Não sei de que modo amenizar a dor que me corrói por dentro, tento pensar que nada acabou, que ainda o tenho do outro lado da linha de cada vez que macaquito agarra no "telemóvel fixo" e liga o número de casa dos avós. O lado realista leva-me a pensar que já não o verei chegar de máquina fotográfica e câmara de filmar na mão para cada audição ou festa de fim de ano. Ontem tive vontade de chorar no ensaio de orquestra, engoli as lágrimas e puxei pela cabeça para me lembrar de qualquer coisa que me fizesse rir e evitasse ter de sair atabalhoadamente pelo meio das crianças que compõem o grupo. Lembrei-me de muitas histórias de quando eu era tão pequena quanto macaquito é agora, naquela altura em que as máquinas não eram digitais e todas as fotos passavam pelo escrutínio do fotógrafo lá da terra. Imagino que muito se havia de rir o Sr. Horácio com a falta de habilidade dos conterrâneos na arte de fotografar e com todas as coisas invulgares que lhe passavam pelos olhos. Como daquela vez em que rumámos a norte e passeámos por Trás-Os-Montes antes de seguirmos para o Gerês, num desses longos dias de aventuras que por mais anos que tenha nunca irei esquecer, não recordo bem se ainda tínhamos a Dyane ou o Visa 10E, fosse qual fosse seguia carregado até ao tejadilho e o espaço dava apenas para nos sentarmos encolhidos entre almofadas e roupa de cama, sei que descíamos uma estrada montanhosa onde não havia muita floresta e os rochedos ganhavam terreno às árvores vereda abaixo, a minha mãe teve de parar para fazer chichi, longe estava ela de saber que quando fosse buscar as fotografias ao Sr. Horácio, veria o seu rabo branco emoldurado por calhaus no meio de todas as outras fotos de má qualidade mas que ainda guardamos religiosamente. Parece que ainda a ouço, meio incrédula, meio histérica, de faces rosadas de vergonha ante o sorriso malandro do Sr. Horácio.
-Eu não acredito que o teu pai fez isto! - e nós ríamos a bandeiras despregadas perante a foto tirada às escondidas que permanece misturada até hoje com as outras dentro dos envelopes amarelados num saco de plástico velho cheio de boas recordações.
Por vezes as publicações escapam-me.
ResponderEliminarDepois leio um que deixa uma pulga atrás da orelha... Há ali qualquer coisa que escapa. Então tevi que voltar atrás para conseguir "ver".
Beijo grande.
Sei que dói. Sei como dói. Não sei se passa. Mas com o tempo custa um pouco menos.
O tempo... o tempo custa muito tempo a passar. Tenho muita coisa a que me agarrar e muitas histórias para me lembrar como éramos cúmplices.
EliminarObrigada Mary, abraço
Um grande abraço.
ResponderEliminar<3
EliminarA minha mãe morreu há dois meses. Não vou dizer que a dor passa. Não passa, há dias em que é enorme.
ResponderEliminarTodos os dias penso “ainda não falei com a mãe hoje, ou que ainda não lhe telefonei.
Provavelmente com o tempo vai ficar mais fácil
Um abraço
Neste momento o que me dá coragem é a forma como macaquito tem enfrentado isto, como um homem. E eles eram os melhores amigos, tinham uma relação maravilhosa :)
EliminarMuita força e um abraço apertado <3
Ai Be...
ResponderEliminarPor aqui também se sabe, infelizmente, o que é a dor de perder irmã e pai.
Por isso querida Be, força - como já disseram acima (um beijinho a todas), não passa nunca mas atenua (ou a gente habitua-se...?).
Beijo cheio de carinho💙
Abraço Isabel <3
Eliminar😢 é tão duro. Há dias que vivo "resignada" e serena, outros acho que estou a viver um filme, que não é bem realidade.
ResponderEliminarBeijinho grande Be 😙
Ainda bem que macaquito está a lidar bem com isso.
Beijo grande e um abraço enorme.
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