Talvez gostasse de ver o mundo de fora mas estando nele, ver-me como se estivesse num filme. Provavelmente seria uma produção de baixo orçamento, com personagens estranhas, talvez me pudesse emocionar, largar a razão ou a falta dela, ver as coisas doutra perspectiva, os meus fantasmas e os meus defeitos, sem preconceito ou certezas absolutas, deixar o medo para trás e confrontar os maus da fita, nem que fosse a falar sozinha como a minha avó fazia com as novelas. "Velhaca!" dizia ela, entre outros impropérios que não vou repetir aqui.
Dizer as coisas que nos estão atravessadas pode ser libertador, no entanto, a falácia a que chamamos respeito pelo outro, impede-nos de sermos livres. Quero a vida numa novela, quero ser a alcoviteira ou a desbocada que se liberta no meio de palavrões. Quero ler o próximo episódio numa revista de mau gosto daquelas que se vendem nos escaparates do supermercado.
A vida é uma chatice porque só sabemos o que já aconteceu e o fim, do futuro nada sabemos. Em boa verdade, entre uma coisa e outra prefiro nada saber. A ignorância é um bálsamo de felicidade.