Hora de deitar, como sempre, macaquita adora conversar numa tentativa de me enganar a mim e ao sono. Pediu-me que lhe fizesse cócegas nas costas, a dada altura disse-me que estava quase sem respirar porque estava com o nariz enfiado na almofada.
-Já chega mamã porque posso morrer.
-Não gosto que digas isso.
-Não queres que eu morra? - perguntou sem perceber o alcance das palavras.
-Claro que não, não posso ficar sem ti, tontinha.
-Mas quando te zangas comigo, dizes "meu querido" ao macaquito.
-E quando me zango com ele, também te digo coisas fofas a ti. Não tenho de me zangar com os dois ao mesmo tempo.
-Mas tu gostas muito de mim como do mano?
-Claro que sim, quando escolhi ter outro bebé já tinha o mano. Significa que tenho espaço no coração para os dois, o meu abraço é muito grande, tu sabes.
-Eu não quero ter um bebé, depois tenho de levar uma pica na barriga e o doutor vai-me cortar a barriga para tirar o bebé.
-Ainda és muito pequenina e isso não é assim. Agora dorme, amanhã falamos melhor.
-Explica-me só como é que eu fui ter dentro da tua barriga.
-Então a mamã e o papá gostam muito um do outro e gostam de namorar, um dia estávamos a namorar e o papá pôs uma semente na barriga da mãe.
-E a semente transforma-se num bebé?
-Sim, mais ou menos, a semente cresce e transforma-se num bebé que vai crescendo dentro da barriga até estar pronto para nascer.
-Ah! Já percebi.
-Então é melhor dormires, amanhã vemos o livro que a mamã comprou e explico-te melhor.
-Só mais uma conversa..
-É a última "conversa", amanhã é dia de escola.
-Tu engoliste a semente? Para ela ir ter à tua barriga? - mordi o lábio para não me rir.
-Não macaquita, o papá pôs a semente com a pilinha no pipi da mãe, depois ela nadou até à barriga.
-Pronto, já chega. Esta conversa é muito feia, não quero saber mais nada!