terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Inconveniente

À saída da piscina duas senhoras conversam animadamente perto da porta. Macaquito corre à minha frente e eu em passo acelerado tento acompanhar. Abre a porta, espera por mim, olha para as senhoras.
-Ah, muito bem, estão aqui a partilhar o vosso amoooorrrrrr!
As senhoras olham meio confusas e depois começam a rir. E eu, o do costume, um sorriso, um "desculpe, não ligue, está a brincar" e sair dali bem depressa  para me poder rir também.

domingo, 29 de janeiro de 2017

Alerta

Ainda estou enjoada, passaram uns quantos dias e ainda me custa falar nisto, faço por deixar aqui apenas os registos divertidos mas há coisas difíceis de guardar e espero apenas que sirva de alerta.
Passei com macaquito no supermercado, estávamos na zona de congelados e enquanto eu tirava umas coisas da arca, macaquito aguardava ao meu lado com o cesto. Por trás de mim, passa um senhor de idade com um carro e coloca-o do lado onde o miúdo estava, para o fazer dá uma espécie de abraço ao miúdo e roça-se todo nele. Levei cerca de 10 segundos a processar o que estava ali a acontecer, larguei os congelados para dentro do cesto e digo directamente àquela besta que não estou a entender o que está a acontecer. O fulano mete os olhos no chão e sem me responder continua imóvel, nesse momento fico com a certeza de que foi intencional, repito que não percebi bem o que aconteceu e que não torna a tocar no miúdo. Vou para a caixa toda a tremer e alerto a empregada de que aquele senhor não é de confiança e que teve um comportamento inapropriado com o meu filho.
Passou-me tudo pela cabeça, chamar a polícia ou a gerência mas na situação que foi ele podia alegar que nada aconteceu. Tenho a certeza que o conheço mas não sei de onde, o que me assusta ainda mais. Sinto que devia ter feito qualquer coisa, tenho agora consciência que nunca saberei lidar com situações destas.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Sonos

Fomos a uma festa em casa de uns amigos, daquelas festas que metem jantarada e rambóia noite dentro, sabia de antemão que ao levar macaquitos não poderia ficar até tarde pois macaquito não é daqueles miúdos de dormir em qualquer lado. Ele só dorme na cama, não obrigatoriamente a sua mas uma cama. Não dorme no carro, no sofá ou ao colo, consegue ludibriar o " João Pestana" duma maneira que nem eu consigo e habituado que está a deitar-se cedo, quando a coisa passa das 10\11 da noite faz-nos marcação cerrada para voltarmos para casa e claro, eu acabo sempre por ceder.
No dia da festa estava particularmente enérgico e muito social com as outras crianças presentes, o que foi óptimo até ao momento em que todos os putos, incluindo macaquita, caíram redondos pelos sofás. Tentei que fizesse o mesmo mas ele não deu tréguas e brincou sozinho até perto da 1 e meia da manhã. Nessa altura, disse para pai macaco que tínhamos mesmo de ir embora pois ele não ia quebrar e o dia seguinte seria um inferno se estivesse demasiado cansado, o que também se verificou.
A viagem para casa dura cerca de 25 minutos, ao fim de uns quilómetros deixou de falar, o pai estranhando o silêncio, achou que ele tinha adormecido e arriscou baixinho.
-Peewee, estás a dormir?
-Não estou a dormir, estou só de olhos fechados para descansar o cérebro.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Preguiça mental ou criatividade?

A propósito disto

Lembrei-me disto

 E de pensar naquela altura que era uma justificação bastante válida.


quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Empreendedorismo

Saímos da escola apressados pois tinha de passar no supermercado para comprar umas coisitas e tento sempre que ele faça os trabalhos antes de ir buscar macaquita para que o ambiente seja mais calmo e com o mínimo de motivos de distracção.
Compro tudo em dois minutos e dirigimo-nos para a caixa, na nossa frente apenas duas pessoas, macaquito vai para perto da funcionária e começa a desbobinar,
-Ooooh, minha senhora, adoro o som da sua caixa, onde a comprou? Posso ajudar esta senhora?- enquanto fala retira o talão da máquina e entrega à cliente em causa.- Aqui tem minha senhora, obrigado pelas suas compras.
A funcionária alinha na brincadeira e vai-lhe respondendo a tudo, sem nunca interromper o trabalho, no entanto, a fila aumenta consideravelmente atrás de mim e vem outro funcionário para a caixa do lado.
-Vai abrir a sua caixa? É a caixa número 2, não é? Fique descansado que eu vou ajudar.- nesse momento dirige-se para o meio do corredor num ponto bem visível.
-SENHORAS E SENHORES MUITA ATENÇÃO, A CAIXA N°2 VAI ABRIR. PODEM DIRIGIR-SE À CAIXA N°2, POR FAVOR.
A gargalhada foi geral e o funcionário que não conseguia parar de rir pergunta-lhe se ele não quer ir trabalhar com eles.
-Aaaah não, muito obrigado mas eu não posso, tenho de ir trabalhar para os correios dos CTT. Eles precisam lá de mim para conduzir a carrinha vermelha do spiderman.

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Difícil é sair sem me rir

Vamos beber um café na esplanada perto de casa porque é fim de semana, o pai ainda dorme e o sol que nunca nos chega a casa, bate de frente nas cadeiras e mesas alinhadas na varanda do café. Ali quase ninguém se conhece além do bom dia ou a conversa de circunstância, no entanto cada um senta-se onde estiver um lugar vago mesmo que isso implique estar na mesa de um desconhecido. Calhou-me ficar entre um senhor de idade que nunca vira antes e de uma vizinha do prédio do lado, que trocam umas palavras às quais não presto atenção. Aqueço as mãos na chávena e o calor do sol aquece-me os pés, dou uma espreitadela no jornal e os miúdos correm por ali, voltando apenas para irem largando os gorros e casacos. A meio das brincadeiras, macaquito tira dois segundos para cumprimentar todas as pessoas presentes. E de repente, sem apelo, nem agravo:
-Cavalheiro, porque é que está a olhar para a minha mãe?- atira sem perceber que o senhor está a conversar com a senhora duas cadeiras à frente e que só olha na minha direcção porque calha eu estar no "caminho", o senhor fica tão constrangido que só consegue balbuciar qualquer coisa imperceptível. Já eu, aproveito a deixa para me raspar de mansinho.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Sejamos cegos.

Deparo-me, pela milionésima vez, no feed do FB com uma publicação sobre crianças que não são convidadas para festas de aniversário e que são postas de parte nas mais diversas circunstâncias por serem diferentes. Estes posts acabam, invariavelmente com um "não partilhar, copie e cole no seu mural". E eu pergunto-me, para quê?
De que serve colar um rol de palavras se não lhes atribuirmos qualquer significado? Tenho a certeza absoluta que muitas das pessoas que tão bem sabem usar os comandos CTRL, sentem pouca ou nenhuma empatia quando o seu próprio bem-estar é posto em causa. 
Vamos ser determinantes, vamos ter coragem, a coragem de permitir que os nossos filhos cresçam indiferentes à diferença, que não a vejam, que a entranhem de tal forma que consigam alhear-se dela.
É um bocado utópico pensar que é possível mudar o mundo mas podemos ser um pouco egoístas e mudar o nosso mundo, aquele espaço pequenino que nos rodeia e onde temos acesso privilegiado.
Vamos dizer às nossas crianças que o lápis cor de pele pode ser de muitas cores, que a miúda a quem não deram a mão na aula de ginástica e que tem um olhar esquisito, é igualzinha a todas as outras e só queria uma mão e que o miúdo que se comporta de forma estranha, está apenas a ser criança e não sabe ser criança doutra maneira. 
Não presumo que estas minhas palavras cheguem muito longe, espero apenas criar algum desassossego nas consciências, assumamos que ninguém é perfeito, que todos temos inseguranças medos e defeitos e que isso não tem mal nenhum. 
E se o defeito for visível a olho nu... sejamos cegos.





Volte-face

Graças às actividades extra curriculares que os miúdos não frequentam mas que são no meio do horário lectivo, há uns quantos dias por semana que macaquito sai primeiro que a irmã. O que para mim se revelou uma grande chatice, para ele é a oitava maravilha do mundo porque assim tem a mãe só para ele e eu faço questão de o deixar escolher o que fazer nesse tempo, sempre que possível.
-Mamã, podemos ir passear?
-Tens trabalhos?
-Não!
-Onde queres ir?
-Ao castelo!
-Ok, vamos mas tem de ser um passeio rápido.
Fizemos o passeio habitual, que costuma demorar mais de uma hora, em apenas quinze minutos, tendo em conta que todos os caminhos a descer e as escadas são feitos com ele ao colo, quando cheguei ao fim estava pronta para ser amortalhada. Rimos a bandeiras despregadas com todos os disparates que dizíamos e fazíamos, as pessoas que desfrutavam da paisagem por ali, riam-se de nós e das nossas macacadas e no final fomos tirar fotos, a pedido dele, no banco em azulejo onde sempre que lá vamos tiramos fotos a pedido dele.
A caminho do carro diz-me que não quer ir buscar a irmã, que ela fica na escola, discurso habitual sempre que está sozinho comigo. Digo-lhe que temos de ir e começa a chorar e a gritar. Entramos no carro e ele fica cada vez mais nervoso, percebo que se não puser travão naquele momento, vou ter uma "birra" até à hora de deitar.
-Macaquito, a ver se nos entendemos. Pediste-me para vir passear e eu vim contigo sem sequer verificar a mochila porque tenho a certeza que tens trabalhos de casa, demos a volta ao castelo como me pediste apesar de te ter dito que não tínhamos tempo, dói-me a barriga de rir com todas as parvoíces que fizemos e tenho a certeza que a tua também, por isso não acredito que estejas a fazer uma birra por causa da mana. Tenho a certeza que estás super feliz e não sei porque estás a chorar. Estás a ser injusto e vou ficar triste contigo. Como é? Vamos buscar a mana com um sorriso? Ou sim ou sopas!
-Sim Sopas, vamos buscar a mana.
-Tu acabaste de me chamar Sopas?
Novo ataque de riso e um dia perfeito até à hora de deitar.


terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Sorriso amarelo

Ontem fui ao talho, até aqui tudo normal, não fosse ter decidido ir depois de ir buscar macaquitos à escola, sabendo de antemão que macaquito sempre que entra no talho do Jaquim, (nome fictício) faz questão de mencionar bem alto que "bom, bom é o talho do Manel", apenas três portas acima e no qual nunca entrei. 
-Macaquito, temos de ir ao talho, só te peço uma coisa: não comeces a falar no outro talho que não é uma coisa muito simpática de se dizer. 
-Sim, mamã, prometo. Não vou dizer nada.
Páro no estacionamento, ponho moedas no parquímetro e quando chego ao talho, estava fechado.
-Estás cheio de sorte, finalmente vais poder ir ao talho do Manel. O Jaquim está fechado, por isso vamos já ali.
Entramos no talho, macaquito faz a apresentação habitual, pergunta o nome ao talhante e fica muito surpreendido quando percebe que Manel é só o nome do talho e não de todas as pessoas que ali trabalham. Fala, fala, fala e pergunta tudo e mais alguma coisa sobre a carne, a decoração, as portas, os outros clientes, deixando o funcionário vermelho de rir com tanto disparate. Quando estamos quase , quase a vir embora, dá a estocada final.
-Sabe, a minha mãe não gosta de vir aqui, vai sempre ao talho do Jaquim mas hoje estava fechado!

segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Macaquito o filósofo... profissional

Senta-se ao meu lado no sofá e pergunta-me:
-Mamã, qual é o sentido da vida?- associei com qualquer coisa que estava a ver na TV mas respondi na mesma.
-Então isso depende de pessoa para pessoa, tem a ver com aquilo que é realmente importante para cada um. Para mim o sentido da vida é ver-te a ti e à mana felizes.

-Ah!Ok.
Foi para a cozinha e perguntou o mesmo ao pai, não consegui ouvir o que o pai disse mas pela velocidade com que voltou à sala suponho que a resposta não tivesse sido satisfatória. Pegou no ukelele, voltou para a cozinha e enquanto tocava, pergunta de novo ao pai.

-Pai, o sentido da vida pode ser tocar guitarra?
-Ó Macaquito, o sentido da vida é fazer o que tu gostas.- diz macaquita intrometida.
-Cala-te! Isto é uma conversa para profissionais.