quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

Da perda

Quase sete meses passados sobre a morte do meu pai, macaquito começa agora a compreender a dor da saudade, a maturidade emocional que lhe achámos era, na verdade, incompreensão. Chora a impossibilidade de rever o avô, percebe agora que é irreversível, que não podemos ir buscá-lo lá ao sítio onde o deixámos. Mas o avô não queria morrer, diz-me com a voz embargada e eu explico-lhe da maneira que sei, com as palavras mais doces que sei, que a saudade pode ser boa, que é o bocadinho dele que temos no nosso coração que não nos deixa esquecê-lo e que será sempre parte do que somos. Digo-lhe, sem acreditar, que esteja onde estiver o avô nos acompanha e nos protege e estará feliz se nós também estivermos, minto-lhe deliberadamente porque não tenho outra forma de lhe mitigar a dor.
No fundo não sei nada da dor dele, ele explica-se por analogias a que tento dar expressão e valor mas não sei se consigo com exactidão uma medida para essa dor. E ao mesmo tempo que se confronta com a dor da morte percebe da pior maneira que também se perde pessoas vivas, depois do silêncio confuso a que me votou nos últimos dias, chovem agora chorrilhos de perguntas a que não sei de todo responder. Invento razões que ignoro, digo-lhe que às vezes as pessoas se sentem tão sozinhas que não querem ver ninguém mas não espero que compreenda. Enxugo-lhe as lágrimas e envolvo-o entre os meus braços e espero desta forma apaziguar as suas emoções porque sei que não há palavras que o consigam consolar.

4 comentários:

  1. Serão os teus braços a envolvê-lo, as tuas mãos a enxugar-lhe as lágrimas e as razões que fores encontrando por esse caminho que o ajudarão a percorrê-lo. Sabes isso tão bem, Be. <3

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    1. Assustei-me por não ter compreendido a dor dele e ter pensado que estava a ultrapassar com alguma facilidade a perda do avô, só agora percebi a confusão que vai na cabeça dele. Sei que vamos dar a volta juntos mas senti-me tão impotente... <3

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  2. Cheguei aqui ontem e li tudo, uns anos para trás. Tem uns filhos espetaculares e uma sensibilidade tão bonita para lidar com eles e para relatar o que eles lhe dizem.
    Se lhe fosse dar um conselho (que pode - obviamente - não seguir), não lhe minta. Ele sabe. Ele está triste e sabe que a mãe também está. Diga-lhe isso e diga-lhe que não tem respostas para tudo. Ele também não vai ter em grande parte da vida - faz parte. Se lhe diz sem acreditar, ele não vai ficar convencido… Os miúdos sabem. O seu miúdo sente. E não tem mal sentir, nem estar triste, nem não ter respostas. Nunca. Não quer dizer que tenhamos de calar as perguntas...
    Um beijinho grande para os dois e desculpe a intromissão.

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Dá cá bananinhas!