quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

Talvez não...

Talvez gostasse de ver o mundo de fora mas estando nele, ver-me como se estivesse num filme. Provavelmente seria uma produção de baixo orçamento, com personagens estranhas, talvez me pudesse emocionar, largar a razão ou a falta dela, ver as coisas doutra perspectiva, os meus fantasmas e os meus defeitos, sem preconceito ou certezas absolutas, deixar o medo para trás e confrontar os maus da fita, nem que fosse a falar sozinha como a minha avó fazia com as novelas. "Velhaca!" dizia ela, entre outros impropérios que não vou repetir aqui. 

Dizer as coisas que nos estão atravessadas pode ser libertador, no entanto, a falácia a que chamamos respeito pelo outro, impede-nos de sermos livres. Quero a vida numa novela, quero ser a alcoviteira ou a desbocada que se liberta no meio de palavrões. Quero ler o próximo episódio numa revista de mau gosto daquelas que se vendem nos escaparates do supermercado. 

A vida é uma chatice porque só sabemos o que já aconteceu e o fim, do futuro nada sabemos. Em boa verdade, entre uma coisa e outra prefiro nada saber. A ignorância é um bálsamo de felicidade. 

sábado, 14 de outubro de 2023

Sweet sixteen

 

Era também quente o Outubro quando há dezasseis anos me passaste essa responsabilidade enorme de te ver crescer. As dúvidas são outras, o nó na garganta aperta mais nuns dias que noutros, é deitar-te a mão sempre que consigo e deixar-te cair quando o chão chega mais rápido que o colo, é sobretudo perceber que és o mais genuíno dos ingénuos, o que preenche os espaços em branco de emoções, o que se importa com os outros e que se perturba no sono por caber demasiado em sapato alheio. Não me fico pela tua empatia, essa é a tua maior vulnerabilidade, relevo-te a gargalhada fácil, o sorriso constante, as palavras que desmesuradamente dizes mesmo quando nada do que dizes parece fazer sentido, peço desculpa por nem sempre as compreender, por perder a paciência. E as parvoíces, acho que se alguma vez tiver de sentir saudades, será sempre das nossas parvoíces.

Parabéns palerma, estás mesmo muito crescido!



quarta-feira, 31 de maio de 2023

Olhar para os dois lados

-Macaquito, atravessaste a estrada sem olhar para cima. - alertou um amigo nosso. 
-Então?! De cima vêm as naves

terça-feira, 9 de maio de 2023

Se me rir é só depois

Devia haver um fio que pudesse puxar e que devagarinho esvaziasse a angústia que me enche por dentro. Ontem quase alcancei a ponta quando macaquita achou que eu estava triste porque não lavou os dentes, assomou-se um sorriso, um esgar de felicidade mas mal dei por ela, a ponta do fio escapou outra vez. 
O que vier depois será de rir ou chorar mais, o que vier depois que me leve esta inconstância, que me despeje as lágrimas todas de uma vez ou me faça rir até doerem todos os músculo da barriga,  o que vier depois que me resgate deste corpo onde me enfiei e no qual enceno sorrisos apenas para fingir que está tudo bem. O amor, este amor, é o que tenho de mais verdadeiro mas este amor extravaza por cada poro, consome a energia de cada célula do meu corpo, exorta todos os meus medos sempre que há algo que não consigo dominar. E este medo tolda-me o discernimento, arrasa todas as estratégias de sobrevivência, faz-me vergar. Acho que só preciso de um desfecho.

quinta-feira, 27 de abril de 2023

Ao cuidado de Macaquita: "Vai ao Google e pesquisa FRIDA KAHLO"

Macaquita lesionou-se na aula de educação física, enviou uma mensagem a descrever a situação e eu, ao invés de corrigir o erro ortográfico, achei que seria mais engraçado brincar com ela na esperança que chegasse ao erro sozinha. 


Ela só viu a mensagem de manhã e respondeu-me "Frida". Percebi que não tinha entendido nada e assim que entrou na cozinha, insisti:
-Frida ou ferida?- disse-lhe pronunciando cada uma das sílabas.
-Siiiiiiim mãe, Frida. Não é um calo!

Acho que ela ainda está a tentar perceber o meu ataque de riso, apesar de me ter pedido diversas vezes para não contar a ninguém. 
-Sim filha, fica descansada que eu não conto. - (riso maléfico).

sexta-feira, 21 de abril de 2023

O sofrimento vegetal

Macaquita entrou na cozinha para preparar o pequeno almoço, cortou uns morangos e quando foi à fruteira tirar uma banana, levou um responso do irmão pois tinha tirado a banana de forma errada. 
-Pegas no cacho, agarras a banana e depois puxas para a direita se a banana estiver do lado direito ou para a esquerda se... - dizia ele muito abespinhado.
-Claro! - digo eu com vontade de desconcertar ainda mais. -As bananas são um vegetal que sofre muito, se não as retirares de forma correcta do cacho.
Ela olhava meio incrédula para ambos e quando começa a cortar a banana às rodelas, eu começo a chiar que nem porco no abate.
-Vês? Isso é uma banana em sofrimento! - e insisto em fazer outros sons de sofrimento enquanto corto pão. -Já ouviste o pão? Também sofre muito.
-Isto é uma casa de gente maluca, eu vivo numa casa de gente maluca!
Pois vives minha querida, pois vives!

quinta-feira, 6 de abril de 2023

Estimados clientes da CP

Peço muitas desculpas se o vosso comboio foi suprimido e tiveram de apanhar o mesmo autocarro que macaquito. Espero que o reportório tenha sido do agrado. Diz quem viu que foi bonito, eu cá tenho as minhas dúvidas. Mas no fim o que interessa é chegar são e salvo a casa. Também tenho muitas dúvidas nessa parte do "são".
É justo que não seja sempre eu a levar com ele, apesar da obrigação inerente...