quinta-feira, 14 de abril de 2022

Mangas arregaçadas

Tenho alguma dificuldade em digerir injustiças, especialmente se estas nos são passadas como a melhor solução para o problema que outros criaram. 
Um dia destes fui chamada a uma entidade para contar o que se estava a passar na escola com macaquito, a intervenção desta entidade será apenas com os agressores e respetivos pais, no entanto, a sugestão de uma solução pouco inclusiva e até ilegal deixa-me logo a fervilhar. Depois de todos os episódios explicados, não só estes últimos mas com uma abordagem geral a todos estes anos de escola pública, sempre no mesmo agrupamento, fizeram-me a seguinte questão:
-Já pensou em mudá-lo de escola? - não obstante a surpresa pela pergunta, demorei três segundos a responder.
-Já, obviamente que é uma das soluções em cima da mesa mas diga-me honestamente onde está a justiça dessa solução? Porque razão terei de mudar toda a rotina de uma criança que está integrada, neste caso com a agravante do autismo, se não é ele o agressor? 
É evidente que é uma solução com menos risco para quem tem de tomar uma posição mas uma solução medíocre. Fico a matutar na mensagem que fica para aqueles miúdos que, independentemente do castigo que lhes calhar, é de que no final acabam por "expulsar" da escola a pessoa que escolheram agredir. E é só isto, uma escolha! Escolheram agredir um colega pela sua diferença, como se ser diferente fosse algo errado. Quantas das pessoas que conhecem são neurodiversas ou têm uma incapacidade? Ele é um miúdo meigo, divertido, educado e amigo de todos os que o tratam bem e até de alguns que o tratam mal. E é um miúdo que tem feito um esforço hercúleo para seguir normas sociais que nem sequer entende, portanto, alguém me explique a razão de alguém numa comissão me perguntar se já ponderei mudá-lo de escola porque isso talvez seja o melhor para ele com o argumento de que a escola é muito elitista e trabalha para os quadros de mérito, logo, a competitividade é muita e não há um sentimento de grupo, de orientação comum, de trabalho em equipa. 

A procissão ainda vai no adro e eu provavelmente serei a insatisfeita do costume mas não vou deixar de tentar provar que a inclusão é muito mais bonita fora do papel do que por escrito ou pendurada em fitinhas e balões. 

2 comentários:

  1. É a solução mais fácil, claro. Para outro tipo de abordagem era necessária vontade e coisos de aço.

    Elitismo, quadros de mérito e competitividade dão-me urticária.
    Eu como mãe, quero que o meu filho tenha bons resultados claro, mas quero sobretudo que seja feliz, se sinta integrado e seja intrinsecamente justo consigo e com os outros sem necessidade de bandeiras, fitas ou seja lá o que for.

    Coragem nessa luta de uma vida.

    Isa

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  2. Também fico para lá de furiosa e incrédula por,nestas situações, beneficiarem sempre o agressor e terem a lata de sugerir que quem é vítima que se mude.

    Coragem na luta pelos direitos de Macaquito.

    Grande abraço

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