terça-feira, 25 de janeiro de 2022

Eu paro se ela parar... de falar

-Mãe, sabes o que é um acólico, não sabes? 

-Acólito, macaquita. 

-Isso, aquela coisa das igrejas... - explicou. -Noutro dia ao almoço a Bia disse "o meu avô era acólito." E eu "a sério? O teu avô era alcoólico? Coitado!".

segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

Fico tão confusa

Enquanto lhe punha creme nas axilas devido a uma irritação provocada pelos "chouriços" da natação, macaquita olha para o umbigo e dispara:

-Não sei porque é que temos de ter cordão umbilical. A gente não vai a lado nenhum. - ri-se do seu próprio disparate. 

-Então macaquita, é através do cordão umbilical que o bebé recebe nutrientes e oxigénio... - prendo-me na dúvida, não sabe ou está a gozar? 

-Ah bom! Pensei que era para o bebé não fugir, tipo uma trela. - e riu-se muito.

E eu? Eu continuo presa na dúvida... 


quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

Eu cá dizia "belícia"

Hora de jantar. 

-Mãe, este arroz tem maravilhas do mar? - levei dez segundos a atingir. 

-Delícias, macaquita, delícias! E não, é arroz de polvo. 

Deliciam-me estas fragilidades linguísticas dela, não há dia que não me façam rir, como não há dia que não me levem ao desespero. É na escola que mais se nota, tem de trabalhar muito para alcançar metade do que os outros alcançam, tem muita dificuldade de interpretação. Não me preocupam as notas, preocupa-me a saúde mental dela que se sente diminuída em relação aos colegas, por isso, não fala, não pergunta, não tira dúvidas em sala de aula. 

Às vezes, inadvertidamente, faço-a chorar quando estudamos juntas, o arrependimento (inútil) chega-me logo de seguida, é quando as lágrimas lhe rolam que compreendo a razão de não fazer perguntas aos professores. A nossa felicidade não é enfeitada, tem dias que se faz de ralhetes, lágrimas, cansaço e medos. Colmata-se tudo isto com beijos e abracos, que sempre sabem melhor que maravilhas do mar. 

domingo, 16 de janeiro de 2022

Tenham vergonha, pá!


"Fernando Tordo fez declarações polémicas", vários artistas e personalidades ligadas à cena musical sentiram-se menorizados pelas suas declarações e fizeram questão de mostrar o quão injustas foram as tais declarações. Tanta gente abespinhada com as palavras do emblemático artista, tanta gente a quem chamo ignorantes, cambada de ignorantes! Nenhum percebeu a real gravidade das palavras do Tordo.  O próprio afirma que agora diz tudo como os malucos e por isso arroga o direito de roubar a dignidade aos "atrasados mentais". Pois eu arrogo o direito interpretar estas declarações como um ataque preconceituoso às pessoas com atraso mental. Capacitismo, é o que é.  A Lei n.o 46/2006 de 28 de Agosto proíbe este tipo de prática discriminatória e a subversão das palavras é uma prática discriminatória.
Lamentavelmente, a ignorância que tantos demonstraram publicamente porque se sentiram ofendidos com as palavras do "artista" e não perceberam que as únicas pessoas que se podem, devem e foram ofendidas nas suas declarações foram as pessoas com algum tipo de incapacidade mental, esses sim são dignos de ouvir orquestras, ter acesso a arte e cultura, seja de que artista for. Não podem é ser roubados da sua dignidade por ofensor e "ofendidos"!


 

sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

Coisas da cabeça dele

Segunda-feira, fim de férias:

-Porque é que tenho de ir para a escola? Quem me dera ter um aviário. 

Terça-feira, ao deitar:

Eu: -Espero que esta noite não haja passeios noturnos, nem brincadeiras com perfumes.  

-Mas mãe, estava cheio de calor e todo transpirado. Aqueles lençóis são muito quentes! 
(na noite anterior lembrou-se de ir para casa de banho despejar um frasco de perfume por todo o lado, menos nele. Acordei mais de 20 vezes com a boca a saber a perfume...) 

Quarta-feira, depois da escola:

-Porque é que os professores mandam trabalhos? Eles não percebem que a minha vida é muito difícil. 

Quinta-feira, ao almoço:

-Mãe, é difícil mandar vir um guarda-costas da internet? 

Sexta-feira:

-A Dona G é muito engraçada, ri-se sempre das minhas piadas, mesmo quando são aquelas secas. 

terça-feira, 4 de janeiro de 2022

Três palermas à conversa

Limpo desenfreadamente o vidro da lareira na pressa de a acender visto que a descida das temperaturas já se faz sentir em casa. Macaquita está sentada na secretária em frente ao portátil e macaquito vê televisão com o som demasiado alto. Apercebo-me que conversam mas não ligo ao que dizem até que macaquita arremessa em forma de grito:
-És mesmo burro!
-Ei! Então, sabes bem que não gosto disso.
- digo eu. 
-Mas mãe, ele não está a perceber nada e só diz asneiras. Eu estava a explicar que vai passar um cometa ou asteróide ou sei lá...
-Meteoro?
-Isso! Vai passar aqui no planeta Terra e é do tamanho de um autocarro... 
-Aqui no planeta Terra?
- atiro eu com ar de gozo. 
-Oh! Lá no espaço mas à volta da Terra... Tu sabes... E ele pergunta "Vai passar em (nossa cidade)? ". Isso é burrice!
-Se calhar ele queria apanhá-lo. - neste momento, macaquito, que se tinha mantido impávido, esboça um sorriso. 
-Hã?! O quê, mãe? - diz completamente baralhada. 
-O autocarro!