terça-feira, 5 de abril de 2016

Uma espécie de passatempo #resultado


Acabo esta espécie de passatempo como comecei, com uma história.
Estávamos a acabar de almoçar com amigos quando os miúdos chegaram dos avós, os meus pais vieram ter connosco e ficaram por  ali um pouco. Macaquito estava ansioso para ir para casa, pediu-me por várias vezes para irmos embora, fomos protelando porque a conversa estava boa e a imperial também. A dada altura, pai macaco pediu-lhe que fosse pedir 3 imperiais, habitualmente gosta de fazer recados, desta vez respondeu torto. Olhei para trás e percebi pela postura corporal que a coisa ia correr mal, fui atrás dele e cheguei a tempo de ouvir.
- São 3 imperiais, ó... - ficou-se pelo "Ó" mas o tom de voz foi brusco. Segurei-lhe no braço para que me ouvisse, não o justifiquei mas pedi desculpa ao senhor que, com um sorriso genuíno, me disse que não fazia mal. Levei-o para a mesa e pedi-lhe que me explicasse aquele comportamento, quando o senhor voltou, macaquito pediu desculpa e o senhor reiterou que não era necessário.
Eu sei o que aconteceu, percebi-o imediatamente pela postura corporal cerrada, dedos das mãos retorcidos, entendeu que não iria logo embora quando lhe pedimos que fosse ao balcão, descarregou a frustração no empregado porque não se consegue conter. Ele distingue o certo e o errado mas não consegue controlar a parte emocional da mesma forma que uma criança neurotípica. Nunca admitiria este tipo de comportamento à irmã e ela sabe-o, sabe também o porquê da diferença e aceita-o.
Esta história é igual a muitas outras, diferenças comportamentais que raramente são aceites numa criança de 8 anos, ou mais, que não tenha uma deficiência física visível, a diferença é que nesta história o verdadeiro protagonista foi o empregado que não julgou, percebeu o meu embaraço e aquietou-me com um sorriso.
O autismo não se vê, não anda de cadeira de rodas, não tem um olhar diferente. Os pais e cuidadores de autistas são gente que sente como toda a gente. Têm família, têm amigos e têm vidas para viver fora de 4 paredes, não precisam de julgamentos de pessoas perfeitas, cheias de moral e de ensinamentos bacocos. A consciencialização é importante, a aceitação é primordial.

O vídeo não é meu, podia ser, já me aconteceu... tantas vezes!

Para todos vocês que riscaram este blog ainda mais de azul, obrigada por fazerem a diferença. Linda e Uva sinto-me comovida e lisonjeada. A votação não foi democrática, as opiniões divergiram tanto que a decisão foi ditatorial. O voto de qualidade foi meu e eu decidi que a grande vencedora é a Mironinho.

2 de Abril - Dia Mundial da Consciencialização do Autismo



24 comentários:

  1. estou a aprender como posso ser uma madrinha útil. como nunca esperei o "normal" (e gosto daquele jeito próprio dele, aquele olhar diferente sobre as coisas), tem sido mesmo muito bom. os pais - tal como tu e o teu marido - têm sido incansáveis. o pai demorou mais tempo a aceitar(se) que a "culpa" não era sua, a mãe - doce mãe - percebeu rapidamente que não havia culpas, "apenas" um filho para amar e cuidar. adoro-os.

    um beijinho para ti, querida Be.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Eu tive o diagnóstico de autismo já tarde mas aos 5 dias ele foi diagnosticado com uma doença rara, aos 5 meses descobrimos que era quase cego, teve suspeitas de um tumor no cérebro entre muitas outras suspeitas e diagnósticos, apesar do choque em todas as ocasiões a minha pergunta era " o que é que há para fazer?". A aceitação é o primeiro passo, depois é amor.
      Importante é haver pessoas como tu, que amem estes meninos especiais e que tenham um ombro para os pais quando eles mais precisam. Que os entendam, acima de tudo. E lhes dêem uma folga... ;)
      Beijos

      Eliminar
    2. querida Be... olha, fico sem palavras.

      (e, acredita, é muito bom ler-te. tem-me ajudado imenso)

      Eliminar
  2. Retenho isto, que é uma grande frase.
    «O autismo não se vê, não anda de cadeira de rodas, não tem um olhar diferente. A consciencialização é importante, a aceitação é primordial.»

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Não havendo uma cicatriz é mais difícil perceber a maleita.

      Eliminar
  3. Oh...
    Faz lá a vontade ao macaquito, afinal isto tudo começou com a sua forma diferente de ver o mundo.


    (mas fico muito orgulhosa pela Mironinho)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Eles não se conseguiam decidir. Estavam quase no pim pam pum...

      (Mandei um mail)

      Eliminar
  4. Gostei de acompanhar o passatempo, apesar de não ter participado.
    Mais do que consciencializar as pessoas, haveria que conscientizá-las (eu sei, parece quase a mesma coisa, mas não é)

    Tudo de bom para ti e para os teus piquenos :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Engraçado, no Brasil diz-se conscientização do autismo. Em português de portugal, julgo ter o mesmo significado.

      Obrigada por estares daí a espreitar

      Eliminar
    2. Conscientização e Consciencialização tem dois significados distintos.
      A primeira significa tomar consciência e a segunda ter uma consciência plena, único ponto em que os significados divergem, porque em todos os outros possíveis significados são sinónimas.
      (aquilo que um gajo aprende quando se põe a escrever romances e anda à procura de um título...)

      Ambas em Português de Portugal :)

      Eliminar
    3. Obrigada pela elucidação, tens razão quando dizes que a segunda faz mais sentido.
      Depois quero saber desse livro.

      Eliminar
    4. Pá, desculpa, mas comentários escritos num flash dá buraco. Inverti os significados. Conscientização é ganhar uma consciência plena de algo!
      Assim é que está bem!

      Basta pores a palavra e o meu nome no google e dás com ele na wook, bertrand, fnac...

      :)

      Eliminar
    5. Ler no tlm também. Eu assumi bem, apesar de teres invertido a explicação porque levei em conta o primeiro comentário.

      Eliminar
  5. Se vai para a Mironinho, tudo bem!!!! ;) beijos

    (A minha conscientização deve-se à tua pessoa, fica sabendo!)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Queremos crianças felizes ;)

      (Hoje a NM, amanhã o mundo!!!)

      Eliminar
  6. Olá Be,acabei por não participar neste teu desafio. Esqueci-me. Estas últimas semanas foram um vendaval, de coisas boas e de outras menos boas, connosco e à nossa volta (desculpas de mau pagador eu sei...)
    A história do teu Macaquito, revejo-a no meu Xande, não com pessoas de fora, mas sim com quem mais gosta. Sabe que o comportamento é errado, mas não consegue controlar-se. Já foi muito pior, tem melhorado imenso.
    Vi o vídeo e revi muitas coisas do passado, não com tanta intensidade, mas muitas vezes com direito àqueles olhares maravilhosos.
    Beijinhos Be, adoro vir aqui ao teu cantinho, faz-me sempre muito bem.

    ResponderEliminar
  7. Também ando sempre a mil, compreendo bem.
    Ai os olhares... conheço-os bem, aprendi a ignorá-los!!
    Beijos aos dois :))

    ResponderEliminar
  8. Sabes o que retenho da tua história?! Que macaquito tem uma Grande Mãe!
    Gosto de te vir aqui espreitar ;)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Já não sei o que dizer a tanto carinho, obrigada por vires ;)

      Eliminar
  9. Ohhh, Be... O meu querido Asperguer tem 19 anos, entrou na Universidade este ano, no que queria (Economia, na Nova, todos nós tão felizes!), e... too much information!!!
    Foram demasiadas mudanças ao mesmo tempo, demasiados estímulos, demasiadas coisas e pessoas novas, sofreu como nunca tinha sofrido (diz ele), escondeu tudo dentro dele muito escondidinho e quando nos apercebemos que algo não estava bem tivemos que arrancar tudo aos bocadinhos com muita paciência, cuidado, mimo, amor. Tem 19 anos, 1,95 de altura e cara de puto que disfarça com uma barba mal cuidada.
    Quando lhe pedimos desculpa por não termos percebido que ele estava em sofrimento, respondeu: "Não faz mal, Mãe, sabe, eu acho que tinha que passar por isto..." . Pois é, crescer dói.
    Recomeçou a terapia com um terapeuta novo, quando se sentiu preparado, e lá está de novo a fazer o seu caminho, a correr bem, a estudar e a começar a obter resultados do seu esforço.
    Vi o vídeo, e desatei a chorar. Precisava, Be, só agora percebo o quanto precisava de chorar. Obrigada por me ouvires. E compreenderes.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Patty, fiquei emocionada com o comentário. Gosto que as pessoas partilhem as suas histórias da mesma forma que eu o faço, o objectivo é tirar o bom que elas têm. Da tua história retiro que ele chegou à Universidade e que apesar de tudo, deu a volta por cima e continuou caminho. O teu colo é precioso, tenha 9 ou 19 :)
      Eu também choro o meu quinhão mas os momentos de felicidade são os que guardo comigo.
      Obrigada eu, beijinho

      Eliminar
  10. Não deu para participar mas não quis deixar de vir aqui mostrar o meu apreço por este blog fantástico! Go Be! <3

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Obrigada, por estares desse lado, é uma participação mais que válida.

      Eliminar
  11. Querida Be, obrigada pela tua resposta. Respondi-te com um comentário sentido e inspirado, fartei-me de escrever, entusiasmei-me e... o iCoiso ficou sem bateria e perdi tudo o que contigo partilhava! E como já o tinha escrito, não o consigo voltar a escrever... Desculpa...
    Mas era de como o amor, a aceitação incondicional e o verdadeiro respeito pelo individuo que cada um dos nossos filhos é (com diagnóstico ou sem diagnóstico) fazem toda a diferença, na vida deles e na nossa.
    Sim, o nosso rapaz está a dar a volta. Ao ritmo dele e sem pressões. E sim, Be, os momentos bons são o que conta, são o que fica! E são tantos, não são? :D

    ResponderEliminar

Dá cá bananinhas!