quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Ao primeiro olhar, quando trocámos um bom dia e um beijo, detectei-te uma ruga, logo ali, no canto do olho mesmo por cima daquela mais pequenina do ano passado. Devias franzir menos a testa, os amargos que te assolam têm tanto de incoerentes como de injustos, a vida tem-te sido madrasta, filha da puta mesmo, isso não é culpa de nenhum de nós e por isso devias franzir menos a testa. Já não sei ser gentil, já não sei consolar-te, já não consigo ser a tua melhor amiga, nem absorver as tuas dores, quando tudo o que queria era ter-te pequenino e poder embalar-te no colo, soprar-te os arranhões e dar-te outros olhos para poderes ver a vida, mesmo esta, filha da puta, da mesma forma que eu vejo. Conhecia-te gentil e inseguro, meigo e parco de palavras e intensamente divertido, sinto falta disso, sei que a vida, essa, a filha da puta, escondeu o melhor de ti mas também sei que não o levou, consigo vislumbrá-lo nos teus olhos quando brincas com os teus filhos. 
Espero que a solidão nos teus silêncios encontre companheira junto de mim, espero que os dias te sejam mais gentis, espero saber o que fazer e dizer para que te sintas mais feliz, espero tudo de ti que da filha da puta da vida já não espero grande coisa. Espero que franzas menos a testa que daqui a um ano não te quero contar outra ruga.

3 comentários:

  1. Oh, como compreendo este seu lindíssimo testemunho. Sinto-o na pele, mesmo...
    Somos todas diferente e todas iguais, nós, as Mães dos meninos que são iguais a si próprios (e maravilhosos, como todos os outros, cada um maravilhoso à sua maneira...)

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Dá cá bananinhas!