segunda-feira, 2 de abril de 2018

Não sejas pedra!


Podia começar por explicar o que é o autismo mas não arrogo esse conhecimento porque cada pessoa com esta perturbação é uma pessoa diferente, em comum os autistas têm apenas o diagnóstico. Explico-vos o que é viver diariamente com uma criança nessa condição, o meu filho cujo autismo é parte do que é e condiciona a forma como se relaciona mas que de forma nenhuma o define.
Sair de casa é uma odisseia, é nunca saber se vai correr bem ou mal porque em casa ele é geralmente tranquilo, acontece que na rua a quantidade de estímulos a que é exposto podem dar azo a reacção fora do comum, como chorar, correr ou gritar. Claro que isto não é assim tão óbvio, porque não é sempre igual, há aqueles dias em que ele está agitado antes de sairmos e a rua funciona como uma espécie de tranquilizante, há os outros dias em que tudo está radioso na tranquilidade do lar e de repente, o céu desaba. Há também as mudanças de humor nos espaço de segundos e sem motivo aparente. Por isso, sair de casa é sempre uma incógnita e um desafio constante à minha capacidade de controlo e gestão de situações caóticas. No nosso canto as coisas são mais fáceis, não porque estas mudanças súbitas não existam mas porque as rotinas, o espaço controlado ajudam-no a regular-se e o não ter 50 pares de olhos a castrar, ajuda-me a mim a regular-me, conseguimos ultrapassar a maioria das "crises" com um abraço a dois.

Podia continuar, mas isso é o que faço aqui todos os dias, claro que privilegio as coisas divertidas, não que a nossa vida seja um mar de rosas mas porque isso é a nossa essência, é o que somos, felizes por estarmos juntos contra todas as pedras que se atravessam no nosso caminho. 
A mensagem que quero deixar hoje, dia mundial da conscientização do autismo, é que não sejam pedras, não atrapalhem o caminho de quem já tem tanto por que lutar. Para nós, que convivemos com o autismo todos os dias, a luz azul está sempre acesa e precisamos que as pessoas se lembrem de nós nos outros dias do ano, que  NÃO TEORIZEM, NÃO JULGUEM, NÃO EXCLUAM...
Sejam pacientes, façam perguntas, respeitem a diferença, criem uma oportunidade de trabalho, ajudem um cuidador ou partilhem um abraço, às vezes é só do que precisamos... de um abraço.


16 comentários:

  1. Sigo-te há perto de dois anos, mas hoje opto por deixar anónimo.
    O meu filho tem espectro do autismo e, lá em casa, o maior protector é a mãe, mas é o pai quem tem problemas em sair à rua, quem tem mais medo de ver os olhares reprovadores ou os sorrisos cínicos de "compreensão".
    Gabo-te a força. Eu tenho dias que ela me falta!
    Beijo meu

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    1. Também a mim falha mas basta uma parvoíce dele, um sorriso para me encher de coragem, tenho dois miúdos fantásticos, não há como não nos agarrarmos a isso. Quanto aos olhares, é acima de tudo ignorância, é tentar não valorizar. Um abraço e sempre que precisares de desabafar, está aí um email ;) Força!

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  2. O abraço já era para to deixar aqui ontem, por me ter lembrado deste dia, precisamente. Com o pedido de perdão pela demora.
    (Adoro a fotografia. Imagino quem sejam.)
    Muitos abraços

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    1. :) Never late!
      (Pois são, vê-se o mimo ao longe.)

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  3. Daqui mais um abraço, com pena que não possa ser ao vivo! Admiro-me muito, Be!
    Beijinhos

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  4. * Admiro-te (maldito corretor ou maldito Freud que teria algo a dizer sobre isto...? 😂😂)

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    1. :D Fizeste-me rir, tão bom quanto esse abraço.
      Beijinhos

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  5. não sendo mãe, apenas madrinha de um puto incrível, entendo bem o que dizes. (admiro tanto, mas tanto, os pais daquele miúdo, particularmente a mãe, porque é preciso dose extra para tudo o que esteja relacionado com ele e a sociedade não ajuda muito). por isso e por muito mais, muito te agradeço as partilhas. ajuda muito saber dos outros, das suas experiências.

    e agora, segue daqui o meu abraço :)

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    1. Hoje, em conversa com uma mãe de um miúdo que faz terapia com macaquito, senti isso, que lhe faz falta essa partilha, que não conhecia ninguém na mesma situação e que se sentia perdida. A sociedade, apesar de mais consciente sobre a problemática do autismo, não está de todo preparada para a inclusão, exige-se cada vez mais das pessoas e esquecemo-nos que estas pessoas não são funcionais da mesma forma que os outros. Procura-se a capacitação dos pais (e \ou cuidadores) e dos autistas mas esquece-se a capacitação das outras pessoas que terão de lidar com eles, a sociedade em geral. Por isso partilho, mostro que afinal não é difícil se estivermos dispostos a aceitar que a excepção também pode ser regra.
      Um abraço a esses pais do teu puto incrível :)

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  6. Deve haver pouca coisa melhor que um abraço. O meu filho passa a vida a reclamar um após outro.
    Tenho lido um pouco o teu blogue e acho que tens uma coragem do tamanho do mundo. Nem é bem coragem é mais perseverança. Por um filho vamos onde é preciso. Não serve de muito mas tens a minha maior admiração. E já agora um abraço muito apertado para ti e para esse puto especial que ainda assim será sem dúvida uma criança linda como todas as crianças especiais são.

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    1. Obrigada Mafalda, é mesmo isso, é perseverança. É acreditar que podemos fazer a diferença, nem que seja na nossa rua.

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  7. Maravilhoso, obrigada pela partilha e por mostrar o outro lado!

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Dá cá bananinhas!