terça-feira, 26 de maio de 2020

Sabem porque é que adoro sextas-feiras ao final do dia?

Porque a partir das cinco da tarde acabam-se as reuniões síncronas e os trabalhos, macaquito agarra-se à Playstation e eu, contrariando todas as regras, deixo que jogue sem interromper, a miúda habitualmente arrocha no sofá e não chama mãe até à hora de jantar, jantar esse que pai macaco traz de algum lado pois  à sexta recuso-me a cozinhar. É o dia em que me sento um pouco no sofá ao fim do dia e é no sofá que me apetece ficar mesmo que não tenhamos jantado.
Estou a rebentar pelas costuras, os meus filhos estão fartos um do outro e eu confesso que há alturas em que também estou farta deles. Tenho saudades de ter saudades deles, de esperar ansiosamente pelo fim do dia para ir buscá-los à escola e ser recebida com histórias e abraços, quase sinto saudades das queixas de bullying, dos choros quando os colegas lhe pregam partidas, de ir à escola falar com professores sobre a melhor forma de gerir comportamentos.
As histórias agora são sempre as mesmas, as queixas são um do outro, de merdas que não lembra ao diabo, os choros porque sim e porque não e gerir comportamentos é coisa que deixei de fazer pois espero sentidamente que o façam sem à minha intervenção.
As manhãs começam quase sempre tranquilas mas ao longo do dia as embirrações tomam-nos por completo e a palavra mãe é repetida a cada cinco minutos.
As maioria das aulas online não funciona, os professores estão ali a encher chouriços, (tirando um caso ou outro dependendo das disciplinas mas os professores aqui não são os visados porque a tarefa deles é hercúlea e têm toda a minha solidariedade) as conexões não são todas iguais, uns conseguem entrar, outros não, há miúdos que repetem comportamentos abusivos de aula para aula como provavelmente já fariam em contexto de sala de aula, há pais que falam ao telemóvel durante as aulas na mesma divisão onde os filhos tentam aprender, há quem se divirta a boicotar o trabalho dos professores e eu, eu estou mesmo farta disto. O tempo que perco naquelas aulas, (sim porque tenho efetivamente de estar sentada do lado dele para que ele se concentre e aproveite alguma coisa) ganho enquanto lhes explico as matérias da forma que sei que aprendem e se têm aprendido mas eu, eu estou muito farta disto.
Perdi o emprego, como milhares de outros portugueses, entretanto tive outra proposta que não sei se esperará por mim porque até ao final de Junho trabalho para o Ministério da Educação, sem receber um chavo. Agora vem o "meu patrão", o senhor ministro da educação dizer que para o ano vamos manter este registo de ensino doméstico a par com o ensino presencial e eu penso cá com os meus botões que ninguém me paga para isto!
Agora virão com certeza, os pais dos alunos cinco estrelas dizer que eu não quero é ter trabalho, que sou pouco organizada, que os filhos deles trabalham autonomamente e que não têm de levar com as queixas dos pais dos putos das necessidades educativas especiais porque nem todos podemos ser doutores e engenheiros. E eu respondo-lhes que vão lá para a mãe que os pariu porque o meu filho autista desde que estuda comigo, dá dez a zero aos meninos deles e eu sinto um orgulho imenso dele e de mim, só que ele não é autónomo e a irmã também precisa muito de mim e eu? Eu gostava de ter uma vida normal outra vez, com tempo para mim, para os meus amigos, para o meu trabalho e para os meus filhos. Este novo "normal" não me assiste e quem acha que isto é normal tem de ser, com certeza, anormal. Quero de volta o meu tempo, tempo em que era com certeza mais feliz, em que não deixava o meu filho agarrado a uma tecnologia qualquer só para poder ter 5 minutos do dia sem ouvir  a palavra MAAAAAAÂEEEEEEEEEE.

10 comentários:

  1. Eu sinto quase tudo isto tirando o facto de ter apenas um filho e de ele não ser autista. São tempos desesperantes e quem não o verbaliza ou está louco (e ainda não caiu em si) ou então mente com quantos dentes tem ou deveria ter. A perspectiva de o ano que vem não ser normal está a tirar-me o sono!

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    1. O facto de ter só um filho não minimiza nada, os pais de um, dois ou dez filhos precisam do seu espaço, do seu tempo. A complacência com esta situação não é de todo normal. Abraço

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  2. Um abraço e muita paciência, Be.

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    1. O abraço é devolvido em dobro, já a paciência, se estiver ao preço das máscaras, não se compra na farmácia :D
      Beijinho flor <3

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  3. Olha, o meu filho de 12 anos é autónomo. Ou melhor, faz de conta que é. Nunca parei de trabalhar, as noites e os fim de semana eram um stress para ver se tinha tudo feito.
    Fartei-me, mando fazer as coisas. Verificar tudo, nas eu não confirmo nada.
    Entretanto estou a meter algum de lado, e se fir preciso em setembro arranjo um explicador.

    *moramos em França

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    1. Que bom! É o que falta aos meus, autonomia. Até para fingirem que são :De
      Beijinhos

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  4. Isso parece uma descrição da minha vida quando eram os quatro pequeninos. Nunca esgotavam a palavra “mãe”, normalmente guinchada “mãeeeeee!”, sobretudo quando eu estava ao telefone/ indisponível/ enlouquecida (uma boa parte do tempo). É a parte má da parte boa de que não quero lembrar-me e da qual guardo zero saudades.
    Força, querida, trata de ti, aproveita bocadinhos para uma revista de moda, uma self-manicure, uma respirada nem que seja na varanda. Sozinha e “longe”.
    Um beijinho enorme

    https://youtu.be/aOLxQGLJouI

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    1. Eu sempre disse que queria ter 4 filhos, depois de macaquito, decidimos que 2 era o ideal porque ele me "suga". Mas admiro-te Blue, em muitos sentidos. Esta é só mais uma mostra da grande mulher que és, nem me imagino...

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  5. Be, espero q a nova oportunidade espere por ti. E espero mm q o próximo ano lectivo possa ter alguma normalidade, até pq já mequestionei mto com isso, nomeadamente pq tenho o mais velho a ir p a primeira classe.
    De resto, #tamosjuntas. Já tou pelas costuras tb. Trabalhos, filhos, casa, educação.
    Neste momento já não sei se a minha casa é um escritório, uma creche, um dormitório, uma cantina ou lá o que é isto (bem, uma certeza tenho, o que quer q seja, está desarrumado 😝)
    Beijinhos e aguenta-te aí

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    1. Obrigada querida. Estamos mesmo juntas, nós e muitos outros pais, os que assumem a sua humanidade.
      Não me fales em desarrumações, não seguindo o bom senso que seria de esperar numa altura destas, ainda nos pusemos a pintar a casa toda. Isto parece um bunker 🤣
      #tamosjuntasnissodadrsarrumacao

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Dá cá bananinhas!