quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

Eu cá dizia "belícia"

Hora de jantar. 

-Mãe, este arroz tem maravilhas do mar? - levei dez segundos a atingir. 

-Delícias, macaquita, delícias! E não, é arroz de polvo. 

Deliciam-me estas fragilidades linguísticas dela, não há dia que não me façam rir, como não há dia que não me levem ao desespero. É na escola que mais se nota, tem de trabalhar muito para alcançar metade do que os outros alcançam, tem muita dificuldade de interpretação. Não me preocupam as notas, preocupa-me a saúde mental dela que se sente diminuída em relação aos colegas, por isso, não fala, não pergunta, não tira dúvidas em sala de aula. 

Às vezes, inadvertidamente, faço-a chorar quando estudamos juntas, o arrependimento (inútil) chega-me logo de seguida, é quando as lágrimas lhe rolam que compreendo a razão de não fazer perguntas aos professores. A nossa felicidade não é enfeitada, tem dias que se faz de ralhetes, lágrimas, cansaço e medos. Colmata-se tudo isto com beijos e abracos, que sempre sabem melhor que maravilhas do mar. 

2 comentários:

  1. Tão belo que chega a doer.

    Num tom mais jocoso, ainda bem que o pitéu era um delicioso Arroz de Polvo, porque servir delícias do mar a um filho deveria dar direito a perder custódia... ;)

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    1. :) O mais "grave" é que nem sequer é coisa que se faça aquí em casa.
      Mas ela também confunde arroz de "marusco" com arroz de atum...

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Dá cá bananinhas!