quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

Feliz ano novo

Sempre que macaquito traz um amigo cá a casa para jogar PlayStation, entrega-lhe o comando e fica o tempo todo a ver o outro jogar, o mesmo acontece quando vai a casa deles. Muitas vezes, quando o chamam para andar de bicicleta, fazem-no apenas para gozar com ele e estragam-lhe deliberadamente a bicicleta e ele no dia seguinte, torna a sair de casa para brincar com esses miúdos como se nada tivesse acontecido. Por muito que lhe digamos que se deve defender ou não ser amigo deles, ele não desiste, tem o coração maior que qualquer um de nós. 

Empatia, é o meu desejo para 2021! 


sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

Até os olhos brilharam

Numa das habituais consultas de neurologia, macaquito entra consultório dentro e 30 segundos depois de matar as saudades da sua querida doutora, agarra as rédeas aos procedimentos que conhece ao pormenor e arranca numa correria desenfreada de palavras e gestos:
-Descalçar os sapatos e despir o casaco, já sei. Vá Dra. pode pesar. - dizia já em cima da balança. - E agora medir. Pode ir buscar o martelo dos reflexos... 
A médica, a melhor do mundo, continua doce e paciente como no dia em que o conheceu, o dia em que ele nasceu e por isso deixa-o mandar e vai pedindo que ele faça o que é necessário pelo meio, tudo se desenrola perfeitamente no meio daquela confusão de ordens de parte a parte. A dada altura, ele pergunta:
-E o estetoscópio? Tem de me auscultar. 
-Não tenho aqui o meu mas vou ali buscar um num instante. - voltou passados uns segundos e pediu-lhe que se calasse um pouco ou não conseguiria ouvir nada. Ele calou-se, o silêncio invadiu o gabinete durante alguns segundos e a cara dele ficou muito séria. 
-Então? Está tudo bem comigo? 
-Estás vivo. -respondeu a médica a brincar. 
-Ufa, estou vivo! - atestou com alívio e entusiasmo. 

segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

Treze anos depois ainda sinto as mesmas dores, não falo delas aos meus filhos. Por muito optimista que sejamos, por muita sola que se ganhe ao caminhar descalço, há cicatrizes que perduram no tempo e percebo que as carrego no olhar quando ela, tão pequenina me diz:

-Eu sei que não é a mesma coisa porque o mano não morreu mas tu já sentiste o que eles estão a sentir, não foi? - limpou-me a lágrima que teimou em soltar-se e voltou para as suas brincadeiras. 

Não sei que dor é essa, a de perder um filho, admiro profundamente quem a consegue superar. 

domingo, 6 de dezembro de 2020

Parece-me que a ceia de natal vai ser cozido à portuguesa

Numa conversa sobre a estranheza do natal deste ano e do quanto sentiremos a falta das coisas e pessoas dos outros anos. 
-Já sei o que vou dar ao pai, eu sei que ele quer uma prenda. - diz macaquita.
-Então? 
-Vou dar-lhe um chouriço e uma farinheira! -não consegui disfarçar o riso. 
-Que é? É uma coisa que ele gosta, chouriço e farinheira... e aquela coisa que eu não gosto por causa do sangue. 
-Morcela?! 
-Isso, morcela. Tens de ir comigo para pagar mas eu é que escolho. Embrulha-se, ponho um lacinho e já está. 
Cá está, num natal que tem tudo para ser esquisito, um cozidinho não me parece nada mal e se sobrarem couves ainda dá para fazer roupa velha.