terça-feira, 31 de maio de 2016

Insónia

Ali entre a uma e as duas da manhã ouço passos, passos pequeninos e sorrateiros. Que nem cão de guarda, levanto a orelha para perceber qual dos dois era, nem esperei dois segundos.
-Mamã, não te preocupes. Vou só fazer chichi e já me deito ao pé de ti. - atira bem alto na porta do meu quarto.
Pensei para mim que se o ignorasse, ele voltava para a cama dele. Claro que me enganei, chegou-se à beira da cama e sussurrou "mamã", fingi dormir. Sem pudor, nem cuidado, trepa por cima de mim e alapa-se no meio da cama, puxa dos cobertores, afinca com os joelhos no meio das minhas costas e boa noite. Não sossega mais de dez minutos seguidos e por volta das seis da manhã, começa a espirrar, dá mais de trinta espirros seguidos, não dormi mais. De manhã disse-lhe que não podia vir a meio da noite para a minha cama, a regra é ao fim de semana e já de dia.
-Como é macaquito, cada um... -  não me respondeu. -Estou à espera, cada um...

...

...

... 

- ... na sua cama. Mas eu estava sozinho e desconfortável.

A mais...

Uma amiga liga-me a dizer que ia passar lá em casa, quando a campainha toca peço a macaquito que vá abrir e ouço-o no intercomunicador.
-Aaahhhh M. tu és a mais bonita do mundo. - diz assim que a vê no vídeo porteiro.
Passados uns dias, estava eu a ligar a outra amiga, ele pede-me o telefone para falar com ela.
-Ó V. tu és a mais doce do mundo inteiro. 
À noite encontramo-nos todos e comentávamos estas divagações dele e eu digo-lhe em jeito de brincadeira.
-Não percebo nada disto, a M. é a mais bonita, a V. a mais doce e eu? Onde é que eu fico no meio disto tudo?
-Então?! Tu és a mais fofa!
O meu pequenito está de volta.

segunda-feira, 30 de maio de 2016

O meu momento "loira"

Uma altura qualquer que macaquito apanhava viroses e gastroenterites de semana a semana e estava com o peso muito abaixo do normal, calhou termos consulta em Lisboa e como habitualmente lá vou eu aproveitar para para ir a uma loja de produtos sem glúten e afins para encher a despensa. Ao entrarmos, ele vê um segurança e vai cumprimentá-lo, o senhor brinca com ele e diz:
-Estás magrinho pá, até se vêem os ossos.
-Pois tadito, tem andado adoentado. - digo eu muito inocente. O senhor ri-se e vai lá à vida dele.
Passado cerca de uma semana, estava eu já na cama, a revirar as minhas coisas neste pequeno cérebro quando me lembro desta conversa e me dá um ataque de riso. O motivo da piada está na camisola que macaquito vestia naquele dia. 



domingo, 29 de maio de 2016

Desafinados

Festa de aniversário de um amiguinho, como sempre, quando começam a cantar os parabéns, deita-se num sofá e começa a chorar. Vou ter com ele para o acalmar e ajudar a tapar os ouvidos. Quando acabam, diz muito zangado.
-Estou farto disto. Porque é que sempre que venho a uma festa de anos têm de cantar os parabéns?

terça-feira, 24 de maio de 2016

Uma dose de esperança

Sento-me na soleira da porta, não me consigo decidir se saio para apanhar sol ou se me fico por ali, naquilo que se assemelha a um reduto. No entanto, não me sinto protegida, quero sair daqui mas as lajes que ladeiam a relva são como buracos negros, ponho o pé e desapareço no espaço. Inconstância, demasiado sentido de responsabilidade e uma solidão imensa. Quero proteger-te, saber o que te toma os humores, o porquê das birras, da agressividade, dos terrores e pesadelos nocturnos, fui tomada pelo cansaço, falta-me a resiliência, gritei contigo e com ela, nunca gritei assim, nunca me senti assim.
E quando me acusam de viver para vós, eu não sinto culpa, sinto culpa do espaço onde me encontro agora, vago, sem perspectiva e com alguma desilusão. O mesmo espaço onde reina quase sempre a alegria e serenidade, está cheio de monstros e de nuvens escuras que me perturbam os sentidos e a assertividade.
Recebi no e-mail uma dose de esperança, espero que seja só isso porque estou esgotada e cansada de me zangar. Respiro finalmente de alívio.

domingo, 22 de maio de 2016

No século XV





A princesa e o burro


A princesa no burro


A princesa e a caturra encantada


A princesa espadachim e o ermitão

quinta-feira, 19 de maio de 2016

Não se faz

Dividido entre ficar com o pai no trabalho ou ir comigo buscar a irmã, lá se decidiu que ia comigo.
-Vá, despede-te de todos mas despacha-te que já estamos atrasados.
Demora todo o tempo do mundo nos apertos de mão, vai ter com o pai e põe-se na treta, eu não conseguia perceber o que diziam mas apressava-o da rua. Percebo que o pai o manda embora, sai disparado, visivelmente indignado e diz bem alto.
-É assim que tu me tratas, pai?

Preocupações

Ao telefone com o avô:
-Então avô, já te sentes melhor?
-Um bocadinho, estou quase bom.
-Diz-me que sintomas é que tens?
-Estou mais tonto.
-Já consegues fazer tudo?
-Já faço tudo mas mais devagarinho.
-Não te preocupes avô, eu carrego-te às cavalitas.

domingo, 15 de maio de 2016

Sarugas e dentes-de-leão



Esfrega, esfrega, esfrega.

Quantas namoradas?
O teu pai é careca?

sábado, 14 de maio de 2016

Na farmácia

Macaquito raramente se engana com palavras mesmo quando lhes troca o significado, ele corrige crianças e adultos sem pudor. Raramente deixa impune uma má pronúncia da irmã ou um plural mal formulado. Por isso, hoje, quando se saiu com esta não consegui conter o riso.
-Macaquita, anda vamos àquela máquina para nos pesarmos. E depois pedimos à senhora do balcão para medir a intenção arterial.

sexta-feira, 13 de maio de 2016

Gestão de ausência

-Como o papá hoje não está, podemos dormir na tua cama?
-Como hoje se portaram particularmente bem, podem. 
Ela adormeceu no sofá muito antes da hora de dormir, fruto talvez das duas vacinas que aguentou estoicamente e que lhe fizeram doer os braços todo o dia, o que não invalidou que eu cumprisse a promessa e a deitasse na minha cama. Deitei-o um pouco depois no lugar do pai e reparei que não parava de esfregar os olhos.
-Tens comichão? Não podes esfregar assim os olhos.
-É uma lágrima de saudade do pai.
-O pai amanhã já cá está. 
-Ao almoço?
-Não, só à noite mas ainda vos vê acordados. Vá, dorme.
-Não consigo dormir.
-Consegues, se fechares os olhos.
-Mas se eu fechar os olhos não posso olhar para ti.
-Mas se fechares e adormeceres, podes sonhar comigo.
Dois minutos e um suspiro, adormeceu a sorrir.

terça-feira, 10 de maio de 2016

Preciso de tempo e de dormir

Chegáramos a casa havia 10 minutos, tinha banhos para dar e o jantar para acabar, macaquito não tinha terminado os trabalhos de casa na academia, logo, fazer 5 tabuadas ia tomar-me no mínimo meia-hora, caso estivesse bem-disposto. Enquanto me descalçava fazia as contas ao tempo, ouço a campainha, tive um secreto anseio que pai macaco se tivesse esquecido das chaves porque a esta hora campainha significa sempre o mesmo, comerciais de empresas de telecomunicações. Bingo
Sem problema, penso, despacho-o em trinta segundos mas Macaquito abrira a porta e já falava que nem uma grafonola quando cheguei.
-Macaquito, vai para dentro, prepara as coisas para terminarmos os trabalhos.
-Espera mãe, tenho de falar com o senhor. - entre gestos  e sussurros tentei dizer  que se lhe desse atenção ele nunca mais se calava, o atencioso rapaz respondeu-me que não fazia mal, que tinha tempo. Tempo, exactamente o que eu não tinha.
-Vês mãe, posso falar! Então porque está aqui? Quantas portas já foi? Já foi aos outros prédios? E nesta porta já bateu? Mostre-me o seu cartão! Já tem muitos clientes? A minha mãe já é cliente mas da Vodacoiso. Também tem telemóvel e o meu pai também... A minha mãe não é senhora, é FULANA DE TAL  e Tal e tal ( não é senhora???? Aqui, confesso que fiquei indignada). O número dela é ... e do meu pai e da minha avó... no telefone da minha mãe "casa pais" está num quadrado vermelho e o do pai é verde e ...e ...e....e ....
Este miúdo recorda-me Funes, o memorioso, recorda mil coisas mas parece que não sabe pensar.
Omito aqui as respostas, por motivos óbvios de falta de tempo,  Só que no meio disto tudo eu tentava entrecortar aquele discurso com uns desculpenão preciso de outro serviço, não tenho muita disponibilidade e o comercial ia tirando uns nabos da púcara, macaquito não dava tréguas e tive de o mandar embora para a sala. Agarrou-se o moço àquela pausa e com mestria disse-me que agora tinha de lhe dispensar 5 minutos e eu dispensei, acho que foram 15, venceu-me pelo cansaço que eu já estava por tudo. Aparece-me entretanto macaquita com a sua pequenina cadeira empalhada e senta-se à porta qual moderadora de debate. Nunca me tinha deixado enganar por um comercial, normalmente faço-o sozinha e em plena consciência mas por linha telefónica. Dei-lhe o meu número de telefone, provavelmente mudarei de operador mas ontem juntámos o jantar com a hora de dormir e só houve tempo para uma história.

quinta-feira, 5 de maio de 2016

quarta-feira, 4 de maio de 2016

Modas

Estão a ver as calças da moda? Aquelas com um rasgão no joelho que se vendem já assim? Pois esta manhã, ao baixar-me para tirar uma peça de roupa na última gaveta da cómoda de macaquito, ganhei umas calças assim. Tudo bem, já não vou trocar isto, mal se vê. 
De tarde, desloquei-me com macaquito a uma consulta de fisiatria e enquanto aguardávamos que o chamassem, conversávamos e fazíamos uns jogos, até que ele sai do meu colo e repara que tenho as calças rotas  da moda.
-Mãe, olha as tuas calças, como fizeste isso?
-Foi em casa, não faz mal, a mãe logo troca.
-Tens de pôr cola.
-Ok, eu logo trato disso.
Lá foi à vida dele, achei eu que tinha ido brincar, até ouvir alguém perguntar, "então onde está a mãe?". Aparece-me uma terapeuta com um rolo de fita adesiva e eu a explicar que não era preciso e a senhora a achar que eu tinha ficado meio nua e o meu filho a dizer, "sim, sim que não podes andar por aí rota" e todas as pessoas na sala de espera a escrutinar-me de cima abaixo para ver onde estava o buraco e eu à procura de um buraco para me enfiar.

terça-feira, 3 de maio de 2016

Ao provedor da blogosfera - presentes sem talão de troca


Macaquito ofereceu-me um vestido bonito que quase me serve. O lencito, visto estarmos na época das alergias pode dar jeito. Estou verdadeiramente surpreendida com a escolha de cores e padrão e embevecida com as palavras bonitas que me deixou no avesso.

Da mais nova recebi este espelho com uma mensagem bonita (e verídica). Muito funcional e excelente para o ego. Antes de abrir a tampa, pergunto:
"Espelho meu, espelho meu, há alguma mamã mais bela do que eu?"
Abro a tampa e Tcharaaaammmmmm!













domingo, 1 de maio de 2016

Dia de nós

Olho para mim quando era pequena e acho que fui feliz, às vezes nem tenho bem certeza porque tenho memórias que não defino, não lhes encontro albergue. A minha mãe ensinou-me como ser a mãe que sou hoje, ela que não foi nem de perto, nem de longe a melhor mãe do mundo. Ditou-me o caminho de tudo o que não sou. Estas palavras dedico-lhas com carinho porque nos amou incondicionalmente mas não sabia ser diferente, com ela era sempre não, não fazes, não podes, não vais, não deixo, hoje percebo que era por medo, por não saber fazer melhor, por ter medo de nos perder, nem sei bem porquê.
Faço do dia da mãe, o dia do pai que o meu, foi pai e mãe. Ficou-me a lição, sou mãe e pai mais vezes do que desejava. À minha mãe digo-lhe que no papel de avó é simplesmente maravilhosa e isso enche-me de orgulho. Ao meu pai, não lhe perdoo o susto que nos pregou e que fez deste dia de nós um dia um bocadinho mais triste. Aos meus filhos não lhes digo aqui nada, sussurro-lhes ao ouvido a cada adormecer o quanto os amo e eles retribuem com sorrisos e um "eu também". De hoje fica-me a frase de macaquito "eu quero que o avô melhore!" assim, com ponto de exclamação, eu também! Hoje foi dia de nós porque é nesta família que sou mais mãe e sou mais filha e somos todos uns dos outros.