliassem no quadro branco ou oralmente, os resultados iriam muito além do suficiente.


5 comentários:

  1. Ele só precisa de alguém que saiba acompanhar o ritmo dele — que, pelos vistos, está muito à frente do que suporta o método tradicional. E, para já, esse alguém és tu, mamã <3

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    1. É uma luta diária e ele consegue tudo. Ainda hoje recebeu um teste de estudo do meio com um Bom, o que tinha errado foi o que não fez. Fiz-lhe as perguntas e respondeu a tudo. Como na motricidade fina está muito atrasado, recusa porque se cansa. O sistema tradicional não funciona com estes miúdos, é de lamentar que as pessoas no ministério não saiam de trás da secretária porque os professores fazem o que podem mas há aquela coisa dos "objectivos" que têm de ser cumpridos, dê por onde der.

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  2. Não podes propor testes orais? Fiz esse pedido com algumas crianças, nomeadamente com dislexia. Os resultados eram muito diferentes.

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    1. Ele tem adaptações curriculares, na avaliação durante o ano ele tem mais tempo, orientam-no na leitura e interpretação das perguntas. Este ano ainda não tive reunião com a unidade de autismo e nem sei quando será. Eu acho que nem passa tanto pela avaliação oral, passava por ter testes mais adaptados à dificuldade que tem em escrever.

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    2. Sim, por exemplo testes com cruzes. Não acho que seja difícil adaptar testes. É só uma questão de força de vontade.

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Dá cá bananinhas!