terça-feira, 28 de junho de 2016

Very typical

Fomos almoçar, restaurante da terra, dono conhecido. Macaquito chorão e birrento ao ponto de ter de sair com ele, demos uma volta na rua, sentámo-nos os dois na soleira de uma porta à sombra e conversámos. Umas quantas queixas e indisposições, uns beijinhos e uns abraços e voltei com um macaquito mais calmo e alegre. Pedimos, comemos e esperámos muito tempo que macaquita acabasse. Enquanto eu, pai macaco e a avó conversávamos, macaquito levantou-se da mesa, quando me apercebi já estava em amena cavaqueira com o rapaz que nos servia. Chamei-o para junto de nós pedindo desculpa, o rapaz refutou com veemência que ele não estava a chatear nada.
-Vês mãe, eu não estou a chatear, tenho de trabalhar.
-Vá, já chega, senta-te ali connosco.
Sentou-se mais uns minutos, assim que nos apanhava distraídos lá estava ele, de mesa em mesa com rapaz, perguntando educadamente a cada pessoa que se sentava o que desejava comer. Lá o convencia a sentar-se mais um pouco e o rapaz a dizer que não, que não havia problema, que ele é muito simpático e eu naquela incerteza, se sou eu que estou a ser aborrecida ou macaquito, que no fundo só quer ajudar e gosta mesmo de conversar com todas as pessoas.
Mais uma volta, mais uma distracção, olho para trás e estando o empregado a dialogar em inglês com um casal de turistas que se sentou numa mesa atrás de nós, vejo macaquito a tentar entabular conversa em inglês, repetindo tudo o que o empregado diz ao mesmo tempo que abana a cabeça em sinal afirmativo.
-Yes... very good... yes... like... yes...
E os turistas a olhar para ele com uma cara estranha e provavelmente a pensar que em Portugal se usam crianças para convencer os turistas a comer um qualquer prato típico.

segunda-feira, 27 de junho de 2016

Jai Ho


As miúdas, por serem tantas, rodearam-nos e saracotearam-se à volta deles, eles, sentados nos puffs, imitavam os movimentos de braços e pareciam divertidos com a deferência. Dançaram sincronizados com a música e as palmas, para logo de seguida mostrarem a sua agilidade nos pinos, rodas, cambalhotas e trampolim.
Enchi-me de orgulho, mais uma vez. Parece inconcebível caber-me tanto orgulho no peito, lado a lado com este coração cheio de amor, não sei como consigo tanto espaço. Ela, porque faz sempre melhor do que é suposto conseguir fazer e ele, por atingir o que pouca gente pensou ser possível, por ultrapassar todos os medos e limitações com a coragem de um triplo mortal encarpado.



 A piada:
 Em conversa com ela após o sarau.
-Estavam tão giros e o mano até já faz a ponte e cambalhotas sem ajuda.
-Viste-o mamã, sentado na bufa?

sexta-feira, 24 de junho de 2016

Sou tãaaaaao parva

Macaquita tem uns quantos óculos de sol, todos cor de rosa. Rosa com bolinhas, rosa com quadradinhos, rosa, rosa, rosa, todos escolhidos por ela. Esta semana, fui buscar os óculos novos de macaquito à óptica e achei uma ideia brilhante comprar uns de sol novos para a irmã, azuis, lindos. Diz a senhora da loja:
-Talvez seja melhor vir com ela...
-Nem pensar, se ela vier vai querer cor-de-rosa. Assim não reclama. De qualquer forma, posso trocar, caso não fiquem bem?
-Claro! 
É que nem os experimentou, queria rosa!

quinta-feira, 23 de junho de 2016

Os europeios...

Macaquito nunca ligou a futebol, é do Sporting porque somos todos, pouco se importava se perdia ou ganhava e acho que nunca olhou para a televisão durante um jogo mais de 5 segundos seguidos. Com o Europeu mudou uns quantos comportamentos, chega a casa, liga a televisão na salita deles e deita-se no sofá a assistir ao jogo que estiver a dar, numa tentativa de imitação do pai. No outro dia repetia divertido os nomes dos jogadores da selecção russa, riu-se sozinho à conta dos "Schennikov, Mamaev e Glushakov" durante mais de 10 minutos, o que, com a dificuldade de concentração em tarefas que apresenta, me pareceu absolutamente fantástico. Na hora de jantar, que agora é sempre hora de jogo, pergunta as nacionalidades das equipas e cada um de nós tem de forçosamente decidir por que equipa vai torcer, mesmo que nos seja indiferente. Normalmente a escolha dele prende-se com as cores do equipamento. Ontem toda a minha gente torcia pela Suécia e eu só para contrabalançar disse que queria um golo da Bélgica.
-Mamã, queres golo da Élgia?
-Sim, quero golo da Bél-gi-ca.- disse-lhe devagar para que percebesse.

-Ah, Bélgica. Então gostas dos bélgios.

quarta-feira, 22 de junho de 2016

O papel principal

Em tempo contei-vos da obsessão de macaquito com portas, apesar da dificuldade em auto-controlar-se, tem feito alguns progressos. Em casa já quase não brinca com portas, fora do habitat natural ainda é a primeira coisa que procura mas conseguindo parar a tempo desde que alertado. 
No fim de semana tem a festa de fim de ano da academia e o sarau de ginástica, horários diferentes mas calhou que o ensaio geral do sarau fosse na hora da outra festa. Falava eu com o pai e diz-me o pai:
-Então, não há problema de não ir à festa, também não vai fazer nada.
-Claro que vai, é a festa de despedida do ano lectivo. Além disso, os miúdos vão fazer um teatro e ele também entra.
-Sim pai, eu também entro. Sou uma porta! - diz aquilo com um sorriso de orelha a orelha e irradiando felicidade.
 Nunca teria coragem de lhe roubar este momento, é o papel da vida dele.

sexta-feira, 17 de junho de 2016

Para o ano há mais!

Macaquito não foi  o melhor da sala, também não foi o pior, dificilmente figurará no quadro de honra da escola, apesar de um segundo período fantástico, o terceiro, a nível psicológico, foi tão mau devido a problemas inerentes à sua condição médica, que eu estive perto de me converter.
Uma coisa é certa e é com muito orgulho que o partilho com todos os que nos lêem, macaquito está no terceiro ano e estamos todos muito felizes.

quinta-feira, 16 de junho de 2016

Decisões difíceis

 Ainda no hospital.
-Mamã, podemos almoçar no shopping?- rio-me sempre que ele diz shopping, nós dizemos centro comercial.
-Podemos, tenho de passar no Colombo para comprar massas para ti.
-Podemos almoçar batatas compridas?
-Sim, podemos almoçar no Mac.
-E  depois vamos àquela loja dos brinquedos? E...
-Não, depois vamos embora que temos muita coisa para fazer hoje.
Na viagem para casa.
-Mamã, tens muita coisa para fazer?
-Sim.
-Podemos ir a àquele sítio?
-Fazer o quê?
-Comprar t-shirts para o pai.
-Talvez mas tem de ser rápido porque temos muita coisa para fazer antes  de irmos buscar a mana.
Percebi que queria passear mas eu odeio compras.
-Mamã? Podemos parar no shopping X para eu ir lá saltar?
-Não me apetece muito, logo se vê.
Mais uns minutos...
-Mamã?
-Sim?
-Podemos ir ao supermercado comprar o Red ou o Azuis ainda não decidi, podemos mamã?
-Sim, se nos despacharmos a tempo.
-Mamã?
-Sim?
-Podes parar em Aveiras? Acho que vou ter vontade de fazer chichi lá.
-A sério, macaquito? Tens de decidir bem o que queres porque se parar em todos os sítios que me pediste nem amanhã chegamos a casa. Portanto, pensa lá bem o que é mais importante e decide só uma coisa.

....

....

....

-Então, não dizes nada? Estamos quase a chegar àquele sítio, tens me dizer o que queres.
-Está bem! Está bemmmmmmm! Eh pá, até estou a transpirar de tanto pensar.

quarta-feira, 15 de junho de 2016

Piropo

Acordar às 5 da manhã sem resmungar e seguir bem-disposto para Lisboa. Ao fim de meia hora no hospital, todas as pessoas que trabalham naquele corredor lhe sabiam o nome e brincavam com ele. Fez uma amizade especial com a D. Almerinda a quem chamava do fundo do corredor para que o ajudasse nos exames mais difíceis e ela lá vinha, sorriso no rosto e cheia de boa-vontade.
Começou a manhã escondido do médico porque se impôs contar-lhe que não tinha feito tudo exactamente como fora prometido na última consulta. 
Após um último exame, diz-lhe a técnica:
-Tchau borracho.
-Tchau borracha. 
Tinha de "borrachar" a pintura!
É que ninguém o via.


terça-feira, 14 de junho de 2016

Ama-seca

Férias significam saudade para mim, os avós contam ansiosamente os dias, eu também. Divergimos de razões, convergimos na dimensão do amor. O meu coração ressente-se, bate descompassado, outras vezes acelerado, sinto um nó no estômago, outro na garganta, no fundo tenho uma corda enrolada a mim, que nem cobra que se prepara para esmagar a presa, é isso, sinto-me esmagada, estraçalhada de saudades, nem a voz dele me sossega a angústia, apenas saber que está feliz.
Agora é doutor, desses doutores médicos e responsável, diz ele, pelo avô. 
Noutro dia, a avó tendo de sair, como avô descansava ficou renitente em deixá-lo em casa, mas ele não queria ir, prometeu que tomava conta da casa e do avô. Quando voltou, diz-lhe o avô que à hora do lanche, macaquito assumindo a sua função de cuidador, médico, enfermeiro, responsável e sei lá que mais, lhe diz assim:
-Avô, diz-me o que queres para o lanche que eu vou preparar.
Rimo-nos todos ao telefone, que ele nem consegue ir buscar um copo de água sozinho. Se o deixassem, ele teria deixado a cozinha num caos mas o avô não passava fome.
Playstation de 1980 (legenda descaradamente roubada a um amigo)

quinta-feira, 9 de junho de 2016

prima ballerina


Foi prima sim, se bem que apenas nas lágrimas, nos soluços e nos abraços. Chorou assim que me viu, correu para mim à primeira distracção da professora, correu para mim entre apresentações, presenteou-me de beijos, abraços e lágrimas a cada oportunidade. Cada vez que voltava ao seu lugar, fazia o que lhe competia sem nunca tirar os olhos de mim, dançou, lançou-me beijos e súplicas com o olhar, cantou, recebeu o seu diploma e à sua primeira distracção abandonei-a às suas lágrimas.

terça-feira, 7 de junho de 2016

50 tons de pele

A minha filha é preconceituosa, para não lhe chamar outra coisa. Ontem disse-me que o D. tem uns olhos bonitos mas que não gosta dele porque "ele é castanho". Fiquei atónita, nunca me passou pela cabeça que ela pudesse dizer uma coisa destas. A minha reacção inicial foi de condescendência, obviamente tentei compreender o porquê daquelas palavras e explicar-lhe que as pessoas são todas iguais apesar da cor da pele, dos cabelos ou dos olhos. Ela teimou, voltando sempre à afirmação inicial. Quando há uns tempos, enquanto pintava me pediu o lápis "cor de pele", eu
dei-lhe vários lápis, vermelho, castanho, amarelo, rosa-claro, ficou a olhar para mim, então disse-lhe que essa cor  não existia, que há vários tons de pele e pensei em levar a discussão à sala de aula pois em casa não usamos o termo.
Será normal na idade dela? Sempre supus que o exemplo parental e/ou contexto familiar falasse mais alto, terá o contexto escolar um peso tão grande na definição do carácter nesta idade? Ou estou a pôr demasiado peso e isto não será efectivamente um problema?

segunda-feira, 6 de junho de 2016

E o palerma sou eu?

Após uma intensa tarde de estudo para uma prova de aferição que não conta para nada, a não ser para cumprir calendário, responsabilizar crianças do segundo ano não sei bem em quê e suprir necessidades de cumprir objectivos de alguns iluminados, já na cama macaquito diz-me isto:
-Mamã, eu vou ter de estudar mais vinte anos ou pode ser só até ao 12º?
E eu arrependi-me de não o ter deixado ir passear com o pai e a irmã e me ter zangado com ele na pausa de uma hora que lhe dei por ter extravasado toda a energia das formas mais palermas que lhe passaram na cabeça. 

domingo, 5 de junho de 2016

Meter o bedelho

Dia agitado, acordaram cedo, demasiado cedo para sábado mas tarde para eles que tinham a prima em casa e imensas coisas para pôr em dia. Consequência do madrugar, enquanto jantávamos macaquita tinha dores, dores de barriga, de cabeça, de olhos, de garganta, de tudo. A cabeça em cima da mesa, o cabelo no prato, a comida que teimava em permanecer irremediavelmente fria no prato.
-Come, macaquita, se não queres vais dormir.
-Não quero dormir, dói-me a barriga. 
-Deixa-te de tretas, se não queres comer vais dormir. Se queres ir ao ensaio connosco, tens de comer.
Macaquito resolve intervir.
-Estás ouvir, tens de comer senão...
-Macaquito, pára de meter o bedelho. Estou a falar com a mana, não é contigo.
-Ei, eu não sou fedelho.
-Bedelho, eu disse bedelho.
-Bedelho?? Vou escrever no tablet (que é como quem diz, vou googlar).
-Não precisas de pesquisar, não metas o bedelho é o mesmo que dizer para não meteres o nariz onde não és chamado. 
-Se eu quiser escrever no tablet, posso escrever e ver as imagens. Não metas o bedelho nas minhas coisas, ok?!
Fico com a ideia de que percebeu o significado, mesmo sem ver as imagens.

sexta-feira, 3 de junho de 2016

O caminho

Ninguém sabe o que lhe vai na cabeça, ainda que fale connosco incessantemente. Eu que lhe conheço as manhas e entranhas e todos os passos que dá, vou entendendo o discurso aparentemente desconexo, na impossibilidade de o entender pergunto-lhe descontraidamente onde foi que viu tal coisa, amiúde a resposta é "nos meus sonhos". 
Permito-lhe que sonhe, se bem que o tenho de acordar demasiadas vezes, arbitram-me que o traga para a realidade, fico-me a pensar o que ganha com isso, se nos leva a algum lado. Se viver num sonho o levar a um fim qualquer, podemos sempre recomeçar. Não o vou condenar a viver uma realidade que é de todos mas talvez não seja o lugar onde se encaixe. 
Se é a minha mão que escolhe para caminhar, vou permitir que escolha também o caminho e no fim sei que estaremos bem, se não estivermos, podemos sempre começar de novo.

quarta-feira, 1 de junho de 2016

Dia da criança e o amor do costume

Tudo a preparar mil presentes para o dia da criança? Aqui em casa distribuiram-se beijos e abraços logo pela manhã, prepararam-se almoços e lanches para levarem para as actividades da escola e quando chegarmos a casa, depois da azáfama do costume, vou deixá-los ir para a cama dez minutos mais tarde que o habitual, tempo que vou usar para lhes mostrar que o melhor de ser criança é ter alguém que gosta muito deles, todos os dias. E que os deixa comer umas gomas de vez em quando!