terça-feira, 30 de junho de 2015

Da cor da pele

Na sala de espera de um hospital antes de uma consulta, macaquito observa atentamente a senhora que arruma os brinquedos.
-Mamã, como se chama aquela senhora castanha? pergunta com um ar intrigado.
-Macaquito, isso não se diz, perguntas apenas como se chama a senhora.- guardo as explicações para depois, temendo a reacção da senhora. Ela percebendo o que aconteceu, vem ter com ele.
-Como te chamas?
-Macaquito
-Macaquito, as pessoas como eu não são castanhas, são pretas. A nossa raça é preta e eu chamo-me X. Percebeste? - explica-lhe com um sorriso.
-Percebi senhora X, obrigado. Posso brincar com aqueles brinquedos?- e aponta os brinquedos que ela acabou de arrumar.
-Claro que sim. Gostei muito de falar contigo, macaquito. Agora vou embora. Adeus.
-Adeus, senhora castanha!
Gargalhada geral na sala de espera.

sexta-feira, 26 de junho de 2015

O gato e as tradições

A caminho da escola de macaquita vimos uma carrinha com publicidade a desinfestações.
-Mamã, aquele carro tinha um ratinho, é do quê?
-É o carro dos homens que matam bichos malandros que vão viver para casa das pessoas sem autorização.
-Mas matam os ratinhos?
-Às vezes tem de ser.
-Mas os ratinhos são tão fofinhos.
-Pois são, só que os ratinhos têm muitos filhotes ratitos que depois crescem e comem tudo, as roupas, os brinquedos, a comida...-
-Eu acho mal, não se deve fazer mal aos animais, os ratinhos só fazem buracos no queijo. Eu vou levá-los para a nossa casa e partilho os meus brinquedos e vou dar-lhes o queijo da vaca que ri.
Alguma coisa devo estar a fazer bem!

quarta-feira, 24 de junho de 2015

A arte de argumentar...


A seguir vou falsificar o boletim de notas de macaquito para publicar no FB!!!

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Um não são dois

Não me apetece escrever, não me desculpo com o calor, a minha razão é falta de filho. Macaquito continua nos avós, os dias correm devagar e o coração está apertado. Sei que está feliz, devia estar feliz também mas parece que me arrancaram uma perna, ou um braço, sei lá, falta-me qualquer coisa. 
Corro para ele ao fim-de-semana, os mil abraços que lhe dou não chegam para uma semana. Desta vez fizemos um piquenique, deitou-se na manta, chamou-me e pediu que me deitasse junto a ele, tinha guardado metade da almofada vermelha para mim. Estávamos de cabeça para baixo pois a relva tinha um plano inclinado, era assim que ele queria "É melhor para ver a forma das árvores." assim ficámos, rimo-nos e trocámos abraços, beijos à esquimó e festas no cabelo.
Calor sufocante, misturado com a ansiedade de quem tinha de ir embora primeiro e deixá-lo de novo. "Mas amanhã é domingo!" dizia-me desolado "Eu sei bebé da mãe mas tem de ser, é a ginástica da mana, é a última coisa, prometo!"
Ao final do dia, dei-lhe um beijo, no meio de uma chuva de mangueiradas e copos de água trocados entre adultos e crianças, as gotas que me caíram no rosto disfarçaram as lágrimas de quem se despedia sem lhe dizer que era um beijo de despedida. Peguei macaquita pela mão e vim embora cheia das saudades que não abrandam. Nestes dias que não o tenho, também não tenho de esperar para me deitar para lhe dar medicamentos, não tenho de dividir os tachos para fazer a sua comida especial, não tenho de me levantar tão cedo como de costume, nem de correr entre escolas e terapias mas também não tenho histórias para contar, não solto gargalhadas a cada cinco minutos e nem sequer me apetece escrever.
E a mais pequena assim sozinha, não me larga as pernas, tenho o dobro dos abraços, o dobro dos beijos, o dobro das birras e eu cá vou, sentindo-me mãe pela metade.

terça-feira, 16 de junho de 2015

Nunca mais aprendo

As férias estão aí, assim que chegámos ao último dia de escola, rumámos a casa dos avós, onde macaquito perguntou ansiosamente se poderia ficar dezoito dias, não fosse o dezoito o seu número de eleição. Disse-lhe que poderia ficar o tempo que quisesse, não obstante morrer de saudades dele e os os 30 quilómetros que nos separam, por vezes serem demasiado longe para que o possa beijar todos os dias. 
Esta tarde liguei-lhe e entre mil histórias e perguntas, disse-me que a avó o tinha mandado esconder o lápis, ouvi os protestos da avó por trás e percebi que era uma desculpa para não estudar.
-Sabes macaquito? Tens de estudar um bocadinho todos os dias.
-Mas mamã, eu já sei tudo.
-Ninguém sabe tudo, a mana ontem quando chegou fartou-se de fazer trabalhos e nem sequer anda na escola, apenas gosta de aprender.
-Vês mãe, ela também se fartou

segunda-feira, 15 de junho de 2015

2+2

Quando ergui as paredes da minha vida, fi-lo ansiosamente, mal podia esperar para chegar ao telhado. Juntei naquelas quatro paredes todos os sonhos de criança com os adulta resoluta que sempre fui, tinha pressa de os tapar não fosse o sol ou a chuva estragá-los de uma assentada.
Faltava o chão, tinha de ter chão debaixo dos pés pois nem sempre os pés se querem assentes na terra. "Vamos pô-lo bonito e brilhante e fácil de lavar, sabes como sou desastrada e as manchas querem-se efémeras."
Depressa percebi que a vida se constrói devagar, os alicerces obrigam-se sólidos,  sob o risco de rupturas. Tenho comigo que os bibelots ficam na montra da loja, não almejo brilhos fora os que encontramos quando os nossos olhos se cruzam.
Faltava qualquer coisa, falta sempre qualquer coisa. Posto isto, preenchemos lacunas com mais vida, dessa vida que nos deixa entre o choro e o riso em segundos, a vida que nos faz felizes, a mesma vida que nos faz zangar e pôr em causa se é nesta casa que queremos morar.
Já nos desmoronámos, já nos reconstruímos, os sonhos, esses são os mesmos nos dias sim e são outros nos dias não. Olho para trás e vejo o depois, depois disso só nos vejo a nós e os quatro braços que nos enlaçam. Trazes mais um tijolo?

quinta-feira, 11 de junho de 2015

Vamos dormir?

Hora de dormir, macaquita luta com todas as forças contra o sono que a assola, faz piruetas, conta histórias, faz todas as perguntas que tinha guardadas na gaveta e que dariam certamente para um ano. Usualmente, o irmão já dorme a sono solto e ela ainda ainda está a tentar arranjar uma boa razão para ficar no sofá. 
Metade da minha vida, metade é talvez um exagero mas um quarto da minha vida é passado a arranjar estratagemas para a levar para a cama sem me zangar. 
Finalmente, achei a solução: O Sr. Coelho fala! Mas só fala na cama e depois de ela carregar no medalhão mágico.
Obrigada Disney, muito obrigada!


terça-feira, 9 de junho de 2015

Ser normal...

Às vezes não entendo o meu filho, não lhe percebo as birras, indago todos os sons, toques, cheiros e tento entender o que provocou certo estado, penso qual foi a rotina que mudou e mesmo assim não chego lá, nem sempre consigo entendê-lo. Sei que não são birras, sei que são interferências ao bem estar dele, nem sei o que lhes hei-de chamar. 
O meu filho não sofre apenas de desordem do autismo, essa foi a última das maleitas que o atingiu, ou melhor, a maldita já lá estava mas foi a última a ter um diagnóstico.

 "di.ag.nós.ti.co
subst. m.
1. acto de reconhecer uma doença: fazer um diagnóstico
"
(francês diagnostic)

"diagnóstico", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/diagn%C3%B3stico [consultado em 09-06-2015].
ddi·ag·nós·ti·co
(francês diagnostic)

substantivo masculino

1. Classificação de doença pelos seus sintomas.

2. Conjunto desses sintomas.

adjectivo

3. Relativo à diagnose.

"diagnóstico", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/diagn%C3%B3stico [consultado em 09-06-2015].
di·ag·nós·ti·co
(francês diagnostic)

substantivo masculino

1. Classificação de doença pelos seus sintomas.

2. Conjunto desses sintomas.

adjectivo

3. Relativo à diagnose.

"diagnóstico", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/diagn%C3%B3stico [consultado em 09-06-2015].
di·ag·nós·ti·co
(francês diagnostic)

"diagnóstico", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/diagn%C3%B3stico [consultado em 09-06-2015].

2. nome feio que os médicos escrevem num papel.
No caso dele, fui eu que insisti, não me assustam os nomes das doenças, assusta-me a ignorância e por conseguinte não saber lidar com o abstracto. Mas como disse lá atrás, ele não é apenas autista, ele tem uma doença rara com um nome estranho, mais um nome feio que o tornou num ser hipersensível ao som e ao toque, as gotas azuis que lhe imponho, impedem que tenha ataques que lhe toldam os movimentos e lhe páram a respiração mas a hipersensibilidade está lá e junto com o autismo, são uma espécie de cocktail explosivo que lhe provoca reacções inesperadas devido a coisas que só ele ouve ou sente.
Por tudo isto, às vezes não lhe entendo as birras e os outros também não!
Por tudo isto, às vezes nem tento explicar porque é que ele está a chorar com as mãos nos ouvidos, está assim apenas porque sim.
Por tudo isto, recebo olhares que trespassam, olhares de outros pais nos baloiços ou no restaurante e mando-os para aquela conta em pensamento.
Por tudo isto, insisto em que participe em todas as actividades que as outras crianças fazem e sei que vão haver sempre aquelas pessoas que olham de lado porque ele não é capaz ou não entende!
Por tudo isto, às vezes apetece-me dizer foda-se, às vezes digo.
Nunca fui uma mãe normal, tenho-o assim desde o dia que nasceu, portanto, não sei o que é ser uma mãe normal, fui sempre uma mãe preocupada com di.ag.nós.ti.cos, con.sul.tas e te.ra.pi.as.
Rio-me das mães que choram muito porque "o menino está ranhosinho", as mães normais, as que lançam olhares assassinos às birras do meu filho. A mim nunca me foi dada essa oportunidade, de ser uma mãe normal. E por isso finjo que choro quando a minha filha está ranhosinha. 
Às vezes não entendo o meu filho, às vezes pergunto porque não sou uma mãe normal, às vezes digo foda-se!

segunda-feira, 8 de junho de 2015

O motor o quê?

Fomos dar uma volta, pai macaco deixou-nos primeiro e foi estacionar um pouco mais longe. Quando voltávamos, ele de mão dada comigo e o pai com macaquita um pouco atrás, passamos perto de um carro que já trabalhava enquanto aguardava que alguém entrasse.
-Mamã, o pai se calhar esqueceu-se do carro ligado.
-Do carro ligado? O pai foi estacionar mais longe, o nosso carro está lá ao fundo.
-Tu não percebeste o miúdo mas ele tem uma certa razão. O barulho do motor do nosso carro é igualzinho a este que estamos a ouvir.
Às vezes não entendo o meu filho mas é só porque não escuto os barulhos de motores com atenção mas sei mudar um pneu, ok? E as pastilhas de travão, o óleo, verificar água e coisas afins de manutenção.

sexta-feira, 5 de junho de 2015

Castigo corporal? Não me parece mas apetece.

Se eu tivesse talento para edição de vídeos, este blog tomaria outras proporções, ainda bem que não tenho que eu gosto dele  assim pequenino. Mas a cena desta manhã seria digna de vídeo, contado nunca tem a mesma piada.
Dona Macaquita muito ciente daquilo que quer e não quer vestir começa por reclamar comigo porque eu escolhi um casaco com botões (ela odeia qualquer roupa que tenha botões), expliquei-lhe que era o que ficava bem naquela roupa, que era de algodão e que teria de levá-lo. Argumentou dizendo que se não lhe tivesse vestido uma camisola sem mangas não precisaria de casaco. Já estava a ficar farta daquela guerra, que é diária e disse-lhe que vestisse o casaco antes de eu me zangar.
-Aiii mãe, já estou a ficar inervada!
-É melhor que te passem os nervos rápido e vistas o casaco que estamos atrasados.
-Ok, eu visto mas não vou usá-lo na escola para os amigos não me verem com botões.
-Rápido que quem está a ficar inervada sou eu.
Macaquito aproxima-se, pega na mochila, abre a porta e diz com ar mais condescendente do mundo:
-Mamã, tu devias ser daquelas mães que batem!!

quinta-feira, 4 de junho de 2015

Gostas quanto de mim?

Nunca a tua existência fez tanto sentido como no dia em que nasceste, receios infundados de que nunca te conseguisse amar por inteiro, desvaneceram assim que te olhei nos olhos e sorri ao teu sorriso.
Sempre te vi pequenina do tamanho do meu colo, tinha medo que ao cresceres deixasses de lá caber, presumi que estando metade ocupado, a outra metade não te fosse suficiente, por vezes não é. É aí que te mudo para um abraço. Há sempre lugar para ti em mim e é em mim que buscas aconchego a cada lágrima por secar.
Menina tonta, bonita, menina tonta, arisca, o meu coração não esvaziou para se encher de um novo amor, o meu coração alargou para caberes no amor que te sinto.


quarta-feira, 3 de junho de 2015

Vamos passear?

Mãe que é mãe prepara tudo com muito amor sempre que os filhotes vão para uma visita de estudo e era tudo tão fácil até que o glúten e a lactose decidiram ser intolerantes a macaquito. Sim porque ele tolera-os, eles é que lhe fazem a vida negra.
Saio do trabalho a correr para ir buscá-los e "taruz" parte-se o cabo da embraiagem e fico a pé, boleia para ir buscar os putos à escola e voltar a casa, cada vez mais atrasada. Banhos, fazer jantar, tudo sozinha porque pai macaco está na vinha a "comer pó"!!
Depois dos banhos e jantar despacho os putos para a sala "vá, vão lá ver o Disney, sim, desculpem lá mas hoje não dá para macacadas que tenho muito que fazer". Começo por fazer massa de rissóis com farinha de arroz que me dizia alguém que não custa nada e fica tal e qual. Se por tal e qual, falam numa coisa peganhosa que não desagarra do tacho e se cola às mãos, se calhar ficou bom, juntava-lhe uns corantes alimentares e fazia um curso de iniciação ao barro colorido. 
Seguem-se os rolinhos de salsicha sem glúten que ele adorava antes de serem sem glúten, ideia espectacular para levar com este calor, só faltou ter uma  massa decente que, no mínimo, corasse no forno. Sairam umas coisas brancas amorfas mas com certeza deliciosas (sei que não estão a ver mas agora estou a revirar os olhos) .
Para terminar faço aquele bolinho de cenoura que sai sempre tão bem e ele adora, no dia seguinte o bolo seco que me saiu do forno foi direitinho para o caixote do lixo.
Fritar os rissóis e oops, não há óleo. "A sério, não há óleo???!!!" Ligo para pai macaco que me diz que traz óleo quando voltar, só tive de esperar até às 11 da noite. Perto da meia noite tinha tudo pronto, colocado em tupperwares. Ao almoço, de rissóis (uma espécie de rissóis) e arroz, juntei os rolinhos, o bolo "nhec" de cenoura, fruta, iogurtes, sumos e água fresca. Macaquito é um puto que come muito, come de tudo e sem esquisitices.

Fui buscá-lo à hora marcada, a mochila pesava toneladas, ele vinha transpirado, sujo e feliz.
"Vens cheio de lembranças? Esta mochila pesa."
"Tenho uma foto mamã, com uma coruja no braço, queres ver? A coruja era o Soneca e tinha lá uma águia chamada Cusca. E dei o meu gelado ao F. porque aquilo sabia a morango e não era Epá. E tenho um chapéu novo! E um presente para a mana."
Chegar a casa, abrir a mochila e constatar que comeu o almoço e bebeu os sumos a meias com o amigo F., tudo o resto estava intacto dentro das caixinhas.
 Mas a foto estava linda e ele vinha feliz.

E esganado de fome!!

segunda-feira, 1 de junho de 2015

Dia de algumas crianças

Hoje é o dia mundial de TODAS as crianças. 


Devia ser  todos os dias, para muitos nunca é!

Engraçadinha

Macaquita estava desde quinta feira com umas febres baixinhas que me deixam preocupada, pois sempre que faz febres baixas acaba em bronquiolite ou pneumonia. Ontem, em continuando com febre e não tendo pediatra ao domingo, fui para o hospital onde apanhámos uma tarde de muita espera. 
Ao fim de três horas, o Dr. Niculae lá se predispôs a ver a miúda, depois de auscultada e observada, ficamos a saber que é apenas uma infecção na garganta, coisa menos grave a que estamos também bastante habituados. Enquanto esperávamos que passasse as receitas, macaquita observava e comentava um quadro do consultório com os personagens da Disney em versão bebé.
-Mamã, é o Mickey, o Donald e a Minnie bebé mas não percebo o que é aquela coisa amarela.
-Parece-me um novelo de lã, macaquita.
-Pois, aquilo azul é um pião e está ali um biberão.
-Sim, sim.- respondia-lhe sem prestar grande atenção.
-E estão todos com chucha.- olhei para confirmar e não estavam chuchas nenhumas.
-Com chucha? Onde é que estás a ver chuchas?
-Já não viste, engoliram!
O médico, até ali muito circunspecto e sisudo soltou uma gargalhada e até sairmos do consultório não conseguiu parar de sorrir.