quinta-feira, 31 de maio de 2018

As prioridades mudam

Por volta dos três anos macaquita, de mão na cintura, pediu-me um telemóvel, um computador e uma máquina fotográfica.
-Cor de rosa, com brilhantes! - rematou.
Esta semana pediu-me, caso eu pudesse, umas chuteiras, um equipamento completo de futebol e uns binóculos.
-Pode ser para os meus anos ou quando puderes.
Mudou muito, é estranho dizer que já sinto saudades das coisas que mais me irritavam quando era uma bebé pespineta. Continuo sem perceber para que quer os binóculos mas um amigo meu diz que é para ver o Mundial de Futebol, afinal a Rússia é longe.

terça-feira, 29 de maio de 2018

Engomo o passado sem tirar vincos, nem rugas, as marcas são para preservar. Engomo-o na esperança vã de o esticar, de o prolongar já que o relógio se nos parou de repente. Tarefa árdua e inútil, restam-nos as memórias e as marcas que deixaste, restam-nos as saudades das tuas mãos, do colo que davas, das histórias inventadas ao minuto com enredos intrincados e divertidos. Restam-nos as saudades.

 

segunda-feira, 28 de maio de 2018

"Eu não te quero perturbar." Hã?!

Hoje fiz panados de peru (sem glúten) para o jantar porque precisava de qualquer coisa que macaquito pudesse comer frio amanhã, coisa que raramente faço por não gostar do cheiro em casa e especialmente porque não gosto de os alimentar com fritos, como tal, a festa à mesa foi tão grande que pareciam estar a degustar lagosta. Macaquita larga o garfo e começa por dizer.
-Mãe, mãe, na festa do Martim... - o entusiasmo inicial desvaneceu-se de repente. 
-Então?
-Olha mãe, eu não sei se devo dizer isto. Eu não te quero perturbar. - faz uma pausa, põe uma mão no meu peito e outra nas minhas costas. 
-Fala! Agora estou curiosa.
- A mãe do Martim fez uns panados na festa de anos dele, estavam tão bons, comi tantos, uns 5 ou 6, ou mais, acho que comi 8. Eram mesmo bons... estes também estão bons.... mas os da mãe do Martim...




domingo, 27 de maio de 2018

A necessidade aguça o engenho (ou a parvoíce...)

Depois do sarau e como macaquito não ia dormir em casa.
-Mamã, posso dormir na cama do mano?
-Claro, vai buscar a tua almofada e vai para a cama que eu vou já ao pé de ti.- fui ao quarto e acendi a luz de presença como faço habitualmente para macaquito.
-Não gosto nada de dormir com luz.
-Oh, desculpa. É o hábito, eu apago já.
-Não, deixa, não faz mal... 
-Então eu deixo até adormeceres e quando me for deitar, venho aqui apagar.
Por volta da uma da manhã, passei no quarto para apagar a luz e estive a rir-me sozinha até conseguir adormecer.  Querem saber porquê?! Estava ferrada a dormir nestes preparos. 




sábado, 26 de maio de 2018

Cheio de boas intenções

Sarau na escola, macaquito entra na terceira apresentação que consistia numa dança em roda, rápida e com muitos movimentos diferentes e que obviamente obriga a muita coordenação motora. Como habitualmente troca-se todo e faz tudo atrasado ou ao contrário dos demais. Na plateia vou brincando com macaquita.
-Olha o mano, todo baralhado. É mesmo "trambalazana", não acerta uma. - digo isto entre risos e palmas, costumo brincar com as dificuldades dele mas o orgulho que sinto só de o ver tentar mal me cabe no peito.  O pai de outra criança, sentado ao nosso lado, que não nos conhecia mas estava atento  (não o suficiente...) às minhas brincadeiras com a miúda e por consequência à "trambaladança" de macaquito, a dada altura decide intervir num tom paternalista.
-Eu acho que o miúdo tem um problema, deve ter algum tipo de deficiência. 
-Tem, tem... é meu filho! 



sexta-feira, 18 de maio de 2018

A mãe que sou devo-o a ti

Não sei de que modo amenizar a dor que me corrói por dentro, tento pensar que nada acabou, que ainda o tenho do outro lado da linha de cada vez que macaquito agarra no "telemóvel fixo" e liga o número de casa dos avós. O lado realista leva-me a pensar que já não o verei chegar de máquina fotográfica e câmara de filmar na mão para cada audição ou festa de fim de ano. Ontem tive vontade de chorar no ensaio de orquestra, engoli as lágrimas e puxei pela cabeça para me lembrar de qualquer coisa que me fizesse rir e evitasse ter de sair atabalhoadamente pelo meio das crianças que compõem o grupo. Lembrei-me de muitas histórias de quando eu era tão pequena quanto macaquito é agora, naquela altura em que as máquinas não eram digitais e todas as fotos passavam pelo escrutínio do fotógrafo lá da terra. Imagino que muito se havia de rir o Sr. Horácio com a falta de habilidade dos conterrâneos na arte de fotografar e com todas as coisas invulgares que lhe passavam pelos olhos. Como daquela vez em que rumámos a norte e passeámos por Trás-Os-Montes antes de seguirmos para o Gerês, num desses longos dias de aventuras que por mais anos que tenha nunca irei esquecer, não recordo bem se ainda tínhamos a Dyane ou o Visa 10E, fosse qual fosse seguia carregado até ao tejadilho e o espaço dava apenas para nos sentarmos encolhidos entre almofadas e roupa de cama, sei que descíamos uma estrada montanhosa onde não havia muita floresta e os rochedos ganhavam terreno às árvores vereda abaixo, a minha mãe teve de parar para fazer chichi, longe estava ela de saber que quando fosse buscar as fotografias ao Sr. Horácio, veria o seu rabo branco emoldurado por calhaus no meio de todas as outras fotos de má qualidade mas que ainda guardamos religiosamente. Parece que ainda a ouço, meio incrédula, meio histérica, de faces rosadas de vergonha ante o sorriso malandro do Sr. Horácio.
-Eu não acredito que o teu pai fez isto! - e nós ríamos a bandeiras despregadas perante a foto tirada às escondidas que permanece misturada até hoje com as outras dentro dos envelopes amarelados num saco de plástico velho cheio de boas recordações.

segunda-feira, 14 de maio de 2018

Nunca deixarei de me rir

Domingo passado foi a primeira comunhão ou "comunião", segundo macaquito (o que faz algum sentido...) da minha sobrinha. Eu não pude estar presente mas o relato dos acontecimentos chegou rápido, especialmente o do final da cerimónia, quando macaquito roubou o microfone da mão do padre e aconselhou todos os "comuniados".
-Desejo a todos um resto de bom dia, espero que tenham gostado e não se esqueçam de portar bem, fazer os trabalhos de casa e ajudar o senhor padre na igreja!
E depois o senhor padre tentou dar-lhe um abraço mas já não conseguiu porque ele raspou-se assim que percebeu que a avó estava a levantar-se para ir embora. 
Ela diz que não mas eu penso que estava a fingir que não o conhecia.

quinta-feira, 10 de maio de 2018

Até já...

E agora? Com quem é vou contar para fazer franjas perfeitas?
Recuso falar em qualquer pretérito, perfeito avô, perfeito pai, sempre presente, para sempre parte daquilo que somos. Certeza tenho apenas que sabes o quanto te amamos e que aquilo que o teu neto viveu contigo não serão apenas memórias, serão lições de vida que farão dele um homem tão grande como tu és!

terça-feira, 8 de maio de 2018

Do dia que tirei para chorar

Gostava que me repetisses a frase que durante anos me ecoou na cabeça de tão mal que me soou na altura "És intransigente na educação dos teus filhos!", provavelmente nem foi a frase, foi o tom com que a disseste. Das poucas vezes que te senti zangado comigo, esta foi uma delas. Agora sou eu que estou zangada, nunca contigo mas com a merda da vida que nos espetou o dedo do meio em cheio no focinho.
Não sei se mais alguma vez te zangarás comigo e com a minha intransigência, prometo dar-te carta branca para me desautorizares as vezes que quiseres, prometo que nunca mais te direi que os estragas com mimo, peço-te apenas que não desistas do teu amigo inseparável, não o saberei consolar.

domingo, 6 de maio de 2018

Ninguém se riu... ou disfarçaram muito bem

Sala de espera de uma consulta menos habitual, várias pessoas a aguardar, macaquito brinca no chão enquanto conversa comigo. De repente levanta-se, chega-se perto de mim e diz.
-Mamã, posso perguntar uma coisa?
-Claro! - respondo-lhe.
-Eu vou ter pêlos na pilinha?
-Sim, claro que sim. Faz parte do crescimento, os meninos ficam com pêlos na pilinha e as meninas no pipi. - reparo que todas as orelhas estão no ar mas continuo a conversa tranquilamente tentando mantê-la entre nós dois.
-Mas eu não quero.
-Pois mas vais ter, é normal. Não te preocupes, depois habituas-te.
Sai do pé de mim, volta para a sua brincadeira na outra ponta da sala e grita de lá para mim.
-EU NÃO QUERO TER PÊLOS NA PILINHA!